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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

 



CINCO-MARIAS

 

Combinados ajudam a criança a se tornar responsável 

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com

 

A infância é o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano. Jean Piaget

 

Educar uma criança engloba um hábito às vezes esquecido pelos pais: fazer combinados.

Mas... o que significa fazer combinados com as crianças?

Importante ferramenta para ajudar o filho a desenvolver habilidades sociais e de convivência em grupo, negociar tratativas com as crianças é uma maneira de ensiná-las a seguir regras e, com isso, estruturar tanto a convivência harmoniosa quanto o senso de responsabilidade.

Ao estabelecer um combinado, é importante que seja claro, objetivo e adequado à idade e à compreensão das crianças. Exemplos de combinados: fazer a cama, arrumar os brinquedos, colocar a mesa, ir ao parque, sair do parque etc.

Uma mãe conta: “Outro dia, estava a ver que eram 19h, que era a hora combinada, e meu filho ainda não arrumara os seus brinquedos no quarto, como tínhamos falado. Simplesmente me dirigi a ele afirmando de modo claro: por favor, faça isso agora”.

Em relação ao cumprimento dos combinados, falar com firmeza não é ser autoritário nem agressivo. Ou seja, se for necessário pedir à criança que ela precisa cumprir o combinado, não faça graça, não seja cômico, nem irônico. Apenas seja claro e firme. Conte de novo o combinado para a criança de forma educada, mas com um ar sério e honesto. Fale pouco e vá direto ao assunto.

Uma hora no parque e o seu filho não quer ir embora. Diga a ele: “qual foi o nosso acordo?” No começo dos combinados, será normal a criança apresentar objeções. No entanto, você, mãe ou pai, precisa manter-se firme, decidido e gentil, apenas enfatizando a lembrança do combinado: “qual foi o nosso acordo?” A seguir, aponte para o relógio, demonstrando com a sua expressão que continua à espera que a criança cumpra o combinado (por exemplo, pegar a bola e ir para casa). Faça, então, uma presença silenciosa, mas forte perto da criança para que ela perceba que continua à espera que o combinado seja cumprido. O silêncio é muito poderoso e, na minha opinião, costuma motivar a criança a cumprir o acordo, mesmo que insatisfeita (e isso faz parte do processo educativo).

Combinados precisam ser treinados ao longo da infância dos nossos filhos. É nossa função como pais garantir que eles sejam respeitados, lembrando sempre que ninguém aprende sem ser ensinado, nem à primeira…

Educar é repetir atitudes, condutas, exemplos e, com paciência, inúmeros combinados cotidianos…

 

Notinha


Muitos pais têm expectativas irrealistas e esperam que os filhos assumam as mesmas prioridades dos adultos. Ora, as crianças pensam de outra forma, têm outros padrões e referências. Não espere, portanto, que se comportem como um adulto. Ainda são crianças e é por isso que estamos a ensiná-las.

 

*

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 


 

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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

 



Revista Espírita de 1866

 

Allan Kardec

 

Parte 14

 

Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. O médium zuavo Jacob, famoso por suas curas, conseguia curar todos os enfermos?

B. Que impressão tinha Kardec sobre Maomé, o fundador do Islamismo?

C. Quando ocorreram na Sociedade Espírita de Paris os primeiros fenômenos espontâneos de sonambulismo mediúnico?

 

Texto para leitura

 

170. Depois de referir curas diversas realizadas pelo zuavo, a Revista explica como o médium procedia. Primeiramente ele introduzia os doentes numa sala, à base de dezoito ou mais pessoas por vez, dependendo das dimensões do local; os que vinham de longe eram convidados a entrar primeiro. Todos permaneciam em silêncio, porque ele dizia que quem conversasse seria posto na rua. Ao cabo de dez ou 15 minutos de silêncio, Jacob dirigia-se a alguns doentes e, sem nada perguntar, lhes dizia o que sofriam. Depois, passeando ao longo da mesa em redor da qual os doentes ficavam sentados, ele falava a todos e os tocava, mas sem os gestos usados pelos magnetizadores. Em seguida, despedia-os, dizendo a uns: “Estais curados”; a outros: “Apenas tendes fraqueza”; e a outros, mais raramente: “Nada posso por vós”. Aos que faziam menção de lhe agradecer, respondia que nada havia a agradecer e, às vezes, dizia: “Vossos agradecimentos? Dirigi-os à Providência”. (Págs. 316 a 318.)

171. Em nota aposta às informações do Sr. Boivinet, Kardec afirma que as curas do Sr. Jacob eram realmente autênticas e, louvando a conduta do curador, assevera que o que constitui um mérito real no médium, o que se deve e pode louvar com razão, é o emprego que faz de sua faculdade; é o zelo, o devotamento, o desinteresse com os quais a põe a serviço daqueles a quem ela pode ser útil; é ainda a modéstia, a simplicidade, a abnegação, a benevolência que respiram em suas palavras e que suas ações justificam, porque essas qualidades lhe pertencem. “Assim”, acrescenta o codificador do Espiritismo, “não é o médium que se deve pôr num pedestal, do qual poderá descer amanhã: é o homem de bem, que sabe tornar-se útil sem ostentação e sem proveito para a sua vaidade.” (Págs. 318 a 320.)

172. O número de novembro de 1866 começa com novo artigo de Kardec sobre Maomé e o Islamismo, do qual extraímos de forma resumida as informações que se seguem: I) Foi em Medina que Maomé mandou construir a primeira mesquita, em que trabalhou com as próprias mãos e organizou um culto regular. Ali ele pregou pela primeira vez em 623. II) Dois anos após instalar-se em Medina, os Coraychitas de Meca, unidos a outras tribos hostis, sitiaram a cidade. Maomé teve de defender-se, iniciando-se para ele um período guerreiro, que durou dez anos e durante o qual se mostrou um tático hábil. III) Como a guerra era o estado normal daqueles povos, que só conheciam o direito da força, ao chefe era necessário o prestígio da vitória para firmar sua autoridade. A persuasão exercia efeito reduzido sobre aquela gente turbulenta e uma grande mansuetude teria sido tomada como fraqueza. É por isso que, mesmo sem querer, o grande líder fez-se guerreiro. IV) O sucesso de Maomé em tantas batalhas foi realmente notável, pois, com exceção de um dos primeiros combates, em 625, em que foi ferido e os muçulmanos derrotados, suas armas foram sempre vitoriosas, a ponto de em poucos anos submeter a Arábia inteira à sua lei. V) Maomé pôde, então, entrar triunfalmente em Meca, após dez anos de exílio, seguido por perto de cem mil peregrinos, realizando ali a célebre peregrinação dita de adeus, cujos ritos os muçulmanos conservaram escrupulosamente, porque no mesmo ano, dois meses depois de seu regresso a Medina, em 8 de junho de 632, ele morreu. (Págs. 321 e 322.)

173. Sobre Maomé e sua obra, Kardec destaca outros pontos importantes: I) É um equívoco, disseminado pelos adversários de Maomé, apresentá-lo como um indivíduo ambicioso, sanguinário e cruel. II) Também não se deve torná-lo responsável pelos excessos de seus sucessores, que pretenderam conquistar o mundo para a fé muçulmana de espada em punho. III) Maomé, mesmo em meio aos seus sucessos, havendo chegado ao topo de sua glória, fechou-se no seu papel de profeta, sem jamais usurpar uma autoridade temporal despótica: não se fez rei, nem potentado e jamais se manchou, na vida privada, por nenhum ato de barbárie ou de cupidez. IV) Se o papel de guerreiro lhe foi uma necessidade e se esse papel pode escusá-lo de certos atos políticos, há, no entanto, alguns senões que ele poderia ter evitado, como a consagração da poligamia em sua religião, que foi o seu mais grave erro, pois isso opôs uma barreira entre o Islamismo e o mundo civilizado. V) Permitindo quatro mulheres legítimas, Maomé esqueceu que, para que sua lei se tornasse a da universalidade dos homens, era preciso que o sexo feminino fosse ao menos quatro vezes mais numeroso que o masculino. VI) Mau grado as suas imperfeições, o Islamismo não deixou de ser um grande benefício para a época em que apareceu e para o país onde surgiu, porque fundou o culto da unidade de Deus sobre as ruínas da idolatria. A religião cristã tinha muitas sutilezas metafísicas, por isso é que todas as tentativas para a implantar nessas regiões tinham falhado. VII) Compreendendo os homens de seu tempo, Maomé deu-lhes uma religião apropriada às suas necessidades e ao seu caráter. VIII) Bastante simples, o Islamismo prega a crença num Deus único, que vê nossas ações mais secretas e que premia ou castiga, numa outra vida, os atos que cometemos. IX) O culto islâmico consiste na prece, repetida cinco vezes por dia, nos jejuns e mortificações do mês de ramadã, e em certas práticas, como as abluções diárias, a abstenção do vinho, das bebidas inebriantes e da carne de certos animais. X) A sexta-feira foi adotada como o dia santo da semana e Meca indicada como o ponto para o qual todo muçulmano deve voltar-se ao orar. XI) A atividade pública nas mesquitas consiste em preces em comum, sermões, leitura e explicação do Alcorão. XII) A circuncisão não foi instituída por Maomé, mas por ele conservada, por ser prática comum dos árabes desde tempos imemoriais. XIII) A proibição de reproduzir pela pintura ou escultura qualquer ser vivo foi feita visando a destruir a idolatria e impedir que ela se renovasse. XIV) A peregrinação a Meca, que todo fiel deve realizar ao menos uma vez na vida, é um ato religioso, mas seu objetivo na época era aproximar, por um laço fraternal, as diversas tribos inimigas, reunindo-as num mesmo lugar consagrado. XV) A religião muçulmana admite o Antigo Testamento por inteiro, até mesmo Jesus, que reconheceu como profeta. Segundo Maomé, Moisés e Jesus foram enviados por Deus para ensinar a verdade aos homens. Como os Dez Mandamentos, o Evangelho é a palavra de Deus, mas os cristãos teriam alterado o seu sentido. (Págs. 322 a 325.)

174. No último discurso que pronunciou em Meca, pouco antes de sua morte, Maomé aconselhou seus seguidores a que fossem humanos e justos, guardando-se de cometer injustiça, porque um dia todos apareceremos diante do Senhor e ele pedirá contas de nossas ações. (Pág. 325.)

175. Finalizando o artigo sobre o grande líder árabe, Kardec reproduz o elogio que o historiógrafo alemão G. Weil fez, em sua obra Mohammet der Prophet, de Maomé e sua obra, seguido de diversas passagens textuais do Alcorão, extraídas da tradução de Savary. (Págs. 325 a 337.)

176. Das suratas selecionadas por Kardec, eis algumas frases marcantes que permitem aquilatar o valor da referida obra: “Deus não exigirá de nós senão conforme as nossas forças.” “Jamais digas: Farei isto amanhã, sem acrescentar: se for a vontade de Deus.” “Deus exalta as boas obras, mas pune rigorosamente o celerado que trama perfídias.” “Nada no céu e na terra pode opor-se às vontades do Altíssimo.” “Jesus é filho de Maria, enviado do Altíssimo e seu Verbo.” “Crede em Deus e nos apóstolos; mas não digais que há uma trindade em Deus. Ele é uno.” “Os que sustentam a trindade de Deus são blasfemos; há apenas um só Deus.” “Se te acusarem de imposturas, responde-lhes: Tenho por mim as minhas obras; que as vossas falem em vosso favor.” “Fazei prece, dai esmolas; o bem que fizerdes encontrareis junto a Deus, pois ele vê as vossas ações.”  “Para ser justificado não basta virar o rosto para o Oriente e para o Ocidente; é preciso ainda crer em Deus, no juízo final, nos anjos, no Alcorão, nos profetas. É preciso pelo amor de Deus socorrer o próximo, os órfãos, os pobres, os viajantes, os cativos e os que demandam.” “Se vosso devedor tem dificuldade em vos pagar, perdoai-lhe o tempo; ou se quiserdes fazer melhor, perdoai-lhe a dívida.” “A vingança deve ser proporcional à injúria; mas o homem generoso que perdoa tem sua recompensa assegurada junto a Deus, que odeia a violência.” “Deus ama a beneficência.” “Os jardins do Éden serão a habitação dos justos.”(Pág. 326 a 337.)

177. Reportando-se à Sociedade Espírita de Paris, Kardec diz que a última sessão do ano, antes das férias, foi uma das mais notáveis porque, pela primeira vez, se verificou com o Sr. Morin, médium da Sociedade, um fenômeno espontâneo de sonambulismo mediúnico. Havendo adormecido sob a influência dos Espíritos, ele falou então com calor e eloquência sobre um assunto de alta seriedade. Em outubro, na reabertura das sessões, repetiu-se o fenômeno com dois outros médiuns: a sra. C... e o Sr. Vavasseur. Kardec refere, na sequência, os fatos que se deram naquela oportunidade e que muito o impressionaram. (Págs. 337 a 341.)

 

Respostas às questões propostas

 

A. O médium zuavo Jacob, famoso por suas curas, conseguia curar todos os enfermos?

Não. Nem todos puderam ser curados por ele, e Jacob não os enganava, dizendo-lhes claramente, quando fosse o caso: “Nada posso por vós”. Com respeito aos demais, assim que faziam menção de lhe agradecer, respondia que nada havia a agradecer e, às vezes, dizia: “Vossos agradecimentos? Dirigi-os à Providência”. (Revista Espírita de 1866, pp. 316 a 318.)

B. Que impressão tinha Kardec sobre Maomé, o fundador do Islamismo?

Uma boa impressão. Disse Kardec que era um equívoco, disseminado pelos adversários de Maomé, apresentá-lo como um indivíduo ambicioso, sanguinário e cruel. Também não se devia torná-lo responsável pelos excessos de seus sucessores, que pretenderam conquistar o mundo para a fé muçulmana de espada em punho. Maomé, mesmo em meio aos seus sucessos, havendo chegado ao topo da glória, fechou-se no seu papel de profeta, sem jamais usurpar uma autoridade temporal despótica: não se fez rei, nem potentado e jamais se manchou, na vida privada, por nenhum ato de barbárie ou de cupidez. A religião muçulmana admite o Antigo Testamento por inteiro, até mesmo Jesus, que reconheceu como profeta. Segundo Maomé, Moisés e Jesus foram enviados por Deus para ensinar a verdade aos homens. Como os Dez Mandamentos, o Evangelho é a palavra de Deus, mas os cristãos teriam alterado o seu sentido. (Obra citada, pp. 322 a 325.)

C. Quando ocorreram na Sociedade Espírita de Paris os primeiros fenômenos espontâneos de sonambulismo mediúnico?

Foi em 1866, na última sessão do ano, antes das férias, que se verificou com o Sr. Morin, médium da Sociedade, o primeiro fenômeno espontâneo de sonambulismo mediúnico. Havendo adormecido sob a influência dos Espíritos, ele falou então com calor e eloquência sobre um assunto de alta seriedade. Em outubro, na reabertura das sessões, repetiu-se o fenômeno com dois outros médiuns: a sra. C... e o Sr. Vavasseur. Kardec refere, na sequência, os fatos que se deram naquela oportunidade e que muito o impressionaram. (Obra citada, pp. 337 a 341.)

 

Observação:

Para acessar a Parte 13 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/10/revista-espirita-de-1866-allan-kardec_01723532262.html

 

 

 

 

 

 

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terça-feira, 29 de outubro de 2024

 



Fases naturais de uma vida

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

 

Há a alegria, o desfalecimento, a tentação, a paz, o amor, a dor, a renovação, a fraqueza, a luta, a conquista... há a vida. Entre tantos outros sentimentos e emoções, o espírito (eterno) tende a continuar mais desafiadoramente até o tempo em que progride o suficiente para passar a admirar a vida e a valorizá-la independente do que esteja passando. Talvez o apego, disfarçado de ciúme e posse; o materialismo, mascarado de ganância e vaidade; o orgulho ameaçando com sua autoridade desmedida, todos fortalecidos, inacreditavelmente, num espírito, sejam os grandes baluartes de seu sofrimento.

De fato, no estágio de determinada maioria encarnada ou na erraticidade, há mais dificuldade do que leveza para viver, mas somos vida e é o que importa, fomos criados por Deus que é o Bem supremo. E de toda essa grandeza, precisamos apenas desenvolver um pouquinho a cada dia, ou então, não agir com atitudes tão reprováveis já é um notável avanço.

Em determinados amanheceres, parece que carregamos uma montanha, pois a dificuldade que nos limita é pesada e gris demais. Em determinados anoiteceres, parece que o desespero sucumbirá o nosso ser por inteiro. No entanto nasce um novo amanhecer que traz a leveza dos lindos dias, e o refazimento e a alegria passam a ser parte nossa. Surge tamanha gratidão que olhamos para o céu continuamente e suspiramos de felicidade. E outra vez surge o desânimo, a tentação, a paz, o amor, a dor, a renovação, a fraqueza, a luta, a conquista... e novos amanheceres e anoiteceres.

E deve ser esse mesmo o andamento e nunca cogitar, sob hipótese alguma, a desistência, já que após uma adversidade virá a sua resolução e um pouco de paz. E quanto mais vivemos com atenção ao progresso, mais próximos de benéficos dias nos colocamos. Assim será para todos como lei universal. Quanto maior o desenvolvimento, maior também o conhecimento, observação e entendimento a respeito da vida, sua linha tênue e as linhas com maior determinação. Ainda algo tão extraordinário é que o nosso progresso é conquista pessoal e o nosso atraso, idem. Somos os completos responsáveis pelo lugar que ocupamos hoje.

Entretanto, independente de qual situação seja, devemos continuar com agradecimento pela nossa vida e por estarmos aqui encarnados, oportunidade bendita, e que para muitos, por um tempo, negada.

Muitas vezes, num momento muito difícil, apenas um suspiro mais profundo, um silêncio, ou melhor ainda, uma oração podem enfraquecer o monstro que aparentava nos destruir. Temos acesso a várias formas para viver melhor, basta a nossa determinação.

E, graças a Deus, fomos criados para a eternidade, somos seres perfectíveis e transcendentais, o mais é a história incomparável de cada espírito que num particular tempo será um espírito puro. E todo esse sofrimento não será nada comparado à luz eterna e amorosa que o acompanhará.

A vida é bênção divina.

 

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/

 

 

 

 

 

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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 



O bom homem

 

Hilário Silva (Espírito)

 

I

 

Noite de 2 de dezembro de 1857.

Em homenagem ao Imperador D. Pedro II, que completa trinta e dois anos de idade, há beija-mão no Paço Imperial do Rio de Janeiro. (1)

Não somente isso. Há festas públicas, bailes, cantarolas na rua, girândolas no ar.

Em humilde residência suburbana, João Ferreira de Souza, comerciante de joias, largamente conhecido pela honestidade ilibada, esperava Maria Amélia, a filha única. Viúvo, desde muito, consagrara-se a ela. Era-lhe a jovem toda a esperança da vida.

Onze da noite. Inquieto, escuta vozes no jardim. Sai pela porta dos fundos. Aproxima-se, sorrateiro, e ainda percebe o par em doce adeus. Um homem que ele desconhece beija-lhe a filha, e parte, apressado.

João apalpa os bolsos, rilhando os dentes, colérico, mas vê-se desarmado. Abeira-se da moça que volta do baile, e internam-se, os dois, na casa em que são eles os únicos moradores. Depois de perguntas ásperas, ouve a menina, que fala em pranto:

— Papai, não me queira mal… Perdoe-me… Aguardo um filhinho, mas espero casar-me… Antônio, o rapaz que escolhi, é pobre, muito pobre, mas tudo melhorará… Ajude-nos, papai, pelo amor de Deus!

O comerciante, agora silencioso, visita o interior doméstico e volta à presença da filha, estendendo-lhe um copo com líquido indefinível.

— É calmante — diz ele —, tome e descanse. Amanhã conversaremos.

A moça obedece e, logo após, sente, em dores indescritíveis, o choque da morte. Sorvera arsênico em grande dose. No dia seguinte, a versão paterna estava aceita. Todos acreditaram tratar-se de suicídio.

Muito tempo depois, João Ferreira de Souza desencarnou, com o título de “bom homem”.


II

 

Noite de 2 de dezembro de 1957.

João Ferreira de Souza, noutro corpo de carne, está jovem, numa festa íntima, na casa em que nasceu, em grande arrabalde do Rio. Consagrado à afeição de moça humilde, afasta-se do sarau, rumo ao jardim, onde com ela se encontra, em transporte afetivo.

O pai, que não lhe apoia a pretensão, segue-lhe os passos. E quando o filho se despede da menina, enternecidamente, interpela-o de chofre. A advertência é clara e incisiva. Mas o jovem, acabrunhado, algo explica:

— Papai, não me queira mal… Perdoe-me… Aguardo um filhinho, mas espero casar-me… Lenita, a moça que escolhi, é pobre, muito pobre, mas tudo melhorará… Ajude-nos, papai, pelo amor de Deus!

Sensibilizado, afasta-se o genitor em silêncio. O moço, porém, está nervoso, inquieto. Pesa-lhe a cabeça, arde-lhe o estômago. Busca o interior doméstico, à procura de um antiácido.

Na pequena farmácia caseira, toma um vidro e verte o conteúdo na taça com água, bebendo o líquido. E, em seguida, cai gemendo com dores lancinantes, para receber a morte logo após. Crendo valer-se de sal medicamentoso, ingerira arsênico, em grande dose. E o próprio pai, afagando-lhe em lágrimas o corpo inerte, acreditou tratar-se de suicídio.

 

[1] No Brasil, D. João VI introduziu a cerimônia do beija-mão: em determinados dias o acesso ao Paço Imperial era liberado a todos que desejassem apresentar alguma reivindicação ao monarca. Em sinal de respeito, tanto os nobres, como as pessoas mais simples, até mesmo os escravos, beijavam-lhe a mão direita antes de fazer seu pedido. Esse hábito foi mantido por D. Pedro I e por D. Pedro II.  

 

Do livro A vida escreve, obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.

 

         

               

 

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domingo, 27 de outubro de 2024

 



A doutrina das penas eternas é um equívoco

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Embora ensinadas pela doutrina católica, as penas eternas não existem e é exatamente por isso que o Espiritismo não as admite.

A tese da eternidade das penas reservadas àqueles que infringem as leis do bem e do amor, tanto quanto a existência do inferno, não resistem a uma análise objetiva.

O raciocínio lógico conduz-nos à seguinte premissa: Se o Espírito sofre em função do mal que praticou, sua infelicidade deve ser proporcional à falta cometida.

Devemos considerar também que a condenação perpétua não se coaduna com a ideia cristã da sublimidade da justiça e da misericórdia divinas. Jesus deu testemunho da bondade e do amor de Deus, ao afirmar que o Pai celeste não quer que pereça um só de seus filhos.

O Criador é, como ensinado no Espiritismo, um ser infinito em suas perfeições, pois é filosoficamente impossível conceber Deus de outra maneira, uma vez que, se Ele não apresentasse infinita perfeição, poderíamos conceber outro ser que lhe fosse superior.

Sendo, pois, infinitamente sábio, justo e misericordioso, não podemos crer que o Pai celeste tenha criado pessoas para serem eternamente desgraçadas em virtude de uma falta ou de um erro passageiro, derivados evidentemente de sua própria imperfeição.

Alguém, no entanto, certamente questionará: - Se as penas eternas são uma ficção, por que tal doutrina se encontra consubstanciada na teologia católica?

A doutrina da eternidade das penas surgiu das ideias primitivas que conceberam a existência de um Deus irado e vingativo, a quem o homem atribuiu características puramente humanas. O fogo eterno é uma figura de que se utilizou para materializar a ideia do inferno, com vistas a ressaltar a crueldade da pena, no pressuposto de que o fogo é o suplício mais atroz e que produz o tormento mais efetivo.

É provável que em certo período da história da Humanidade a doutrina das penas eternas tenha sido eficaz para controlar as paixões de criaturas ainda imperfeitas, mas é evidente que ela não mais serve ao homem da atualidade, que nela não consegue vislumbrar sentido lógico.

Jesus valeu-se, é verdade, das figuras do inferno e do fogo eterno para pôr-se ao alcance da compreensão dos homens de sua época. As imagens fortes que utilizou eram, então, necessárias para impressionar a imaginação de indivíduos que pouco entendiam das coisas do Espírito e cuja realidade estava mais próxima da matéria e dos fenômenos que lhes impressionavam os sentidos físicos.

Mas não podemos ignorar que foi ele quem enfatizou a ideia de que Deus é Pai misericordioso e bom e declarou, de forma peremptória, que das ovelhas que o Pai lhe confiou nenhuma se perderia.

Além disso, as manifestações espíritas mostraram – e continuam a mostrar – que a vida prossegue além-túmulo e que todos, mesmo os maiores criminosos, recebem de Deus seguidas oportunidades de se redimirem e assim voltarem ao caminho que nos levará à perfeição, que é a meta que o Deus estabeleceu para todos nós.

 

 

 

 

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