domingo, 5 de maio de 2013

A vacina contra a penúria é o trabalho


Por que o Espiritismo não atua junto à política humana para solucionar os problemas dos menos favorecidos? Esta foi uma das perguntas dirigidas ao médium Francisco Cândido Xavier na célebre entrevista por ele concedida no programa Pinga Fogo com Chico Xavier, em 28 de julho de 1971, pela Rede Tupi de Televisão.
A resposta do saudoso médium foi um modelo de concisão. O Espiritismo jamais pregou o conformismo. Não é essa a consequência de se crer no planejamento das existências, um dos ingredientes que compõem o processo da reencarnação.
Chico Xavier explicou que as leis são magnânimas e que a causa das desigualdades e das injustiças é, antes, decorrência da imperfeição dos homens ávidos de poderes e riquezas, que edificam sobre a miséria alheia seus castelos de areia, tão frágeis e tão transitórios como o próprio corpo carnal. “A vacina contra a ignorância – enfatizou o médium – é a instrução, e a vacina contra a penúria é o trabalho.” A reforma do organismo social não virá por decreto, mas será o resultado de uma profunda modificação do ser humano através da educação.
Corria, como foi dito, o ano de 1971. Vinte anos depois, em setembro de 1991, a Lituânia, a Estônia e a Letônia se aproveitaram do momento pelo qual a União Soviética passava e declararam sua independência; esses países haviam sido anexados após a Segunda Guerra Mundial. Em 1º de dezembro, a Ucrânia proclamou sua independência por meio de um plebiscito que contou com o apoio de 90% da população. Uma semana depois, os presidentes das repúblicas da Rússia, Ucrânia e Bielo-Rússia criaram, na cidade de Brest (Bielo-Rússia), a Comunidade de Estados Independentes (CEI), decretando o fim da União Soviética. No dia 21 de dezembro, 11 das 15 repúblicas soviéticas, em Alma Ata, capital do Casaquistão, endossaram a CEI e, com isso, a extinção da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Gorbachev governou sem apoio durante mais quatro dias e, em 25 de dezembro de 1991, renunciou e declarou que a União Soviética deixaria de existir oficialmente em 31 de dezembro de 1991. Ruía, então, sem que nenhuma guerra o obrigasse, o chamado paraíso comunista, uma prova concreta de que paraíso se constrói, não se decreta.

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É preciso compreender que as religiões conhecidas focalizam de maneira diferente a finalidade da vida na Terra. Ora, se se entender que o homem está destinado a uma obra duradoura, que é seu aprimoramento moral e intelectual, como nos ensina o Espiritismo, forçoso concluir que outra deve ser a motivação dos atos de nossa vida.
Ao invés de lutar por aumentar o saldo da poupança, o indivíduo buscará ampliar seus conhecimentos...
Em vez de sonhar com a mansão luxuosa, a criatura tentará edificar uma vida moral sadia que colabore com o bem-estar não apenas de sua família, mas também de seus semelhantes...
Ao invés de dissipar suas forças nos vícios e nos excessos de vária ordem, o homem tudo fará por equilibrar mente e corpo, aproveitando cada minuto da existência para atingir o objetivo que o trouxe ao cenário do mundo...
Admita ou não o leitor, tais seriam as consequências da mudança do pensamento humano acerca do mundo e da vida, porque – se acreditássemos nisso – todos nós poderíamos compreender o que Jesus quis dizer com estas palavras: “Não ajunteis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os corroem, onde os ladrões os desenterram e roubam; mas formai tesouros no céu, onde nem a ferrugem nem os vermes os corroem; porque onde está vosso tesouro aí também está o vosso coração. Procurai, pois, primeiramente o reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo”. (Evangelho segundo Mateus, 6:19 a 34.)
Nesse sentido é o ensinamento espírita. A existência terrena é transitória. A felicidade que sonhamos não é uma construção exterior, mas uma obra interna, intimista, que produz mudanças em nosso campo mental e modifica nossa conduta perante o mundo.
O cristão autêntico recebe as injunções e as vicissitudes da vida com superior resignação e compreende que, seja qual for seu quinhão na presente existência, ser-lhe-ão tomadas contas severas, na exata proporção dos talentos recebidos, como o evangelista Mateus registrou na conhecida Parábola dos Talentos.
Não há motivos por que nos revoltarmos contra o quinhão do vizinho. A parte que recebemos é precisamente aquela que solicitamos e de que carecemos para a experiência deste momento. Sendo fiéis no pouco, é certo que teremos outras oportunidades em futuras existências.
Este entendimento nada tem que ver com conformismo nocivo ou esdrúxulo, mas significa tão-somente a compreensão legítima dos mecanismos da vida, a mesma que nos leva a aceitar, sem queixa, a perda de um filho, a enfermidade pertinaz ou os insucessos nos negócios.


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