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sábado, 26 de setembro de 2015

A volta do boêmio



JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Algo de muito grave está ocorrendo naquela republiqueta: a tesoureira mor do partido dominante foi condenada a 30 anos de prisão. Mais de milhão de assinaturas pedem o impeachment do presidente, o que deixou em polvorosa a cúpula governamental, e, em conclusão da operação “leva jeito”, o STF aceitou a denúncia do MP contra o desvio de bilhões para as contas de dezenas de políticos e seus cúmplices, de todos os partidos, entre os quais: Dirce Joseph, Sincero Soares, Edu do Cunho, Alfonsinho Hanneman, João das Vaccas, Iuri Selfie e Jerônimo, o herói do sertão, este, o mais perigoso.
Nessa operação foram desviados vinte vezes mais dinheiro que o existente em todo o meu Rio de Janeiro.
Dizem que tudo foi planejado na casa do civil Jerônimo...
Na maior cidade da republiqueta está sendo realizado um show de rock, e aqui está a notícia bomba: não há rock e sim um barulho infernal de um milhão de vozes que gritam mais do que os roqueiros, dia e noite, noite e dia:
— Nosso país está desgovernado,
esses políticos que aqui estão
roubaram muito mais que o mensalão,
fora governo desavergonhado!
E a multidão repete o refrão:
— Fora governo desavergonhado! Fora governo desavergonhado!
Ouvi dizer que Jerônimo, o herói do sertão, saiu a campo e articula o governo para que tudo vire pizza. Uma de suas frases preferidas é a seguinte: “Jamais na história desta republiqueta houve um governo tão popular como o meu”.
Há controvérsias, porém. Nos EUA, estão pedindo 40 milhões para libertar um ex-presidente da CBF. Já na republiqueta, um dos condenados que desviou 40 milhões foi multado em 400 mil... E isso não é nada popular.
— Minha conclusão, Machado, é que o problema não é o criminoso, mas sim o crime... Ou será o contrário? Estou tão confuso...
— Deixemos essa dúvida filosófica para lá e vamos ao que nos interessa. Em razão dos graves acontecimentos atuais da dita nação, também Lampião tem acionado seus jagunços para criar mais confusão. Logicamente, ele não se furtou em convidar Maria Bonita para trabalharem juntos nessa barafunda que se tornou a república Boêmia. Quanto mais confusa ficar a população, mais tempo se ganha e mais dinheiro se rouba, com o louvável intuito de melhorar a vida política dessa desnaturalizada nação.
 — Alguém mais foi convidado, ó Machado?
— Antônio Conselheiro... mas seus conselhos não estão sendo levados muito a sério, pois sua ideia maluca é a de que “o sertão virou mar e o mar virou sertão”.
— Bem... se pensarmos na má gestão da Cantareira em São Paulo, é provável que...
— Calma aí, Joteli, estamos falando da republiqueta Boêmia. Não mude de assunto!
— Ok, amigo. Mas diga-me uma coisa: esse tal Jerônimo não é de Pernambuco?
— Mais exatamente de Garanhuns. E, embora tenha doze irmãos, um deles, ao ser perguntado se todos são vivos, respondeu que só um é vivo: Jerônimo, o herói do sertão. Os outros são normais...
— É, Machado, estás ficando velho... Já não consegues distinguir a ficção com a realidade. Afinal, quem é que mudou de assunto, eu ou você?
— Sei lá... Agora me aparece Nélson Rodrigues, trazendo pelo braço Nélson Gonçalves, que canta A volta do boêmio, pode?
— Pode. Clique aqui, leitor amigo, e ouça a bela interpretação do barítono Nélson Gonçalves: http://letras.mus.br/nelson-goncalves/47650/.





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