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domingo, 30 de setembro de 2012

Crença é o primeiro passo; a fé vem depois


Sempre que somos alvo de uma ingratidão ou de um ato qualquer de animosidade, a dificuldade em aceitar o fato aumenta muito quando vemos no outro lado a pessoa de alguém que conhece a doutrina espírita e se diz adepto dela.
Perguntamo-nos, então, com certa frequência: - Por que é tão difícil a um indivíduo assimilar os princípios espíritas e incorporá-los aos atos comuns de sua vida?
Essa dificuldade foi objeto na obra de Kardec de oportuno esclarecimento dado por um guia espiritual que atuou junto de uma médium no socorro a um Espírito de nome Xumène.
Eis as palavras que o instrutor espiritual dirigiu à médium:
“Filha, terás muito trabalho com este Espírito endurecido, mas o maior mérito não advém de salvar os não perdidos. Coragem, perseverança, e triunfarás afinal. Não há culpados que se não possam regenerar por meio da persuasão e do exemplo, visto como os Espíritos, por mais perversos, acabam por corrigir-se com o tempo. O fato de muitas vezes ser impossível regenerá-los prontamente, não importa na inutilidade de tais esforços. Mesmo a contragosto, as ideias sugeridas a tais Espíritos fazem-nos refletir. São como sementes que, cedo ou tarde, tivessem de frutificar. Não se arrebenta a pedra com a primeira marretada.
“Isto que te digo pode aplicar-se também aos encarnados e tu deves compreender a razão por que o Espiritismo não faz imediatamente homens perfeitos, mesmo entre os adeptos mais crentes. A crença é o primeiro passo; vindo em seguida a fé e a transformação a seu turno; mas, além disso, preciso é que muitos venham revigorar-se no mundo espiritual. Entre os Espíritos endurecidos, não há só perversos e maus. Grande é o número dos que, sem fazer o mal, estacionam por orgulho, indiferença ou apatia. Estes, nem por isso, são menos infelizes, pois tanto mais os aflige a inércia quanto mais se veem privados das mundanas compensações. Intolerável, por certo, se lhes torna a perspectiva do infinito, porém eles não têm nem a força nem a vontade para romper com essa situação.” (O Céu e o Inferno, cap. VII, Espíritos endurecidos - Xumène.)
As palavras acima podem ajudar-nos a compreender a questão inicialmente proposta.
A crença – diz o instrutor espiritual – é o primeiro passo. A fé virá depois. Mas a transformação, esse fato que vai caracterizar o verdadeiro espírita, poderá vir bem mais tarde e, talvez, pode ser que, antes disso, o indivíduo venha a ‘revigorar-se no mundo espiritual’, isto é, tenha de passar pelo processo da desencarnação e pelo balanço inerente a esse estágio fundamental na vida de todos nós.
A dificuldade de transformação não é, pois, algo inerente à doutrina espírita ou à sua incapacidade de renovar as criaturas, mas diz respeito tão-somente ao grau evolutivo das pessoas que, em dado momento da existência, se encontram com a verdade.
Os fatos revelam, no entanto, que a ação transformadora do Espiritismo pode dar-se no curso de uma mesma existência, sem necessidade de que a pessoa, para se transformar, tenha de atravessar os umbrais da morte.
Hilário Silva conta-nos a respeito um caso muito curioso, por ele intitulado A confissão do zelador, que o leitor pode ler no livro Almas em Desfile, 2ª Parte, cap. 21, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
A história envolve um homem que buscou no Espiritismo a paz que ele havia perdido desde que, cinco anos antes, encontrou o cadáver de um amigo – Fulgêncio de Abreu – no cantinho de um bar que ambos frequentavam. O corpo estava de costas no piso. O rapaz fora asfixiado por fina corda depois de haver recebido forte pancada no crânio.
Acusado pelo crime que não cometeu, sofreu ele pesadas humilhações na polícia, mas, mesmo em liberdade, não conseguia tirar da mente o quadro do amigo morto. Em toda parte via a testa, os lábios, os olhos esbugalhados, o colar de sangue... Mais tarde, descobriu-se que o homicídio envolvia um caso de mulher, mas a vida dele continuou um caos, porque não comia, não dormia e permanecia agarrado à impressão do lamentável episódio.
Conduzido por um amigo a uma Casa Espírita, as coisas foram, aos poucos, se normalizando. As reuniões de estudo, as palestras, os passes, o auxílio ao próximo lhe restituíram a paz e tornaram-no uma nova pessoa, um homem transformado, dedicado ao trabalho e espírita convicto.
Quanto ao autor da morte de Fulgêncio, o conhecimento do Espiritismo exerceu também importante papel, que não relataremos aqui para não tirar do leitor o delicioso prazer de saber desse desfecho indo diretamente à fonte.

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