sábado, 3 de outubro de 2015

Gastando o verbo


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amiga leitora, o brasileiro continua sofrendo do complexo de vira-lata. Se alguém joga um osso para ele, eis que abana o rabo, abocanha a dádiva e sai com ela na boca, feliz da vida. Hélio Bicudo ajudou a fundar o canil, mas viu que um dos vira-latas, que morava num barraco de 40m² e que dizia detestar ler, por um misterioso poder dos deuses do Olimpo, tinha um extraordinário poder de persuasão a seus caninos camaradas, com um objetivo nada altruístico: o poder. Ficou milionário e, com apoio das empreiteiras, desviou bilhões para o exterior. Dizem que é para manter-se no poder até o fim dos tempos, pois, com essa fortuna, além de continuar utilizando-se de atos espúrios para continuar dominando o país, finge-se de bom moço e tenta proibir os demais partidos políticos de receberem doações empresariais.
Esqueçamos um pouco a política e voltemos ao povo brasileiro. Em especial, ao seu linguajar. Brasileiro adora falar inglês e capricha na pronúncia da língua falada pelo Tio Sam. Mas desconhece a própria língua, e, por isso mesmo, o cachorro mor da República, mesmo sem exercer, atualmente, qualquer cargo público, faz até manifestos televisivos passando-se por uma nova espécie de messias (com m), do pobre povo tupiniquim, que adora uma esmola, mas não gosta de trabalhar.
Outro dia, fiquei sabendo que um só trabalhador americano produz o equivalente a quatro operários brasileiros. E ainda tem gente pregando a revolução do proletariado... Aqui? Só se for para 200 milhões voltarem a viver da caça e da pesca. Mas caçar o quê? Pescar só se for com a vara do vizinho, com o braço alheio e com a isca colhida por outrem. Só tem um problema: todos terão a mesma ideia. Então... Pobre país.
Eu pedi aos deuses, outrora, para não deixarem o Brasil se tornar uma República. Eles não me ouviram, e vejam no que deu...
Conforme dizia, acima, vamos à linguagem.
Comentarista de futebol, técnico e jogador, que também, salvo raras exceções, não gostam de ler, adoram "falar difícil”. Desse modo, é comum ouvirmos, numa entrevista, o seguinte:
— Como você se sente, jogando pelo time A?
— Sinto-me muito venturoso e almejo fazer muitos gols, para enaltecer o nome desse clube no porvir...
O jogador ouviu do "professor" que venturoso é o mesmo que bem, almejo é sinônimo de desejo, quero e porvir significa futuro. Então, "gasta o verbo"...
O apresentador de esportes lê uma mensagem não muito confiável, em seu notebook e diz que vai deletá-la. O vocábulo apagar, aos poucos, vai sendo trocado pelo inglês deletar... "Chic no último"... Ops!
Ao tomar o elevador, leio o seguinte alerta: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se neste andar”. E eu pergunto: Por que o mesmo? Por que não ele? Corrigindo: "Antes de entrar no elevador, verifique se ele está neste andar".
Eu escreveria assim: “Ao abrir a porta do elevador, cuidado para não cair no fosso”.
O susto de quem ler isso será tão grande que você, leitor amigo, antes de entrar, sempre vai conferir se vai para o fosso ou para o elevador.
Entro no mercadinho da rua do meu bloco, para comprar pães, e vejo, acima destes, a placa com o seguinte aviso: "Por favor!! Não deguste".           
Primeira pergunta: Por que razão duas exclamações? A gramática criou esse sinal já com a finalidade de expressar grande, enoooooorme espanto! E o sinal de interrogação serve para exprimir pergunta direta... Quanto ao "deguste", por que não dizer "Não coma"? Não há quem não entenda. Já o "deguste"...
Isso me lembra um cartaz que li na simpática Lisboa portuguesa em frente a um estacionamento: "Proibido estacionar". E acima, estava escrito: "Obrigatório ler".
Vai entender...   
Acaba de chegar o simpático espírito Casimiro Cunha, poeta que tantos poemas publicou, desta nossa dimensão, pela mão abençoada de Chico Xavier. Pede para deixar um recado ao leitor amigo e à bela leitora.
Ah, sim, é uma nova versão do seu poema intitulado Simplifica, publicado na obra Antologia dos imortais, psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira e editada pela FEB.
Com a palavra final, Casimiro Cunha.
— Amigos, ante a imensa dificuldade de nós, os defuntos escritores, escrevermos para os mortos-vivos da Terra, pois as ideias são nossas, mas os formatos são deles, peço-lhes desculpas, antecipadamente, se este esforçado Joteli não conseguir sintonizar a sua com a minha mente, nestas ondas hertzianas que cruzam nossas distintas dimensões. O título do atual poema amplia um pouco aquele, psicografado pelo Chico Xavier, uma das criaturas mais doces que conheci, tanto aí como aqui.
Eis o poema:

Simplifica... simplisfica...

Quer esclarecer alguém
Sobre a dúvida que fica
Ante um ponto literário?
Quem explica simplifica.

O que escreve, quando é lido,
Quase nada significa
Em sua língua erudita?
Não inventa, simplisfica...

O que fala não entendem
Se você não lhes explica?
Use, então, palavras fáceis,
Não complica, simplifica.

Não tenha mágoa de quem
De você sempre futrica,
O Cristo sempre exaltou
Quem perdoa e simplisfica...

Seu desejo é ensinar
E até nisso se complica,
Por lhe faltar a clareza?
Quem ensina simplifica.

Diz você que quer um tempo
Para seguir minha dica,
Então repito o brocardo:
Vive mais quem simplifica.

Não gaste tudo o que tem
No armazém da dona Chica,
Pois quem pensa no futuro
É quem sempre simplisfica.

Não corra atrás do supérfluo
Nos excessos da botica,
Quem só pensa na matéria
Morre, mas não simplifica...

Se você já aprendeu
Uma parte do que explica
Não procure resultados,
Faz o bem e simplisfica.

Após existência inútil,
A alma que prevarica
Implora ao Cristo por luz
E Jesus diz: simplifica.





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