domingo, 23 de fevereiro de 2014

Em se tratando de previsões, todo cuidado é pouco


O desconhecimento do passado e nossa ignorância com relação ao futuro são duas bênçãos que Deus nos concedeu, conquanto nem sempre as tratemos com a circunspeção necessária.
A propósito do esquecimento do passado, sugerimos ao leitor ler o estudo que publicamos na edição 83 da revista “O Consolador”, o qual pode ser acessado clicando-se em http://www.oconsolador.com.br/ano2/83/esde.html
No tocante ao futuro, nossa ignorância a respeito é explicada com clareza na principal obra do Espiritismo, O Livro dos Espíritos.
Allan Kardec perguntou aos imortais (L.E., 869): Com que fim o futuro se conserva oculto ao homem?
Os Espíritos responderam: “Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não obraria com a liberdade com que o faz, porque o dominaria a ideia de que, se uma coisa tem que acontecer, inútil será ocupar-se com ela, ou então procuraria obstar a que acontecesse. Não quis Deus que assim fosse, a fim de que cada um concorra para a realização das coisas, até daquelas a que desejaria opor-se. Assim é que tu mesmo preparas muitas vezes os acontecimentos que hão de sobrevir no curso da tua existência”.
Evidentemente, como lemos na questão seguinte à citada, Deus permite que o futuro nos seja revelado quando isso possa facilitar a execução de uma coisa, em vez de a estorvar, obrigando o homem a agir diversamente do modo por que agiria, se não lhe fosse dado saber o que o espera. Mas a revelação pode constituir, também, uma prova. “A perspectiva de um acontecimento pode sugerir pensamentos mais ou menos bons”, afirmaram os Benfeitores espirituais (L.E., 870).
“Se um homem vem a saber, por exemplo, que vai receber uma herança, com que não conta, pode dar-se que a revelação desse fato desperte nele o sentimento da cobiça, pela perspectiva de se lhe tornarem possíveis maiores gozos terrenos, pela ânsia de possuir mais depressa a herança, desejando talvez, para que tal se dê, a morte daquele de quem a herdará. Ou, então, essa perspectiva lhe inspirará bons sentimentos e pensamentos generosos. Se a predição não se cumpre, aí está outra prova, consistente na maneira por que suportará a decepção. Nem por isso, entretanto, lhe caberá menos o mérito ou o demérito dos pensamentos bons ou maus que a crença na ocorrência daquele fato lhe fez nascer no intimo.” (L.E., questão citada.)
Percebe-se pelo próprio conteúdo da resposta acima transcrita que a predição pode cumprir-se ou não, fato que nos sugere tenhamos o máximo cuidado para com qualquer tipo de previsão, venha de onde vier.
Se ela vem de uma personalidade desencarnada, é bom ter em mente a lição que Kardec consignou no item 267 d´O Livro dos Médiuns:
“(...) os bons Espíritos fazem que as coisas futuras sejam pressentidas, quando esse pressentimento convenha; nunca, porém, determinam datas. A previsão de qualquer acontecimento para uma época determinada é indício de mistificação.” (O Livro dos Médiuns, item 267, 8o parágrafo, p. 334.)
O outro cuidado que devemos ter diz respeito à qualidade do emissário –  encarnado ou desencarnado – que nos apresente revelações atinentes ao futuro, atentos à lição que Emmanuel, por meio de Chico Xavier, consignou na questão 144 de seu livro O Consolador, obra publicada em 1942:
“Os Espíritos de nossa esfera não podem devassar o futuro, considerando essa atividade uma característica dos atributos do Criador Supremo, que é Deus. Temos de considerar, todavia, que as existências humanas estão subordinadas a um mapa de provas gerais, onde a personalidade deve movimentar-se com o seu esforço para a iluminação do porvir, e, dentro desse roteiro, os mentores espirituais mais elevados podem organizar os fatos premonitórios, quando convenham às demonstrações de que o homem não se resume a um conglomerado de elementos químicos, de conformidade com a definição do materialismo dissolvente.” (O Consolador, 144.)
Seria Emmanuel um instrutor capacitado para tal empreitada?
Ele mesmo já havia dito que não, na primeira de suas obras – Emmanuel -, publicada em 1938, na qual afirmou taxativamente: "Os seres da minha esfera não conhecem o futuro, nem podem interferir nas coisas que lhe pertencem". (Emmanuel, cap. XXXIII, FEB, 7a edição, pág. 166.)



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