sábado, 2 de março de 2013

Pérolas literárias (25)


Depois da morte

Antero de Quental


Depois de extravagâncias de teoria,
No seio dessa ciência tão volúvel,
Sobre o problema trágico, insolúvel,
De ver o Deus de Amor, de quem descria,

Morri, reconhecendo, todavia,
Que a morte era um enigma solúvel,
Ela era o laço eterno e indissolúvel,
Que liga o Céu à Terra tão sombria!

E por estas regiões onde eu julgava
Habitar a inconsciência e a mesma treva
Que tanta vez os olhos me cegava,

Vim, gemendo, encontrar as luzes puras
Da verdade brilhante, que se eleva,
Iluminando todas as alturas.


Antero de Quental nasceu na ilha de São Miguel, nos Açores, em 1842, e desencarnou por suicídio, em 1891. É vulto eminente e destacado nas letras portuguesas, caracterizando-se pelo seu espírito filosófico. O soneto acima, psicografado pelo médium Chico Xavier, integra o Parnaso de Além-Túmulo.


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