JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Estava-se no Tribunal, quando execrável juiz lavrou sua iníqua sentença de condenação a alguns
políticos, grandes baluartes da
democracia brasileira atual, por pequenos
deslizes praticados por esses insignes representantes do nosso povo. Começava
ali a descoberta de que, todo ano, 50 bilhões de reais são desviados dos cofres
públicos brasileiros, o que daria para resolver a educação de nossas crianças e
jovens com melhores escolas, melhor formação e salário de seus professores,
cuja classe, em países sérios, é tratada com dignidade e respeito.
Um dos jurados presentes louvou o perverso magistrado com as seguintes
palavras:
— “Bema-venturados” são os sábios como
Vossa Excelência...
Ao que o árbitro das trevas respondeu com humildade:
— Depois dessa, sei que nada sei...
E nós refletimos, amigo leitor:
—
Se assim é, “bema-mados” pelo fisco são os nossos contribuintes.
Sim, amiga leitora, não se pronuncia a
palavra composta bem-aventurados
senão como “bem” e “aventurados”, distintamente; assim também “bem” e “amados”
é a pronúncia de bem-amados.
“Bem mamado” é o bebê que mamou bem no
peito da mamãe. “Bema-venturado” não sei o que é.
Ignoro de onde algumas pessoas cultas,
sem o mínimo de reflexão, embarcaram nessa pronúncia, mas isso virou uma praga,
de uns tempos para cá, como outras elocuções populares, tais como “há anos
atrás”, “elo de ligação”, encarar de frente”, “adentrar para dentro”, “sair
para fora”, etc. Isso é chamado, nas figuras de linguagem, de pleonasmo, que
pode ser vicioso ou não...
Certos pleonasmos servem para enfatizar
a elocução. Um exemplo é a expressão de Jesus: — Lázaro, sai para fora. Sair só
pode ser para fora, mas o Cristo quis enfatizar a saída do amigo. Creio mesmo
que ele teria dito, como rezam as melhores traduções: “— Lázaro, vem para fora”
(João, 11:43).
Outro exemplo é a famosa frase inscrita
no Oráculo de Delfos, na Grécia, e repetida por Sócrates: — Homem, conhece-te a
ti mesmo. Pura ênfase. Mas, em geral, os pleonasmos são ditos por crassa
ignorância e falta de reflexão de quem os pronuncia, pois se refletissem um
pouco perceberiam que não há necessidade alguma da ênfase viciosa de suas
expressões.
E também não será quando você “lê” estas
informações, amiga leitora, que ficará mais sábia, e, sim, quando você “ler” e
praticar, sem se sentir ofendida, cada uma destas dicas, sem perder a
simplicidade, a clareza e a objetividade na comunicação falada e escrita.
Por fim, peço-lhe um favor, amigo leitor:
quando vir alguém maltratando a língua, não o critique publicamente.
Chame-o num canto à parte e alerte-o sobre a “pedalada” linguística. Anote,
confira o suposto erro em boa gramática, no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, o menosprezado VOLP, e em bom dicionário,
com muita atenção, para não ser cúmplice desse elemento, como dizem os policiais, e acabar assassinando a língua pátria.
Se você gostaria de estar em algum
lugar, não diga que queria “está” ali, pois o que você deseja é “estar”. O verbo
aqui fica no infinitivo.
Quando se diz “Vi com meus próprios
olhos...” está-se enfatizando o ato de “ver”, com a expressão “com meus
próprios olhos”, embora com os olhos do leitor é que eu não poderia ver, a não
ser que fosse cego e tu me transmitisses, por osmose, tua visão.
Outros pleonasmos: a) encarei o problema
de frente; b) foi estabelecido um elo de ligação; c) subi para cima; e) desci
para baixo... É impossível encarar sem que o seja de frente; todo elo é de ligação;
subir só pode ser para cima e descer somente é possível se for para baixo.
Ouvi de um crítico a recriminação a
outro, que caluniava a crença alheia: — Vamos parar com essas alegorias... Em verdade, o que ele
queria dizer era: — Vamos parar com essas aleivosias.
Alegorias são figuras de linguagem,
simbolismo de uma narração. Já aleivosias são falsas acusações, calúnias. Era
este o seu pensamento: — Vamos parar com essas aleivosias, ou seja, com essas acusações falsas.
— Não te irrites se te pagarem mal um benefício;
antes cair das nuvens que de um terceiro andar. (Machado de
Assis)
Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
Como consultar as
matérias deste blog?
Se você não conhece
ainda a estrutura deste blog, clique neste link: http://goo.gl/OJCK2W, e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele
nos propicia.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário