quinta-feira, 23 de abril de 2015

Pérolas literárias (95)


A primeira pedra

Francisca Clotilde Barbosa Lima


A multidão tumultua
Em cada canto da praça.
Algemado, em plena rua,
É um homem triste que passa...

Há gritos no Sol a pino...
São vozes a descompor:
– “Donde vieste, assassino?
Celerado! Matador!... ”

– “Fera solta! Condenado!
Gatuno! Monstro! Quem és?”
E o infeliz disse, cansado,
Mal se aguentando nos pés :

– “Por Deus, poupai-me a lembrança!
Basta a aflição que me corta...
Eu fui aquela criança
A quem cerrastes a porta."

“Fui o pequeno mendigo
Que todos vistes passar!
Vede a miséria em que sigo,
Sem a esperança de um lar!...”

“Faminto, descalço e roto,
A minha vida era assim...
Cresci na lama do esgoto,
Nunca tive alguém por mim...”

Bebendo o pranto que rola,
Suspirou, em conclusão :
– “Debalde pedia escola,
Debalde pedia pão.”

Toda a praça silencia.
Somente vibram no ar
Os soluços da agonia
De pobre mãe a chorar...


Francisca Clotilde Barbosa Lima nasceu em S. João de Inhamuns, hoje Tauá, Ceará, em 19 de outubro de 1862 e faleceu em Aracati, Ceará, em 8 de dezembro de 1935. Poetisa, contista e romancista, exerceu o magistério até os últimos dias de sua existência terrena, tendo sido a primeira mulher a lecionar na primeira Escola Normal do Estado do Ceará. O poema acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra mediúnica psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.


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