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domingo, 17 de janeiro de 2016

Ninguém é punido por toda a eternidade; tal ideia é, em verdade, um equívoco


A doutrina das penas eternas, ensinada pela Igreja, é tratada de forma objetiva nas questões 1.006 a 1.009 d´O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
O Espiritismo, como sabemos, não admite tal doutrina, e os motivos estão postos nas mencionadas questões.
A tese da eternidade das penas reservadas àqueles que infringem as leis do bem e do amor, tanto quanto a existência do inferno, não resistem a uma análise objetiva. O raciocínio lógico conduz-nos à seguinte premissa: Se o Espírito sofre em função do mal que praticou, sua infelicidade deve ser proporcional à falta cometida.
Com efeito, respondendo à pergunta “Poderão durar eternamente os sofrimentos do Espírito?”, São Luís (Espírito) afirmou:

“Poderiam, se ele pudesse ser eternamente mau, isto é, se jamais se arrependesse e melhorasse, sofreria eternamente. Mas Deus não criou seres tendo por destino permanecerem votados perpetuamente ao mal. Apenas os criou a todos simples e ignorantes, tendo todos, no entanto, que progredir em tempo mais ou menos longo, conforme decorrer da vontade de cada um. Mais ou menos tardia pode ser a vontade, do mesmo modo que há crianças mais ou menos precoces, porém, cedo ou tarde, ela aparece, por efeito da irresistível necessidade que o Espírito sente de sair da inferioridade e de se tornar feliz. Eminentemente sábia e magnânima é, pois, a lei que rege a duração das penas, porquanto subordina essa duração aos esforços do Espírito. Jamais o priva do seu livre-arbítrio: se deste faz ele mau uso, sofre as consequências.” (O Livro dos Espíritos, questão 1.006.)

Cumpre considerar também que a condenação perpétua não se coaduna com a ideia cristã da sublimidade da justiça e da misericórdia divinas. Jesus deu testemunho da bondade e do amor de Deus, ao afirmar que o Pai celeste não quer que pereça um só de seus filhos.
A razão nos indica que Deus é, como ensina o Espiritismo, um ser infinito em suas perfeições, pois é filosoficamente impossível conceber o Criador de outra maneira, visto que, se Ele não apresentasse infinita perfeição, poderíamos conceber outro ser que lhe fosse superior.
Sendo, pois, infinitamente sábio, justo e misericordioso, não podemos crer que tenha criado pessoas para serem eternamente desgraçadas em virtude de uma falta ou de um erro passageiro, derivados evidentemente de sua própria imperfeição.
A doutrina das penas eternas consubstanciada na teologia católica surgiu das ideias primitivas que conceberam a existência de um Deus irado e vingativo, a quem o homem atribuiu características puramente humanas.
O fogo eterno é uma figura de que se utilizou para materializar a ideia do inferno, com vistas a ressaltar a crueldade da pena, no pressuposto de que o fogo é o suplício mais atroz e que produz o tormento mais efetivo.
Essas ideias serviram, em certo período da história da Humanidade, para controlar as paixões de criaturas ainda imperfeitas, mas não servem ao homem da atualidade, que nelas não consegue vislumbrar sentido lógico.
Jesus valeu-se das figuras do inferno e do fogo eterno para pôr-se ao alcance da compreensão dos homens de sua época. As imagens fortes que utilizou eram, então, necessárias para impressionar a imaginação de indivíduos que pouco entendiam das coisas do Espírito e cuja realidade estava mais próxima da matéria e dos fenômenos que lhes impressionavam os sentidos físicos. Mas também foi ele quem enfatizou a ideia de que Deus é Pai misericordioso e bom e afirmou que das ovelhas que o Pai lhe confiou nenhuma se perderia.


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