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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O que diz o Espiritismo sobre a alma e a vida


Um amigo, ainda neófito no tocante ao Espiritismo, pergunta-nos quais são as diferenças essenciais entre os ensinamentos que recebemos das religiões tradicionais e os ensinos espíritas.
Segundo a doutrina da Igreja católica, apostólica, romana, a alma, independente da matéria, é criada no nascimento de cada ser. Sobrevive e conserva sua individualidade depois da morte. A partir desse momento, sua sorte está irrevogavelmente fixada. Seus progressos ulteriores são nulos, e, por isso, ela será por toda a eternidade, intelectual e moralmente, o que era durante a vida.
A exceção a essa regra são os anjos, almas privilegiadas e isentas, desde a sua criação, de todo e qualquer trabalho para chegarem à perfeição.
Quanto a todos os outros, o regime é bem diferente.
Os indivíduos maus são condenados a castigos perpétuos e irremissíveis no inferno, do que resulta, para eles, a inutilidade completa do arrependimento. Parece, segundo tais ideias, que Deus não deseja que eles tenham a oportunidade de reparar o mal que fizeram.
Os bons, por sua vez, são recompensados pela visão de Deus e a contemplação perpétua no céu. Os casos que podem merecer, pela eternidade, o céu ou o inferno, são deixados para a decisão e o julgamento de homens falíveis, a quem é dado absolver ou condenar.
Essa doutrina ensina, ainda, a separação definitiva e absoluta dos condenados e dos eleitos e a inutilidade dos auxílios morais e das consolações para os condenados.
Em face de semelhante doutrina, ficam sem solução os problemas seguintes:
1º Por que Deus criou anjos, chegados à perfeição sem trabalho, ao passo que outras criaturas estão submetidas às mais rudes provas, nas quais têm mais chances de sucumbir do que de sair vitoriosas?
2º De onde vêm as disposições inatas, intelectuais e morais, que fazem com que os homens nasçam bons ou maus, inteligentes ou idiotas?
3º Qual é a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Por que entram elas na vida feliz sem o trabalho ao qual outras estão sujeitas durante longos anos? Por que são recompensadas sem terem podido fazer o bem, ou privadas de uma felicidade sem terem feito o mal?
4º Qual é a sorte dos cretinos e dos idiotas, que não têm consciência de seus atos?
5º Onde está a justiça da miséria e das enfermidades de nascimento, uma vez que não são resultado de nenhum ato da vida presente?
6º Qual é a sorte dos selvagens e de todos aqueles que morrem forçosamente no estado de inferioridade moral, onde se encontram colocados pela própria Natureza, se não lhes é dado progredir ulteriormente?
7º Por que Deus cria almas mais favorecidas umas do que as outras?
8º Por que o Criador chama a si, prematuramente, aqueles que teriam podido se melhorar se tivessem vivido por mais longo tempo, tendo em vista que não lhes é dado avançar depois da morte?

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A doutrina espírita ou o Espiritismo apresenta-nos uma visão totalmente diferente acerca da alma e da vida.
O princípio inteligente é independente da matéria. A alma preexiste e sobrevive ao corpo. É o mesmo o ponto de partida para todas as almas, sem exceção nenhuma. Todas são criadas simples e ignorantes, e submetidas ao progresso indefinido. Nenhuma criatura é privilegiada ou favorecida, mais do que as outras.
Os anjos são seres chegados à perfeição depois de terem passado, como as outras criaturas, por todos os graus da inferioridade. As almas, ou Espíritos, progridem mais ou menos rapidamente em virtude de seu livre-arbítrio, pelo seu trabalho e sua boa vontade. A vida espiritual é a vida normal; a vida corpórea é uma fase temporária da vida do Espírito, durante a qual ele reveste, momentaneamente, um envoltório material de que se despoja na morte.
O Espírito progride no estado corpóreo e no estado espiritual. O estado corpóreo é necessário ao Espírito até que ele atinja um certo grau de perfeição. Nesse estado, o Espírito se desenvolve pelo trabalho a que está sujeito pelas suas próprias necessidades, e adquire conhecimentos práticos especiais. Sendo uma única existência corpórea insuficiente para fazê-lo adquirir todas as perfeições, retoma um corpo tantas vezes quantas forem necessárias e, a cada vez, a ele chega com o progresso que alcançou em suas existências anteriores e na vida espiritual.
O estado feliz ou infeliz dos Espíritos é inerente ao seu adiantamento moral; sua punição é a consequência de seu endurecimento no mal; mas a porta do arrependimento jamais lhes é fechada, e podem, quando querem, retornar ao caminho do bem e chegar, com o tempo, à meta a que todos somos destinados.
As crianças que morrem em tenra idade podem ser mais ou menos avançadas, porque já viveram em existências anteriores, onde puderam fazer o bem ou cometer suas más ações. A morte não as livra das provas que devem sofrer, e recomeçam, em tempo útil, uma nova existência sobre a Terra ou em mundos superiores, segundo o seu grau de elevação.
A alma dos cretinos e dos idiotas é da mesma natureza que a de qualquer encarnado; e frequentemente sua inteligência é superior. Eles tão somente sofrem a insuficiência dos meios que têm para entrar em relação com os seus companheiros de existência, como os mudos sofrem por não poderem falar. Abusaram de sua inteligência, em suas existências anteriores, e aceitaram, voluntariamente, estar reduzidos à impossibilidade para expiarem o mal que cometeram. Finda essa expiação, voltam ao estado normal que caracteriza a criatura humana.



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