CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
Era um dia
comum, e o céu estava encoberto por nuvens que a qualquer minuto voltariam a
desaguar.
Cecília
voltava da escola na companhia de seu irmão menor, Gael, de oito; eles tinham
uma diferença de quase quatro anos.
Em segundos
já entraram pelo portão, pois a chuva muito prometia. Da varanda, através de
uma janela, a menina observou a mãe preparando carinhosamente o almoço e a filha
se demorou um pouco a observá-la e percebeu que a mãe chorava baixinho; Gael
seguiu direto para a cozinha e logo cumprimentou a mãe, Luísa.
– Chegamos,
mamãe – falou e abraçou-a.
– Olá, filho – a mãe respondeu disfarçadamente
enxugando os olhos e o abraçando também.
A filha
observou-a mais uns segundos e, um pouco triste, também se dirigiu à cozinha. O
cachorrinho fazia a maior festa com a chegada das crianças.
– Oi, mamãe – Cecília
cumprimentou-a com um beijo no rosto e um forte abraço.
– Oi, minha filha.
Tudo bem? – a mãe quis
saber ainda abraçada.
– Tudo bem,
mamãe. E você? – a filha
perguntou se soltando lentamente.
– Está tudo
bem... sempre com muito trabalho, mas está tudo bem, filha – a mãe respondeu sem muito
buscar o olhar da menina e logo voltou-se para o fogão.
Cecília
observou um pouco mais a mãe e esta, incomodada, logo pediu para a filha
trocar-se de roupa, lavar as mãos e vir para o almoço que a comida já estava
pronta; era para trazer também o irmão.
Durante a
ausência da menina, Luísa enxugou melhor os olhos e respirou fundo. Mais uns
minutinhos e os dois irmãos estavam trocados, de mãos limpas e sentados à mesa
para almoçarem.
– Mamãe, o
papai não vem de novo para almoçar? –
a filha perguntou.
Luísa colocou
mais uma colherada de sopa na boca e, com isso, ganhou tempo para criar uma boa
resposta.
– O seu pai
está trabalhando numa cidade próxima e voltará à tardezinha – ela respondeu.
Um silêncio
se instalou no ambiente. Cecília, olhando para o prato de sopa, continuou
comendo; a mãe passou, rapidamente, os olhos pela menina.
Após o
almoço, a mãe lhes serviu uma salada de frutas simples, colhidas do quintal; a
mãe cuidava de uma horta e de alguns pés de frutas que ela mesma plantara. Em
seguida, o filho pediu licença e saiu para brincar. Restaram apenas mãe e
filha, criaturas que muito se amavam e se compreendiam.
Um pouco mais
de silêncio entre as duas até que Cecília falou:
– Mamãe,
quando chegamos... vi, pela janela, que você estava chorando.
A mãe se
surpreendeu e demorou para responder.
– Também percebo que você e o
papai não se conversam...
– Ora, filha.
Estava cortando a cebola... por isso os olhos arderam – a mulher logo falou.
A filha ficou
olhando o jeito da mãe e mais se convencia de que havia algum problema.
Então, Luísa
também se calou e as lágrimas começaram a descer pela face.
– Mamãe,
agora você não está mais cortando cebola.
– Sim, filha. Agora não estou –
a mulher falou enxugando o rosto. – Minha querida, há momentos que
ficamos mais sensíveis com algumas coisas, alguns pensamentos... só isso – a
mãe tentou amenizar a preocupação da filha.
– Mas e o papai... que quase
nunca está em casa e nem tem trabalho todo dia? – a menina questionou.
– Meu bem, sei que o seu pai não
é o que você queria, mas é o que você tem... e ele é o seu pai – a mãe afirmou
com carinho. – Lembro-me de que meu avô dizia que nunca poderemos mudar o
outro, no entanto, podemos nos mudar a todo tempo.
– Não
entendi, mamãe.
– Podemos fazer coisas melhores,
filha, como melhorarmos o nosso sentimento e atitude. E, assim, o que tanto nos
incomoda passa a ser suavizado e começamos a dar mais importância àquilo que
realmente nos faz bem... e ainda o nosso exemplo pode ser também a
grande mudança para a outra pessoa – a mãe falou.
Naquele dia,
o pai apareceu para almoçar. As duas, ainda sentadas à mesa, muito se
surpreenderam.
– Sente-se, Jorge. Vou lhe
servir a comida – a esposa falou já se levantando.
– Oi, papai. Tudo bem? –
a filha perguntou.
– Sim, estou... mas não vai se
levantar? – o pai perguntou.
– Não, papai. Vou lhe fazer
companhia – a filha respondeu com um discreto sorriso.
A mãe
observou, muito assustada, pois sabia da aversão que Cecília tinha pelo pai. A
filha nunca se aproximava dele, nem brincava ou conversava com ele. Entretanto,
a partir daquele momento, com o aprendizado das palavras maternas, a menina
começou a muito se melhorar, principalmente, em relação a seu pai que tanto
sentiu a modificação e se esforçou também para ser um melhor pai e marido.
Daquele dia
em diante, nascera uma nova família. Jorge arrumou emprego regular e Cecília,
com amor, passou a enxergar o pai.
Sabe-se que a
grande mudança é sempre individual e esta, também um grande exemplo para os
companheiros.
Quando
lágrimas, a partir daquele dia, escorriam pela face de Luísa, eram somente da
alegria em ver sua família mais unida pelo respeito e o nascimento do amor,
especialmente, entre pai e filha.
De fato, todo
núcleo familiar está arranjado como se deve ser, ou por amor ou pela dor; ambos
só trarão o progresso. No entanto, a sabedoria consiste na melhoria individual
que acarretará, de forma imprescindível, o melhoramento coletivo.
Torna-se
evidente que o ajuste pode ser realizado por meios contrários: ou por uma
estrada tranquila ou por uma totalmente atormentada.
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