O Remorso
Antero de Quental
Quando fugi da dor,
fugindo ao mundo,
Divisei aos meus pés, de
mim diante,
A medonha figura de
gigante
Do Remorso, de olhar
grave e profundo.
Era de ouvir-lhe o grito
gemebundo,
Sua voz cavernosa e
soluçante!...
Aproximei-me dele,
suplicante,
Dizendo-lhe, cansado e
moribundo:
— “Que fazes ao meu
lado, corvo horrendo,
Se enlouqueci no meu
degredo estranho,
Acordando-me em
lágrimas, gemendo?”
Ele riu-se e clamou para
meus ais:
“Companheiro na dor, eu
te acompanho,
Nunca mais te abandono!
Nunca mais!”
Nascido na ilha de São Miguel,
nos Açores, em 1842, Antero de Quental desencarnou por meio do suicídio, em
1891. Foi um vulto eminente e destacado nas letras portuguesas, caracterizando-se
por seu espírito filosófico. O soneto acima integra o livro Parnaso de Além-Túmulo, obra
psicografada por Francisco Cândido Xavier.
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