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domingo, 8 de novembro de 2015

Por que não nos lembramos das existências anteriores?



O esquecimento do passado, que é considerado por muitos a mais séria objeção oposta à lei de reencarnação, dá ensejo aos antagonistas do Espiritismo de formularem indagações como estas: 
  • Se o homem viveu antes, por que não se lembra de suas existências anteriores?
  • Se não se lembra das existências passadas, como pode aproveitar a experiência adquirida nelas?
  • Se não recorda o que fez ou o que aprendeu no passado, cada existência não seria para ele qual se fosse a primeira? Não estaria ele, desse modo, sempre a recomeçar?
 Allan Kardec dá-nos em O Livro dos Espíritos, em linguagem clara e concludente, uma explicação lógica e uma resposta convincente às referidas indagações. 
Não temos durante a existência corpórea, reconhece Kardec, lembrança exata do que fomos e do que fizemos nas anteriores existências, mas possuímos disso a intuição, sendo as nossas tendências instintivas uma reminiscência do passado. Não fossem a nossa consciência e a vontade que experimentamos de não reincidir nas faltas já cometidas, seria difícil resistir a tais pendores.
A aptidão para essa ou aquela profissão, a maior ou menor facilidade nessa ou naquela disciplina, as inclinações interiores – eis elementos que não teriam justificativa se não existisse a reencarnação.
Com efeito, se a alma fosse realmente criada junto com o corpo da criança, as pessoas deveriam revelar igual talento e idênticas predileções, mas não é isso que vemos. Os que têm filhos sabem muito bem quão diferentes eles são, conquanto criados no mesmo ambiente e recebendo os mesmos estímulos.
No esquecimento das existências anteriores, sobretudo quando foram amarguradas, há em verdade algo de providencial que atesta a bondade e a sabedoria do Criador. Assim como se dá com os sentenciados a longas penas, todos nós desejamos apagar da memória os delitos cometidos e felizes ficamos quando a sociedade não os conhece ou os relega ao esquecimento. 
Frequentemente – ensina o Espiritismo – renascemos no mesmo meio em que já vivemos e estabelecemos de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenhamos feito. Se reconhecêssemos nelas criaturas a quem odiamos, talvez o ódio despertasse outra vez em nosso íntimo, e, mesmo que isso não ocorresse, sentir-nos-íamos humilhados na presença daquelas a quem houvéssemos prejudicado ou ofendido.
É preciso ter em conta ainda um outro dado: o esquecimento do passado ocorre apenas durante a existência corpórea. Volvendo à vida espiritual, mesmo que não recobremos de imediato a lembrança das existências passadas, readquirimos informações suficientes que nos situam perante as pessoas do nosso círculo. Não existe, portanto, esquecimento real, mas tão somente uma interrupção temporária de nossas recordações. Livres da reminiscência de um passado certamente importuno, podemos viver com mais liberdade, como se déssemos início a uma nova história. 
Suponhamos que em nossas relações, ou em nossa família mesma, se encontre um indivíduo que nos deu, outrora, motivos reais de queixa, que talvez nos tenha arruinado ou desonrado, e que, arrependido, reencarnou em nosso meio a fim de reparar suas faltas. Se nós e ele lembrássemos as peripécias do passado, ficaríamos na mais embaraçosa posição, que em nada contribuiria para a renovação das atitudes.
Basta essa ordem de raciocínios para entendermos que a reminiscência das existências anteriores perturbaria as relações sociais e constituiria uma dificuldade adicional em nossa caminhada rumo à perfeição.
Além dos motivos de ordem afetiva e moral, Léon Denis e Gabriel Delanne destacam as razões de ordem científica pelas quais as lembranças do passado não podem ocorrer ao se dar a reencarnação do Espírito.
Ensina Léon Denis que, em consequência da diminuição do seu estado vibratório, o Espírito, cada vez que toma posse de um corpo novo, de um cérebro virgem, acha-se na impossibilidade de exprimir as recordações acumuladas em suas vidas precedentes. Segundo Delanne, o perispírito toma, ao reencarnar, um movimento vibratório bastante fraco para que o mínimo de intensidade necessário à renovação de suas lembranças possa ser atingido.
Podemos, então, concluir em poucas linhas: 
  • O esquecimento do passado e, por conseguinte, das faltas cometidas não lhes atenua as consequências.
  • O conhecimento delas seria um fardo insuportável e uma causa de desânimo para muitas pessoas.
  • Se a recordação do passado fosse geral, isso concorreria para a perpetuação dos ressentimentos e dos ódios.
  • A existência terrestre é, algumas vezes, difícil de suportar, e o seria ainda mais se, ao cortejo dos nossos males atuais, acrescentássemos a memória dos sofrimentos e dos equívocos passados. 


  
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