domingo, 24 de março de 2013

Chico e Kardec, dois gigantes, porém distintos


Aos lúcidos argumentos e informações que já foram publicados na revista “O Consolador” sobre a verdadeira identidade de Chico Xavier, não podemos deixar de adicionar os fatos e comentários que Eduardo Carvalho Monteiro nos ofereceu em seu livro Chico Xavier e Isabel, a Rainha Santa de Portugal, obra publicada pela editora Madras.
O livro traz um resumo biográfico de Chico Xavier e da rainha Isabel de Aragão, considerada a Rainha Santa de Portugal. Chico registrou a presença dela nos primeiros momentos de sua tarefa mediúnica, ocasião em que trazia consigo forte influência de sua formação católica. Isabel de Aragão o incentivou à prática da caridade e disse-lhe que no futuro ele poderia ajudar inúmeras instituições com os recursos das publicações literárias, fato que realmente se deu com a doação dos direitos autorais de todas as suas obras mediúnicas.
O próprio médium já havia relatado, anteriormente, como iniciou suas lides no campo assistencial, conforme podemos ler no livro Chico Xavier - Mandato de Amor, publicado pela União Espírita Mineira.
Eis como Chico Xavier se referiu ao seu primeiro encontro com a rainha Isabel de Aragão, ocorrido em 1927:
"Tudo seguia em ordem, quando na noite de 10 de julho referido, dois dias depois de haver recebido a primeira mensagem, quando eu fazia as orações da noite, vi o meu quarto pobre se iluminar, de repente. As paredes refletiam a luz de um prateado lilás. Eu estava de joelhos, conforme os meus hábitos católicos, e descerrei os olhos, tentando ver o que se passava. Vi, então, perto de mim uma senhora de admirável presença, que irradiava a luz que se espraiava pelo quarto. Tentei levantar-me para demonstrar-lhe respeito e cortesia, mas não consegui permanecer de pé e dobrei, involuntariamente, os joelhos diante dela.
A dama iluminada fitou a imagem de Nossa Senhora do Pilar que eu mantinha em meu quarto e, em seguida, falou em castelhano que eu compreendi, embora sabendo que eu ignorava o idioma, em que ela facilmente se expressava:
– Francisco – disse-me pausadamente – em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, venho solicitar o seu auxílio em favor dos pobres, nossos irmãos.
A emoção me possuía a alma toda, mas pude perguntar-lhe, embora as lágrimas que me cobriam o rosto:
– Senhora, quem sois vós?
Ela me respondeu:
– Você não se lembra agora de mim, no entanto eu sou Isabel de Aragão.
Eu não conhecia senhora alguma que tivesse este nome e estranhei o que ela dizia, entretanto uma força interior me continha e calei qualquer comentário, em torno de minha ignorância. Mas o diálogo estava iniciado e indaguei:
– Senhora, sou pobre e nada tenho para dar.  Que auxílio poderei prestar aos mais pobres do que eu mesmo?
Ela disse:
– Você me auxiliará a repartir pães com os necessitados.
Clamei com pesar:
– Senhora, quase sempre não tenho pão para mim. Como poderei repartir pães com os outros?...
A dama sorriu e me esclareceu:
– Chegará o tempo em que você disporá de recursos. Você vai escrever para as nossas gentes peninsulares e, trabalhando por Jesus, não poderá receber vantagem material alguma pelas páginas que você produzir, mas vamos providenciar para que os Mensageiros do Bem lhe tragam recursos para iniciar a tarefa. Confiemos na Bondade do Senhor.”

*

O relato acima é bem significativo por elucidar um aspecto importantíssimo da obra de Chico Xavier, que foi sua reconhecida dedicação aos mais pobres. Mas acentua também uma vinculação anterior com a Rainha de Portugal e uma forte ligação do médium com a doutrina e os hábitos católicos.
É por isso que, corroborando as palavras de Americo Domingos Nunes Filho, Paulo Neto, Dora Incontri e tantos outros, também entendemos que o fato de o Espírito de Chico Xavier não ser aquele que animou Kardec não o deprecia de forma alguma, uma vez que, apesar de todas as dificuldades que enfrentou, foi um missionário vitorioso e de importância fundamental à expansão do conhecimento espírita no Brasil e também no exterior.
Chico e Kardec foram e certamente são dois gigantes, ninguém o ignora, mas individualidades distintas e inigualáveis.


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