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sábado, 1 de novembro de 2014

As bases da riqueza


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Estávamos curtindo uma bela praia, plena de manjares dulcíssimos quando, inexplicavelmente, veio do céu uma onda gigantesca sobre nós e apenas escapei, eu e mais três amiguinhas, por estarmos uns 2.000 metros acima de nossas amigas, em tão grande número que parecia um formigueiro naquele espaço.
Foi muito triste o que ocorreu com todas aquelas filhas de Deus. Que mal fizeram elas para morrerem assim, brutalmente? Seu único desejo era curtir a doce vida que o Senhor lhes proporcionara, refrescar-se um pouco, alimentar-se do manjar caído do céu e amar sadiamente umas às outras numa convivência harmoniosa e pacífica.
E outra coisa, por que somente nós conseguimos escapar? Não éramos diferentes em nada de nossas irmãs, salvo pelo fato de desejarmos alcançar os píncaros daquela montanha feita de mármore. Agora, cabia-nos a nós continuar a reprodução de modo um pouco mais vantajoso do que a de Adão e Eva no paraíso e povoar o mundo, que, para nós é infinito.
De fato, como pode ter fim algo que você, em toda a sua vida andarilha, isto é, de corredora, percorre, percorre e nunca alcança mais do que alguns insignificantes quilômetros?
Não preciso de outro meio de transporte que não sejam minhas pernas, mas se houvesse um Nicolau Copérnico entre nós, ou um Galileu Galilei, por certo que seus astrolábios não divisariam o fim de nosso mundo e este seria considerado infinito.
Ah, sim, li na Wikipédia que faço parte de um só gênero, com 12.585 espécies (isso até meados de 2010); além disso, nosso peso supera o peso de toda a humanidade. Teríamos surgido no período cretáceo, há 100 milhões de anos, e nosso gênero é chamado Formicidae.
Agora a boa notícia: Não estou tão preocupada com o balde de água fria que Joteli jogou sobre nossas irmãs, na bela praia formada por seu tanque de lavar roupas, porque, como formiga rainha, em apenas uma semana, sou capaz de produzir outros 300.000 novos insetos.
Peço a Olavo Bilac, presente à fala da monarca formiga, que lhe faça alguns versos, e ele manda este, intitulado "As formigas":

Cautelosas e prudentes,
O caminho atravessando,
As formigas diligentes
Vão andando, vão andando…

Marcham em filas cerradas;
Não se separam; espiam
De um lado e de outro, assustadas,
E das pedras se desviam.

Entre os calhaus vão abrindo
Caminho estreito e seguro,
Aqui, ladeiras subindo,
Acolá, galgando um muro.

Esta carrega a migalha;
Outra, com passo discreto,
Leva um pedaço de palha;
Outra, uma pata de inseto.

Carrega cada formiga
Aquilo que achou na estrada;
E nenhuma se fatiga,
Nenhuma para cansada.

Vede! enquanto negligentes
Estão as cigarras cantando,
Vão as formigas prudentes
Trabalhando e armazenando.

Também quando chega o frio,
E todo o fruto consome,
A formiga, que no estio
Trabalha, não sofre fome…

Recorde-vos todo o dia
Das lições da Natureza:
O trabalho e a economia
São as bases da riqueza

É disto que o povo brasileiro precisa: obrar como as formigas, unidas, solidárias, fraternas e confiantes de que a união de todas, em torno de um líder competente, é fundamental a um país economicamente estável. Só então e, aí sim, terá como ser solidário com as demais nações do planeta. Sem arrumarmos primeiro nossa casa, como pretendermos pôr em ordem a casa alheia?



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