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domingo, 12 de abril de 2015

Que existe por trás das mortes coletivas?


No ano passado, a nação acompanhou, incrédula, os desdobramentos do desastre aéreo ocorrido em Santos (SP) na manhã do dia 13 agosto, no qual sete pessoas ocupantes da aeronave acidentada pereceram, dentre elas o ex-governador Eduardo Campos, de Pernambuco, então candidato a presidente da República.
Há menos de três semanas, mais precisamente no dia 24 de março, outro desastre aéreo comoveu o mundo. Referimo-nos à queda de um Airbus A320 da companhia aérea Germanwings, controlada pela Lufthansa, que saíra de Barcelona com destino a Düsseldorf, na Alemanha. As 150 pessoas que estavam a bordo não resistiram ao acidente.
As mortes coletivas sempre causam grande comoção e suscitam em todas as pessoas reflexões inúmeras, como, por exemplo, a fragilidade da vida humana e esse que é para muitos verdadeiro mistério, que faz com que pessoas tão jovens deixem o nosso plano, enquanto idosos chumbados a um leito de hospital, sem nenhuma esperança de cura, continuam por aqui.
Esse episódio levantou, como o anterior, uma velha questão que acabou chegando até nós:
– Que existe na literatura espírita a respeito das causas das mortes coletivas?
Quem primeiro tratou do assunto, pelo que nos consta, foi Emmanuel em uma obra escrita em 1940 e publicada no ano seguinte pela Editora da FEB. Eis a questão que lhe foi proposta e sua resposta:

250. Como se processa a provação coletiva? – Na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados, participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do pretérito para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais “doloroso acaso” as circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais. (O Consolador, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.)

Em 1957, no cap. 18 do livro Ação e Reação, também psicografado por Francisco Cândido Xavier, André Luiz reportou-se ao tema. No livro é relatado o caso Ascânio e Lucas, acerca dos quais o instrutor Druso disse o seguinte:

"Há trinta anos, desfrutei o convívio de dois benfeitores, a cuja abnegação muito devo neste pouso de luz. Ascânio e Lucas, Assistentes respeitados na Esfera Superior, integravam-nos a equipe de mentores valorosos e amigos... Quando os conheci em pessoa, já haviam despendido vários lustros no amparo aos irmãos transviados e sofredores. Cultos e enobrecidos, eram companheiros infatigáveis em nossas melhores realizações. Acontece, porém, que depois de largos decênios de luta, nos prélios da fraternidade santificante, suspirando pelo ingresso nas esferas mais elevadas, para que se lhes expandissem os ideais de santidade e beleza, não demonstravam a necessária condição específica para o voo anelado. Totalmente absortos no entusiasmo de ensinar o caminho do bem aos semelhantes, não cogitavam de qualquer mergulho no pretérito, por isso que, muitas vezes, quando nos fascinamos pelo esplendor dos cimos, nem sempre nos sobra disposição para qualquer vistoria aos nevoeiros do vale... Dessa forma, passaram a desejar ardentemente a ascensão, sentindo-se algo desencantados pela ausência de apoio das autoridades que lhes não reconheciam o mérito imprescindível.” (Ação e Reação, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.)

Druso disse então que, chamados ambos a exame devido, técnicos do Plano Superior lhes reconduziram a memória a períodos mais recuados no tempo. Diversas fichas de observação foram extraídas, então, do campo mnemônico, à maneira das radioscopias dos atuais serviços médicos no mundo e, através delas, importantes conclusões surgiram à tona.
Ascânio e Lucas possuíam, de fato, créditos extensos, adquiridos em quase cinco séculos sucessivos; no entanto, quando a gradativa auscultação alcançou o século XV, algo surgiu que lhes impôs dolorosa meditação: "Arrebatadas ao arquivo da memória e a doer-lhes profundamente no espírito, depois da operação magnética a que nos referimos, reapareceram nas fichas mencionadas as cenas de ominoso delito por ambos cometido, em 1429, logo após a libertação de Orleães, quando formavam no exército de Joana d'Arc. Famintos de influência junto aos irmãos de armas, não hesitaram em assassinar dois companheiros, precipitando-os do alto de uma fortaleza  no território de Gâtinais, sobre fossos imundos, embriagando-se nas honrarias que lhes valeram, mais tarde, torturantes remorsos além do sepulcro".
Nesse ponto, inquiridos se desejavam prosseguir na sondagem singular, responderam negativamente, preferindo liquidar a dívida, antes de novas imersões no passado. Ascânio e Lucas suplicaram, assim, o retorno ao campo dos homens, no qual resgatariam o débito aludido. Como podiam escolher o gênero de provação, em vista dos recursos morais amealhados no mundo íntimo, optaram por tarefas no campo da aeronáutica, a cuja evolução ofereceram as suas vidas.
Fazia dois meses – informou Druso – que os dois amigos haviam desencarnado, em virtude de um acidente aviatório, tendo sofrido, desse modo, a pedido deles, a mesma queda mortal que infligiram aos companheiros de luta no século XV.



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