CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
A macieira
estava carregada de frutos, uns já maduros, bem vermelhinhos; outros ainda
aguardando o amadurecimento natural. Os galhos se arquearam pelo peso das
saborosas e nutritivas maçãs que alimentariam crianças, adultos e idosos do
local tão humilde.
Era uma
pequena comunidade somando cinco famílias, mas de gerações muito antigas, e a
árvore frutífera era imagem registrada de todo o tempo da existência daquele
grupo social. A muda da árvore fora trazida pelo primeiro homem a pisar o chão
daquele lugar. O ancião já falecido se chamava Enzo Galante que deixara o
sobrenome para a família.
E não havia
um ano sequer em que a macieira não produzira frutos tão viçosos e doces. As
famílias se reuniam para conversar sempre próximo da árvore de folhas miúdas e
verdinhas.
Um certo dia,
mais precisamente um domingo pela tarde, a pequena comunidade estava reunida
como de costume. As crianças engatinhavam entre os galhos baixos; alguns
adultos, com cuidado, colhiam uma fruta para comer e, de fato, eram momentos
preciosos.
No entanto,
quando alguns olhos mais experientes observaram a árvore puderam perceber que
os galhos mais no interior do pé estavam ressequidos, sem vida. Então, muito
surpresos, adultos e crianças se puseram a desvendar o enigma da ordem da
macieira, que tão querida e respeitada era por todos.
Nos olhos
infantis pairavam a triste ocasião e nos dos mais velhos, a surpresa
desencantadora era a tônica.
“O que
aconteceu com a árvore da maçã?” Essa era a pergunta intrigante repetida.
Os mais
experientes examinaram o interior dos galhos; as mulheres, com olhar
inconsolável, tentavam compreender o ocorrido; as crianças, tão rápido,
buscaram água fresca do poço para animar a planta; no entanto, em vão. Não havia secura da
terra, pois era sempre aguado, o pé de maçãs.
Logo veio a
noitinha e junto o brilho das estrelas ao alto e, ao mesmo tempo, tão próximo;
as estrelas acompanham todos os seres do Planeta e também o desencadeamento das
situações da vida sob a grandeza do infinito.
E durante a
noite, mais desalento recaiu sobre a tão antiga macieira que pela manhã já
estava sem vida. Alguns frutos insistiam em permanecer, presos, aos galhos,
porém, antes do meio-dia, tudo estava no chão, toda a árvore estava em repouso
sobre a terra que tanto a sustentou.
A pequena
comunidade rodeou a árvore desmantelada; os olhares eram de inexplicáveis
perguntas sem respostas, não podiam acreditar. Lágrimas escorriam dos mais
velhos e dos bem jovens. Como seriam os dias sem a macieira frondosa,
companheira e mãe de tantos frutos ao longo de todo o tempo.
Depois de
muito analisar, por meio de uma inspiração benfazeja, foi esclarecido a Marino
Galante, filho mais velho de Enzo, e agora, orientador da singela comunidade,
que para tudo há um tempo a ser cumprido.
Por isso tão
encantadora é a alma que valoriza o momento presente e atua com alegria e
agradecimento nas existências da vida, participando das histórias e amparando
os companheiros de jornada, pois viver, no melhor sentido semântico, é tudo de
maior para o espírito, essência da alma, energia eterna.
O valor das
pessoas amadas; das simples e essenciais palavras e ações; de um dia
primaveril; de mais uma vez estar com quem se ama; de abraçar quem tanto
necessita; de sorrir por ver um sorriso de criança; de interpretar no céu o
convite da eternidade; de passear pelos campos de tulipas e sentir o mar de
flores acalmar o ser e trazer beleza aos olhos que, assim, os observa e aos
corações que tanto amparo necessitam.
Com
inspiração de luz amorosa, Marino pronunciou as seguintes palavras:
“Da mesma
forma que o dia é necessário, também a noite o é, ambos possuem a duração
essencial para a bela produtividade dos vegetais, dos animais, da cadeia vital
como um todo. Tudo possui a duração exata, o tempo indispensável para o
trabalho ser realizado; uns aproveitam mais que os outros. E a nossa macieira
valeu-se com tanta sabedoria; produziu bons frutos por gerações; acalentou almas,
pois quantos vieram desabafar suas dores às folhas, frutos e galhos da sua boa
árvore; cativou crianças, adultos e idosos. Será lembrada com tanto carinho e
gratidão. Obrigado, querida macieira, pela companhia e ternura de tantos anos.
Descanse e volte para o universo, com sua energia tão benéfica e indispensável.
Estaremos aqui, pois tudo a seu tempo. Sábios são os que aproveitam os dias com
amor, trabalho e bondade. Obrigado, macieira.”
E após as
palavras gratas e carinhosas, Marino iniciou a saudação de tocar os galhos e
com alegria agradecer tanta dedicação da pequenina irmã. E a reduzida
comunidade imitou a ação respeitosa e após isso cada um seguiu para seus
afazeres e atividades.
A querida
macieira reincorporaria ao extrato natural; todo corpo integra o corpo maior do
universo, tudo volta ao que pertence, ao todo.
O mais
importante será sempre o bom desempenho diante da programação para cada
existência. E todo júbilo será sustentado pelo conjunto das boas escolhas,
amor, entendimento e pela sabedoria de que tudo faz parte de um todo e toda
ação repercute na vida.
A uns três
metros do pé de maçã, que agora descansava, foi observada uma pequenina
plantinha com as características de uma recém-nascida macieira feliz.
E muitos
novos sorrisos surgiram naquele momento e continuariam em todo o tempo de vida
da pequena plantinha de frutos tão doces e aconchegantes.
A vida é
contínua... incomparável... grandiosa.
Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura:
http://contoecronica.wordpress.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário