ARTHUR BERNARDES DE
OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
De Guarani, MG
V - Mas o bote falhou
Mas o bote
redundou no mais desastroso fracasso.
E é bom que
se analise bem o que isso representava. Porque outra coisa não tenho feito,
nesta vida, senão colecionar fracassos.
Eu provaria,
facilmente, isso, não fosse fugir ao espírito dessa brincadeira narrada. Mas
vale a sinceridade da afirmação: – Tenho sido, pelo menos fui, durante muito
tempo, o mais completo colecionador de fracassos pessoais, nessas terras das
Alterosas.
Mas
continuemos.
Aluguei um
carro, vesti o meu terno, o único, o solitário, nem muito bom, nem muito novo,
mas com a grande vantagem de ser o único.
Aqui eu
interrompo para uma divagação importante.
Vesti meu
primeiro terno, quando terminei o curso ginasial, em 1948. Estava, com 17 anos.
O primeiro sapato também não fazia muito tempo. Basta dizer que o calçado que
me levou ao colégio em 1945 era uma chuteira velha, dada não sei por
quem.
É tão
importante isso que o primeiro depois foi substituído pelo único. Quando, em
1953, fui estabelecer-me em Garça, meu mano Amaury, acho que acanhado com a apresentação
do irmão, e com o frio da terra, mandou-me fazer dois ternos. Para não fugir à
predestinação, só um serviu. O outro ficou curto demais.
De lá para
cá, não sei se por capricho ou por preguiça, o certo é que não me importei mais
com roupa.
Basta dizer
que, estando, hoje, em melhor situação do que antes, os dois ternos que tenho
me foram dados: um pelo Ayres, outro pelo Simonini.
Mas vesti o
meu terno, e lá fomos, Jadinha (Jáder
Pacheco) e eu, rumo ao baile de Guarani. Estava absolutamente certo de que o
pássaro estaria na mão. Daquele rabo, alguns fios voltariam comigo, presos na
palma de minha mão.
Entramos e
fomos para uma mesa lá no fundo do salão, à direita de quem entra. Parece-me
que era a última mesa. Atrás de nós, apenas a porta que conduz as garotas para
o reservado que foi feito para os retoques de maquilagem, mas que elas
transformaram em sala de fumar.
VI – O baile e a cerveja
O garçom nos
viera anunciar que, sem saber por quê, a geladeira tinha parado de funcionar e
que as bebidas, portanto, não estavam geladas.
A noite
estava fria e resolvemos arriscar a cerveja quente mesmo. Nada mais
desagradável.. Aquela coisa choca engrossando na garganta e deixando um pigarro que até hoje
não desapareceu.
A mão no copo
e os olhos na sala. Eu tinha dezesseis olhos cravados no salão. Com os dois do
colega, que sabia do meu plano, eram dezoito olhos à procura de alguém.
A orquestra
tocava um bolero. Mais outro. Outro mais. E a turma dançando. E a noite
passando. E eu sem ver nada.
Carminha
(Maria Carmem, futura cunhada) não perdia uma volta, mas e a irmã? João Velho
me tinha dito que ambas não perdiam os bailes. Que dançavam por instinto e
vocação. Mas a irmã não veio!
Finalmente a
orquestra parou. Os pares se separaram e o salão ficou vazio.
Foi aí que o
choque me pegou.. Lá no canto oposto, em diagonal com a minha mesa estava ela. Mas
não estava só.
Iniciara
justamente naquele dia o namoro agourento. E o cabra não dançava. E ambos,
compenetrados, do canto da sala, dominando o mundo e o tempo.
– Garçom,
outra cerveja!
E bebemos a
noite inteira. Cerveja quente, mas que ficou gostosa.
Na volta para
casa, lembro-me bem do Jadinha sorrindo e gozando sem parar. E perguntava, para
ele mesmo responder, em meio a gargalhadas:
– Que fomos
fazer em Guarani?
– Beber
cerveja quente. Pra isso não precisávamos ter ido a baile, e a baile fora.
Bastava o bar do Zoroastro.
E eu mudo,
também sorrindo, tecia novos planos para o assalto final. (Continua.)
Nota:
O texto acima
faz parte do livro intitulado “A história que eu sei contar”, escrito por
Arthur Bernardes de Oliveira e concluído no dia 28 de julho de 1964. O livro
compõe-se de 20 capítulos e será aqui publicado ao longo de dez semanas, sempre
aos sábados. A primeira parte foi publicada neste blog no dia 28 de julho de
2013.
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