Um leitor radicado na Paraíba pergunta-nos: “Sabemos o
que é Umbral, na Doutrina Espírita. Foi Allan Kardec quem primeiro nominou-o?”
Não. O termo Umbral, com o sentido que as narrativas
mediúnicas lhe dão, jamais foi, pelo que sabemos, utilizado por Kardec.
É interessante lembrar, porém, que vários aspectos
característicos da chamada zona umbralina foram destacados por Allan Kardec em
diversos textos que ele inseriu na Revista
Espírita e em seu livro O Céu e o
Inferno.
Segundo as informações contidas no livro Nosso Lar, de André Luiz, o chamado
Umbral nada mais é do que uma região espiritual de transição. Debatem-se na
zona umbralina Espíritos desesperados, infelizes, malfeitores e vagabundos de
várias categorias. Cada Espírito ali permanece o tempo que se faça necessário
ao esgotamento dos resíduos mentais negativos, mas seus habitantes separam-se
dos encarnados tão somente por leis vibratórias. Silêncio implacável, cortado
às vezes por gargalhadas sinistras e uma paisagem, quando não totalmente
escura, banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, essa
era a região em que o próprio André Luiz viveu por vários anos, assediado por
seres monstruosos e vultos negros que o acordavam irônicos e lhe dirigiam
acusações impensáveis.
Dito isto, vejamos o que Kardec publicou em sua obra:
1. No Espaço existem Espíritos mergulhados em densa
treva, enquanto outros se encontram em absoluto insulamento, atormentados pela
ignorância da própria posição, como da sorte que os aguarda. Os mais culpados
padecem torturas muito mais pungentes por não lhes entreverem um termo. Alguns
são privados de ver os seres queridos, e todos, geralmente, passam com
intensidade relativa pelos males, pelas dores e privações que a outrem
ocasionaram. (O Céu e o Inferno, 1ª.
Parte, cap. VII, tópico 25º.)
2. O Espírito de Claire, em mensagem mediúnica,
refere-se ao marido, que muito a martirizara, e à posição em que ele se
encontrava no mundo espiritual. Eis o trecho: “Queres saber qual a situação do
pobre Félix? Erra nas trevas entregue à profunda nudez de sua alma. Superficial
e leviano, aviltado pelo sensualismo, nunca soube o que eram o amor e a
amizade. Nem mesmo a paixão esclareceu suas sombrias luzes. Seu estado presente
é comparável ao da criança inapta para as funções da vida e privada de todo o
amparo. Félix vaga aterrorizado nesse mundo estranho onde tudo fulgura ao
brilho desse Deus por ele negado.” (O Céu
e o Inferno, no cap. IV da 2ª Parte, cap. IV.)
3. Georges (Espírito) descreve o castigo infligido aos
maus Espíritos. Enquanto dão vazão à sua raiva, eles são quase felizes; no
entanto, passam os séculos e eles sentem-se de súbito invadidos pelas trevas,
advindo daí o remorso e o arrependimento, seguidos de gemidos e expiações. (Revista Espírita de 1860, pp. 331 e
332.)
4. Os Espíritos têm todas as percepções que tinham na
Terra, mas em mais alto grau, porque suas faculdades não são amortecidas pela
matéria. Para eles não existe escuridão, salvo para aqueles cuja punição é
ficarem temporariamente nas trevas. (Revista
Espírita de 1864, pp. 106
a 112.)
5. Comentando uma comunicação espontânea obtida na
Sociedade Espírita de Paris, sendo médium a Sra. Costel, diz Kardec que,
enquanto uns Espíritos são mergulhados nas trevas, outros são imersos em ondas
de luz, que os ofuscam e penetram, como setas agudas. (Revista Espírita de 1864, p. 218.)
6. No dia 3 de fevereiro de 1865 ocorreu o falecimento
da Sra. Foulon, que, três dias depois, se manifestou na Sociedade Espírita de
Paris. Informando ter estado lúcida desde o trespasse, a Sra. Foulon não
conheceu a perturbação pós-morte. “Só os que têm medo – explicou ela – são
envolvidos por suas espessas trevas.” (Revista
Espírita de 1865, pp. 73 a
75.)
7. Num dos grupos espíritas existentes em Marselha, a
Sra. T... recebeu psicograficamente uma comunicação de um operário que dias
antes havia desencarnado no desmoronamento de uma ponte. O operário fora
materialista na Terra. Na mensagem, o comunicante dizia estar em trevas, mas
havia conseguido seguir um raio luminoso de um Espírito (pelo menos foi o que
lhe disseram, embora ele não acreditasse em Espíritos). (Revista Espírita de 1867, p. 242.)
Finalizando, é bom lembrar que Ernesto Bozzano, um dos
mais destacados pesquisadores do chamado Espiritismo Científico, confirma o que
Kardec e André Luiz nos ensinam a respeito do assunto, como podemos comprovar à
vista do seguinte texto extraído da obra A
Crise da Morte:
Os Espíritos se encontram novamente, na
vida espiritual, com a forma humana. Todos se acham num meio espiritual radioso
e maravilhoso (no caso de mortos moralmente normais) e num meio tenebroso e
opressivo (no caso de mortos moralmente depravados). Todos reconhecem que o
meio espiritual é um novo mundo objetivo, real, análogo ao meio terrestre
espiritualizado. Eles aprendem que isso se deve ao fato de que, no mundo
espiritual, o pensamento constitui uma força criadora, por meio da qual o
Espírito existente no “plano astral” pode reproduzir em torno de si o meio de
suas recordações. Os Espíritos dos mortos gravitam fatalmente e automaticamente
para a esfera espiritual que lhes convém, por virtude da “lei de afinidade”. (A Crise da Morte, pp. 164 a 166.)
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