Dos inúmeros fatos lamentáveis registrados no ano que ora
termina, existe um que poderia perfeitamente ter sido evitado.
Recordemo-lo:
No dia 3 de maio de 2014, Fabiane Maria de Jesus, de 31
anos, foi linchada na cidade de Guarujá, no litoral paulista, depois de ser
confundida com uma suposta sequestradora de crianças. Fabiane, uma singela dona
de casa, voltava da casa de uma amiga aonde, segundo testemunhas, teria ido
buscar a Bíblia que lhe havia emprestado. O exemplar desse livro, que continha
uma foto das filhas, foi rasgado por seus agressores. Após a agressão, cometida
por dezenas de pessoas, a mulher foi deixada inconsciente, até que chegou a
polícia. Fabiane faleceu na manhã do dia 5, depois de dois dias internada na
UTI de um dos hospitais da cidade.
O verbo linchar significa justiçar ou executar sumariamente
uma pessoa, sem qualquer espécie de julgamento legal.
A origem da palavra remete-nos ao capitão William Lynch, um
cidadão norte-americano que viveu no período de 1742 a 1820 no condado de
Pittsylvania, Virgínia.
Antes da eclosão da Guerra Civil americana, o linchamento
era usado nos Estados Unidos principalmente contra os defensores dos direitos
civis, ladrões de cavalos e trapaceiros. No entanto, por volta de 1880, seu uso
se expandiu para grupos de status social supostamente mais baixo, tendo por
alvo negros, judeus, índios e imigrantes asiáticos.
A prática do linchamento, contudo, não começou na América
do Norte, porque, segundo alguns historiadores, o fato já havia sido registrado
na Europa por ocasião da Idade Média.
Na Antiguidade foram também inúmeros os relatos de
linchamentos promovidos ao arrepio da lei. Entre os judeus a lapidação — o
apedrejamento pela multidão — era uma penalidade aplicada em diversos casos,
tais como o adultério feminino e a homossexualidade masculina, dentre outros. O
Novo Testamento narra dois casos de lapidação que se tornaram célebres – o da
mulher adúltera, que Jesus acabou impedindo, e o de Estêvão.
Normalmente, o linchamento ocorre antes que os policiais cheguem
ao local onde se encontra a vítima, embora haja registros de casos em que o
alvo da ira coletiva se encontrava detido numa delegacia, sem que a força
policial fosse capaz de controlar o ódio dos agressores. E são eles também
comuns em prisões, principalmente contra presos acusados do crime de estupro.
O linchamento constitui um fenômeno de difícil
conceituação, dada a diversidade dos aspectos pertinentes à questão, mas
podemos afirmar, sem nenhuma dúvida, que demonstra total descrença na justiça
humana, acrescida da ausência de fé e desprezo pelas leis de Deus, cuja síntese
todos podemos encontrar nas lições que Jesus trouxe à Terra.
No caso de Guarujá (SP), como sabemos, agrediram e mataram
uma pessoa inocente e, assim, destruíram uma família.
É preciso convir, no entanto, que mesmo que Fabiane Maria
de Jesus fosse a pessoa procurada pela polícia, a ninguém caberia o direito de
justiçá-la, visto que prender, indiciar, acusar e julgar são tarefas que, em um Estado democrático de
direito, competem às autoridades legalmente constituídas para isso.
“Não julgueis, para
que não sejais julgados.”
A célebre advertência feita por Jesus, e anotada no cap. 7
do Evangelho segundo Mateus, ainda ecoa em nosso mundo, mas, lamentavelmente,
existem pessoas que não têm, como se vê, ouvidos capazes de ouvi-la.
Temos, porém, esperança de que isso um dia se modifique e
que fatos como o acima descrito jamais se repitam num país que se orgulha de
professar a doutrina ensinada pelo Cristo.
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