quarta-feira, 3 de abril de 2013

Talismãs


GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
De Goiânia-GO

O Dicionário Caldas Aulete eletrônico define talismã:
“s.m. 1. Objeto supostamente dotado de certos poderes, us. para dar sorte: Usava um colar peruano como talismã. [Cf.: amuleto.]
2. Fig. O efeito produzido pelo poder mágico desse objeto; ENCANTO; ENCANTAMENTO
3. P.ext. Tudo que tem efeito repentino e fantástico. [F.: Do fr. talisman.]”

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“Qual pode ser o efeito das fórmulas e práticas mediante as quais certas pessoas pretendem dispor da vontade dos Espíritos?
O de torná-las ridículas, se procedem de boa-fé. (...) Não há nenhuma palavra sacramental, nenhum sinal cabalístico, nenhum talismã que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porque estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais.” (1)
“Aquele que, com ou sem razão, confia no que chama a virtude de um talismã, não pode atrair um Espírito justamente por essa confiança, (...)?
(...) essa crença denuncia uma pequenez e uma fraqueza de ideias que favorecem a ação dos Espíritos zombeteiros e imperfeitos.” (1)

Ou seja, o talismã, usado para proteção, tem efeito contrário.
Alguns seres humanos alimentam crendices e superstições que lhes assegurem soluções mágicas: saúde, boa sorte, e até mesmo fortuna, através de heranças ou mesmo das múltiplas loterias.
Uns portam patuás, pés de coelho, bentinhos; outros fazem ‘votos’, cumprem promessas e dolorosas penitências.
São crendices alimentadas pelo povo ao longo do tempo, que passam de gerações a gerações. E, para nossa surpresa, prosperam não apenas em meio à gente simples, mas também entre letrados, sem ‘maturidade do senso moral’!
A Doutrina Espírita nos esclarece quanto à necessidade de corrigir vícios físicos e mentais; renovar a conduta, com a prática do Bem, o cultivo da oração, a aquisição de virtudes, para evoluirmos de forma consciente.
Esse conjunto de fatores conduz-nos à pacificação da mente e à confiança crescente nos desígnios divinos.

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Na Revista Espírita de setembro/1858, pp. 393 a 395, há interessante artigo sobre esse tema, com o título: Os Talismãs – MEDALHA CABALÍSTICA. (2)
Nele se diz que um senhor comprara uma medalha com vários sinais gravados nas duas faces, dispostos de modo cabalístico. Médium sonâmbula afirmou que ela “tinha o poder especial de atrair os Espíritos e facilitar as evocações”.
Pediu ao Codificador sua opinião sobre ela e que interrogasse um Espírito superior, sobre seu real valor.
Allan Kardec respondeu-lhe: (2)
“Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento, e não pelos objetos materiais, que nenhum poder exercem sobre eles. Em todos os tempos os Espíritos superiores têm condenado o emprego de sinais e de formas cabalísticas, de modo que todo Espírito que lhes atribuir uma virtude qualquer, ou que pretender oferecer talismãs como objeto de magia, por isso mesmo revelará a sua inferioridade, quer quando age de boa-fé e por ignorância, em consequência de antigos preconceitos terrestres de que ainda se acha imbuído, quer quando, como Espírito zombeteiro, se diverte conscientemente com a credulidade alheia.
(...)
Quem quer que tenha estudado racionalmente a natureza dos Espíritos não poderá admitir que, sobre eles, se exerça a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções; seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos negros, das galinhas pretas e de outros sortilégios.
(...)
Entretanto, para edificação do proprietário da medalha, e para um melhor aprofundamento da questão, na sessão de 17 de julho de 1858 pedimos a São Luís, que conosco se comunica de bom grado sempre que se trata de nossa instrução, que nos desse sua opinião a respeito. Interrogado sobre o valor da medalha, eis qual foi sua resposta:
‘Fazeis bem em não admitir que objetos materiais possam exercer qualquer influência sobre as manifestações, quer para as provocar, quer para as impedir. Temos dito com bastante frequência que as manifestações são espontâneas e que, além disso, jamais nos recusamos a atender ao vosso apelo. Por que pensais que sejamos obrigados a obedecer a uma coisa fabricada pelos seres humanos?’
(...)
P. – Dizem que pertenceu a Cazotte; poderíamos evocá-lo, a fim de obtermos alguns ensinamentos a esse respeito?
Resposta: – Não é necessário; ocupai-vos preferentemente de coisas mais sérias.”

Eis quão incisivas foram as palavras do Espírito dirigidas a Kardec! Não comportam quaisquer ponderações, eis que encerram o assunto!

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Em precioso livro sobre o Idioma pátrio (3) há bela parábola que nos diz muito bem quais são os verdadeiros talismãs, a serem perseguidos por aqueles que realmente buscam crescer, evoluir. Intitulada Os três talismãs, de autoria de Teodoro de Morais, eis o texto da parábola:
“– Que é preciso para aprender? perguntou um filho ao pai.
– Para aprender, para saber e para vencer, respondeu o pai, é preciso buscar os três talismãs: a alavanca, a chave e o facho.
– E onde encontrá-los? interroga o filho.
– Dentro de ti mesmo, explica o pai. Os três talismãs estão em teu poder e serás poderoso, se quiseres fazer uso deles.
– Não compreendo, diz o filho, cada vez mais intrigado. Que alavanca é essa?
– A tua vontade. É preciso querer, é preciso remover obstáculos para aprender.
– E a chave?
– O teu trabalho. É preciso esforço para dar volta à chave e abrir o palácio do saber.
– E o facho?
– A tua atenção. É preciso luz, muita luz, para iluminar o palácio. Só assim poderás ver com clareza e descobrir a verdade, que vence a ignorância.”

(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto. 2.ed. FEB: Rio de Janeiro, 2011. Q. 553 e 554.
(2) KARDEC, Allan, Revista Espírita. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Setembro/1858, p. 393 a 395.
(3) OLIVEIRA, Cleófano. Flor do Lácio. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 1950. p. 158.


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