sábado, 8 de agosto de 2015

A origem de Memórias póstumas de Brás Cubas



JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amiga leitora, como é do seu conhecimento, no dia 18 de abril de 1857, veio a lume O livro dos espíritos, obra publicada por Allan Kardec, mas em verdade de autoria de vários espíritos, entre eles, O Espírito de Verdade, Platão, Swedenborg, Fénelon, Santo Agostinho, etc., etc., etc. Acima do título do livro citado, lê-se o seguinte: “Filosofia Espiritualista”.
Aí está o motivo de ter Brás Cubas dito, no cap. 4 do seu romance, que a sua obra era “supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo brincalhona”. E isso porque a nova crença teve início com as chamadas mesas girantes, que se tornaram conhecidas da América e de toda a Europa, no século XIX, mas não eram levadas a sério por algumas pessoas. Até que Allan Kardec, magnetizador há vinte anos, na época, resolveu investigar o fenômeno e nele viu algo mais sério do que a denominada “dança das mesas”, principalmente devido às 1019 questões propostas, na área filosófica, que foram respondidas pelas entidades retrocitadas.
Entre as respostas dadas, desde os fenômenos de Hydesville, EUA, em 31 de março de 1848, uma delas foi a de que o manifestante era um “defunto”. A partir daí, surgiu a febre das mesas girantes em que os agentes eram os espíritos. Tive então a ideia de evocar um deles. Apareceu-me, assim, Brás Cubas. Outra ideia que tive foi a de pedir a esse espírito para narrar sua história. E ele passou a narrar-me suas memórias.
Aí está, leitor amigo, a origem do romance insólito, Memórias póstumas de Brás Cubas, que tanto espanto causou em 1881, quando o dei a conhecer ao perplexo carioca e, por fim, a obra acabou por atravessar as fronteiras do Brasil.
Ah, você duvida da possibilidade mediúnica do livro? Leia, então, o que respondi a Capistrano de Abreu, no prólogo da terceira edição de Brás Cubas, quando aquele me perguntou se a obra era um romance: “[...] respondia já o defunto Brás Cubas [...] que sim e que não, que era um romance para uns e não o era para outros”.
Conforme lhes relatei, leitora e leitor amigos, em 13 de setembro de 1896 (A semana), confirmando o que já era matéria de minha produção literária desde algum tempo, afirmei que “Há muito que os espíritas afirmam que os mortos escrevem pelos dedos dos vivos. Tudo é possível neste mundo e neste final de um grande século”.
É verdade que, tanto quanto com Sterne, interajo com Cícero, Cristo, Homero, Heródoto, Moisés, Shakespeare, entre outros, que parafraseio e cito. Desse modo, aos não espíritas, deixo a crença de que a inspiração surgiu desses vultos históricos; aos espíritas, fica a certeza de que o livro atende às características da mediunidade, neologismo criado por Allan Kardec.
Porém, minha intenção jamais foi a de moralizar alguém, mas, sim, expor, de forma leve e descontraída, a personalidade das pessoas que formavam a sociedade carioca do século XIX, deste e do outro mundo. A crítica fica por conta do leitor e leitora curiosos.
— E por que você disse a Capistrano que a obra era romance para uns e não o era para outros?
— Joteli, romance, no conceito literário, é ficção. Para quem lê minha obra como tal, Memórias póstumas de Brás Cubas é romance. Para quem acredita na comunicação dos defuntos com os vivos, a história é outra. Entendeu agora? Se não entendeu, leia as cinco obras da codificação de Allan Kardec e não mais encha minha paciência.
Adiós, o mejor, au revoir.



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