Uma leitora pergunta-nos qual é o livro que apresenta o caso
da paralítica que Chico Xavier visitou numa cidade vizinha a Uberaba, sobre
a qual lhe veio depois a informação de que fora ela rainha numa anterior encarnação,
alguns séculos atrás.
O caso nos é apresentado no cap. 10 do livro
“Astronautas do Além”, obra elaborada em parceria por Chico Xavier, J.
Herculano Pires e Espíritos diversos.
Veja como o médium relatou essa história:
“Horas antes de nossa reunião pública, com quatro
irmãos que se achavam em nossa companhia, fomos a cidade vizinha visitar uma
criança doente. Não longe da casa em que reside a pequenina enferma encontramos
uma senhora paralítica, em recanto quase isolado de extensa zona rural, que nos
solicitou orarmos com ela por alguns momentos. Muito simpática e sofredora,
vivendo da caridade pública e sem qualquer parente, a situação dela realmente
nos comoveu muito. Voltamos para a nossa reunião. E, depois de nossa habitual
visita a alguns lares de irmãos nossos, passamos ao desenvolvimento das tarefas
da noite.
O Evangelho segundo o Espiritismo nos ofereceu a exame
a formosa página intitulada ‘Uma realeza terrestre’, no capítulo II, assinada
por entidade espiritual que se reportava às lutas que encontrara na posição
altamente destacada que usufruiu na Terra.
A comunicação foi carinhosamente estudada por uma de
nossas irmãs presentes. E, no encerramento da reunião, o poeta Epifânio Leite
nos trouxe o soneto com dedicatória expressiva. Ele mesmo, o poeta
desencarnado, informou-nos por audição referir-se à paralítica em penúria
material que havíamos visitado horas antes.”
O soneto, assinado por Epifânio Leite, intitula-se
“Refazimento” e diz o seguinte:
Vejo-te, soberana, aos painéis da memória!
O trono te emoldura a face de outras eras…
Oprimes sem temor, espancas onde imperas,
Fulges no fausto vão de vaidade ilusória!…
A paixão te esfogueia a fome de vanglória,
Exilas e destróis, humilhas e encarceras…
Vem a morte, no entanto, entre forças austeras,
E largas sob a cinza a pompa transitória!
Foi-se o tempo… Hoje achei-te em catre duro e
estreito,
Paralítica e só, parafusada ao leito!…
Chorei ao ver-te a choça e o triste quarto em ruínas!
Mas louvo o fel de agora ante o sol do futuro…
Pela dor subirás ao reino do amor puro
Em teu carro estelar de açucenas divinas!
Na apresentação do soneto, Epifânio Leite escreveu
estas palavras: “Versos dedicados à venerável irmã que conhecemos na realeza
terrestre, há quatro séculos. Culta, não espalhou os benefícios da
inteligência; amiga incondicional dos amigos e inimiga implacável dos
adversários; generosa para com os áulicos abastados e indiferente às vítimas da
penúria. Embora destacasse as vantagens da paz, incentivou, quanto pôde, as
guerras de conquista e ambição. Agradecida aos vassalos obedientes, perseguia
até à morte quantos não lhe observassem as diretrizes. Amada e odiada, alcançou
o Mais Além e, à frente da verdade, preocupou-se com a redenção própria.
Regressou à Terra, várias vezes, apagando-se devagar, quanto ao brilho terreno
que ostentava, até que rogou a prova final, em que a identificamos
presentemente, habilitando-se no corpo enfermo e disforme, em acentuada
penúria, para a ascensão próxima à Espiritualidade Superior. A essa irmã
admirável e valorosa, capaz de omitir-se e sofrer até a integral reparação da
própria grandeza em si mesma, oferecemos aqui a nossa pálida homenagem,
desejando-lhe plena vitória em Jesus e com Jesus.”
O poeta Epifânio Leite de Albuquerque nasceu e morreu
em Fortaleza-CE (1891-1942). Autor do livro de poesias “Escada de Jacó”, membro
da Academia Cearense de Letras, foi juiz de Direito em Baturité, no mesmo
Estado.
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