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domingo, 19 de julho de 2015

O acaso não existe; a vida é causal, não casual



Toda vez que se registra algo inusitado, imprevisível, inesperado, costumamos atribuí-lo ao chamado acaso, um tema que já analisamos em diversas oportunidades.
Fizeram a Emmanuel a seguinte pergunta: – O “acaso” deve entrar nas cogitações da vida de um espiritista cristão?
Emmanuel respondeu:

“O acaso, propriamente considerado, não pode entrar nas cogitações do sincero discípulo da verdade evangélica. No capítulo do trabalho e do sofrimento, a sua alma esclarecida conhece a necessidade da própria redenção, com vistas ao passado delituoso e, no que se refere aos desvios e erros do presente, melhor que ninguém, a sua consciência deve saber da intervenção indébita levada a efeito sobre a lei de amor, estabelecida por Deus, cumprindo-lhe aguardar, conscientemente, sem qualquer noção de acaso, os resgates e reparações dolorosas do futuro”. (O Consolador, obra psicografada pelo médium Chico Xavier, pergunta 186.)

Lemos no livro Conduta Espírita, de André Luiz, estas duas recomendações:

“Usar com prudência ou substituir toda expressão verbal que indique costumes, práticas, ideias políticas, sociais ou religiosas, contrárias ao pensamento espírita, quais sejam sorte, acaso, sobrenatural, milagre e outras, preferindo-se, em qualquer circunstância, o uso da terminologia doutrinária pura.” (Conduta Espírita, obra psicografada pelo médium Waldo Vieira, capítulo 13.)

“Libertar-se das cadeias mentais oriundas do uso de talismãs e votos, pactos e apostas, artifícios e jogos de qualquer natureza, enganosos e prescindíveis. O espírita está informado de que o acaso não existe.” (Obra citada, cap. 18.)

O escritor J. Herculano Pires, na obra Na Era do Espírito, escrita em parceria com Chico Xavier e Espíritos diversos, anotou:

“Os familiares desagradáveis são hoje o que deles fizemos ontem. Nada acontece por acaso, sem razão, em nossas vidas.” (Na Era do Espírito, cap. 2.)

“Nada acontece por acaso. Tudo resulta da lei de causa e efeito. E todo efeito tem um sentido: o da evolução. Todos somos Espíritos faltosos e sofremos as provas que pedimos antes de encarnar. Temos dívidas coletivas a resgatar. Mas além do resgate espera-nos a liberdade, a paz, o progresso.” (Obra citada, cap. 3.)

Os fatos que nos cercam, as provações que nos acometem, os sucessos e os insucessos da vida, nada disso deve ser atribuído ao acaso, à sorte ou ao azar, porque tais coisas são fruto da chamada lei de causa e efeito, que é retratada no caso Letil, narrado por Kardec no cap. VIII da 2ª Parte do livro Céu e Inferno, que adiante resumimos.
Letil foi um industrial que residia nos arredores de Paris e teve, em abril de 1864, uma morte horrível: incendiou-se uma caldeira de verniz fervente e ele, num piscar de olhos, foi atingido pela matéria candente. Letil, embora vendo que estava perdido, ainda teve ânimo de caminhar até o seu domicílio, à distância de mais de 300 metros. Quando lhe prestaram os primeiros socorros, suas carnes dilaceradas caíam aos pedaços, desnudando os ossos de uma parte do corpo e da face. Ainda assim, sobreviveu por doze horas, em meio a cruciantes sofrimentos, conservando, porém, até o fim perfeita lucidez.
Devidamente assistido no mundo espiritual, Letil narrou na Sociedade Espírita de Paris como ocorreu a sua desencarnação e a causa de sua expiação. “Vai para dois séculos – disse ele – mandei queimar uma rapariga, inocente como se pode ser na sua idade – 12 a 14 anos. Qual a acusação que lhe pesava? A cumplicidade em uma conspiração contra a política clerical. Eu era então italiano e juiz inquisidor; como os algozes não ousassem tocar o corpo da pobre criança, fui eu mesmo o juiz e o carrasco.”
Dirigindo-se a todos os que deploram o esquecimento das vidas passadas, Letil exclamou:

“Oh! vós, adeptos da nova doutrina, que frequentemente dizeis não poder evitar os males pela insciência do passado! Oh! irmãos meus! bendizei antes o Pai, porque, se essa lembrança vos acompanhasse à Terra, não mais haveria aí repouso em vossos corações.” E acrescentou: “Como poderíeis vós, constantemente assediados pela vergonha, pelo remorso, fruir um só momento de paz? O esquecimento aí é um benefício, porque a lembrança aqui é uma tortura.” (Céu e Inferno, 2ª Parte, cap. VIII, Letil.)


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