A ti que me ouves
Alceu de Freitas
Wamosy
Como o dia ao findar,
o decesso(1) não trunca
O poder do ideal e a
corrente da vida...
Nem ancinho a morder,
nem mão em garra adunca...
A morte? Apenas sonho
embalando a partida...
Se o caminho em que
vais é trilha que se junca
De farpas, lama e
fel, sem clareira ou saída,
Sê compaixão somente
e não sentirás nunca
A sombra da tristeza
ou a esperança perdida.
Se a agonia envenena
o pranto de teus olhos,
Qual rocio letal no
lodo que te banha,
Não te fira a visão
de tremedais(2) e abrolhos(3).
O amor é como o sol
ante o charco profundo...
Amando, entenderás
que a dor mais rude e estranha
É sempre a Lei de
Deus que se move no mundo...
(1) Decesso: morte, óbito, passamento.
(2) Tremedais: plural de tremedal - pântano; (fig.)
degradação moral; torpeza.
(3) Abrolhos: (fig) dificuldades, penas,
desgostos, mágoas, mortificações.
Alceu de Freitas Wamosy nasceu em
Uruguaiana-RS em 14/2/1895, e desencarnou em Livramento, no mesmo Estado, em
13/9/1923. Poeta e jornalista, trabalhou ativamente na imprensa, principalmente
depois que fixou residência em Livramento, tendo sido diretor de O Republicano. O soneto acima integra o
livro Antologia dos Imortais, obra
psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
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