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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Philippe Pinel, benfeitor da Humanidade


GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
De Goiânia-GO 

Semântica é a parte da gramática que estuda o significado (que em muitos casos modifica-se com o tempo) das palavras.
Na cidade do Rio de Janeiro existe o Instituto Philippe Pinel, para tratamento de doentes mentais.
No Brasil, a palavra pinel tornou-se sinônimo de adoidado, amalucado. E certamente foi o carioca – com sua irreverência – que lhe atribuiu esse sentido. Este fato revela quanto a ignorância distorce os assuntos, pelo infeliz significado atribuído ao nome do cientista francês.
Veremos, abaixo, que nada mais equivocado e injusto para com o generoso médico que, afinal, humanizou o tratamento do doente mental, oferecendo a ele tratamento digno, amoroso.
A rigor, ‘ficar pinel’ deveria significar ‘tornar-se amoroso, fraterno, humano, pleno de compaixão’.
Essa distorção lembra o personagem do livro “Alice Através do Espelho” – de Lewis Carroll –, Humpty Dumpty que diz a ela, num tom bastante desdenhoso:
“– Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente o que quero que signifique: nem mais nem menos.”
Contestado por Alice, ele retruca que as palavras possuem o sentido que lhes atribui o chefe, que é, afinal, quem manda!

*

Philippe Pinel (Saint André, 20/04/1745 – Paris, 25/10/1826) foi um médico francês que publicou em 1801 o ‘Tratado médico-filosófico sobre a alienação ou a mania’, no qual descreveu uma nova especialidade médica, que viria a se chamar Psiquiatria (1847).
Considerou doentes os que sofriam de perturbações mentais e que, ao invés de maltratados, mereciam tratamento adequado. “Foi o primeiro médico a tentar descrever e classificar algumas perturbações mentais.” Até então não havia como se falar em obsessões, em perseguições espirituais.
Eis excertos de estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas, em 2000, extraído do site: http://www.comciencia.br/reportagens/manicom/manicom8.htm
História dos manicômios
Asile, madhouse, asylum, hospizio, são alguns dos nomes que denominam as instituições cujo fim é abrigar, recolher ou dar algum tipo de assistência aos "loucos".
(...)
No século XVII os hospícios proliferam e abrigam juntamente os doentes mentais com marginalizados de outras espécies. O tratamento que essas pessoas recebiam nas instituições costumava ser desumano, sendo considerado pior do que o recebido nas prisões. Diversos depoimentos – como o de Esquirol, um importante estudioso destas instituições no século XIX – retratam este quadro:
"Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais." (Esquirol, 1818, apud Ugolotti, 1949.)

Influenciado pelos ideais do iluminismo e da Revolução Francesa, Philippe Pinel (1745-1826), diretor dos hospitais de Bicêtre e da Salpêtrière, foi um dos primeiros a libertar os pacientes dos manicômios das correntes, propiciando-lhes uma liberdade de movimentos por si só terapêutica.
(...)
Mesmo após as reformas instituídas no século XIX por Pinel, um dos primeiros a aplicar uma "medicina manicomial", o tratamento dado ao interno do manicômio ainda era mais uma prática de tortura do que a de uma prática médico-científica.
(...)
Eram correntes as práticas de sangria, de isolamento em quartos escuros, de banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência.(...)]
(Redação: Fábio Sanchez; Marta Kanashiro; Rafael Evangelista e Renato Nunes.)
Outro texto nos informa: Na primavera de 1793, apenas quatro anos após a Revolução Francesa, (...) um jovem doutor em Medicina corria pelos pátios da Universidade de Paris, em direção ao Hospital La Bicêtre (...).
Ali se encontravam internados (...) esquizofrênicos e psicopatas, e a esquizofrenia tida como possessão diabólica desde a Idade Média, era, portanto, uma doença irreversível, incurável. (...)
Chamou o guarda, e lhe disse:
– Eu aqui venho para libertar os pacientes; a partir de hoje os psicopatas terão direito à sua liberdade, pois não podem ficar encarcerados pelo crime de serem doentes, graças ao atraso da Medicina.
O guarda, então, lhe responde:
– Doutor, talvez o senhor não saiba que aqui se encontram os loucos mais agressivos de França e da Europa, e eu não posso abrir as celas, porque se eu abrir essas celas, eles vão me matar e depois matarão o doutor. (...)
O jovem médico pede ao guarda que lhe dê o molho de chaves e passa, ele mesmo, a efetuar a tarefa de abrir aquelas celas. Abre o cadeado central e retira a pesada corrente que se estendia por todas as portas e passa a abrir uma a uma daquelas celas. (...)
Era a escória humana; alguns estavam presos há mais de vinte anos; eram homens e mulheres de olhares perdidos, sem noção do que acontecia. Eram degradados sem qualquer identidade. Mas, de repente, um homem de cabeleira enorme, abrindo seus braços e pernas, começou a escalar as paredes daquele corredor em direção à claraboia, como se pretendesse fugir por ali, o que seria impossível, tendo em vista que esta era fechada por grossas barras de ferro.
O médico assistiu àquela cena, até que o homem pendurou-se nas barras e gritou:
– Meu Deus! Meu Deus! Eu já havia me esquecido da beleza de um raio de sol.
Soltou-se das barras, despencando no chão, e (...) rastejou até o jovem doutor, abraçou-lhe as pernas e lhe disse: Muito obrigado doutor! Muito obrigado. O médico ergueu-o pelas axilas e o abraçou ternamente.
(...) há menos de um mês, ele havia (...) proposto (...) a libertação daqueles psicopatas e os colegas lhe haviam perguntado:
– O que você pretende fazer com eles? E ele lhes havia respondido:
– Curá-los.
– E se você não conseguir?
– Então vou amá-los, restituindo-lhes o direito a serem criaturas humanas; desejo oferecer-lhes a dignidade humana.”
(Extraído de Seara Espírita Joanna de Ângelis – Jul/2008, n. 2 – Edição 17, do artigo ‘Desalento’, de Augusto Cantusio Neto.)
No livro Grilhões Partidos (Cap. 20, p. 181), Manoel P. de Miranda refere-se ao Dr. Pinel e exalta sua conduta amorosa junto aos enfermos.
‘Pinel’, pois, deveria significar ‘amoroso, fraterno, humano, pleno de compaixão’.


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