Várias
pessoas têm-nos perguntado qual a nossa opinião a respeito da palestra
proferida pelo confrade Jacob Melo em Londrina, no último sábado, dia 20, sobre
o tema Magnetismo e Espiritismo.
Eis o
que lhes respondemos:
Foi excelente! Dentro do propósito que
ele objetivou, não poderia haver palestra melhor. Ocorre que o palestrante
focalizou tão somente uma das formas de magnetismo tratadas por Allan Kardec: o
magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano. E nada falou sobre
magnetismo espiritual e sobre magnetismo humano-espiritual, ou misto, que é a
ação magnética praticada na Casa Espírita.
O
assunto é tratado pelo codificador da doutrina espírita no cap. XIV, item 33,
do livro A Gênese, adiante reproduzido:
33. - A ação magnética pode produzir-se
de muitas maneiras:
1º pelo próprio fluido do magnetizador;
é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano, cuja ação se acha
adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido;
2º pelo fluido dos Espíritos, atuando
diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para o curar ou
acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja
para exercer sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o
magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta das qualidades do
Espírito;
3º pelos fluidos que os Espíritos
derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse derramamento. É o magnetismo misto, semiespiritual, ou, se o
preferirem, humano-espiritual. Combinado com o fluido humano, o fluido
espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é
amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado por um apelo do
magnetizador.
Sobre
o concurso dos Espíritos, citado no texto acima, lemos no cap. XIV de O
Livro dos Médiuns, de autoria de Allan Kardec:
176. Eis aqui as respostas que nos
deram os Espíritos às perguntas que lhes dirigimos sobre este assunto:
1ª. Podem considerar-se as pessoas
dotadas de força magnética como formando uma variedade de médiuns?
"Não há que duvidar."
2ª. Entretanto, o médium é um
intermediário entre os Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em si
mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma
potência estranha.
"É um erro; a força magnética
reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele
chama em seu auxílio. Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e
invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta
a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades
necessárias."
É
fácil perceber que, ignorando os ensinamentos acima, qualquer exposição
doutrinária acerca do tema Magnetismo e Espiritismo peca por sua insuficiência
e transmite ao ouvinte a ideia de que o tema magnetismo, tão caro ao
codificador do Espiritismo, que o praticou por cerca de 35 anos, não foi
tratado em profundidade por Kardec e por outros estudiosos espíritas,
encarnados e desencarnados, como André Luiz, Emmanuel, Manoel Philomeno de
Miranda, Edgard Armond, Roque Jacintho e José Herculano Pires, entre outros.
Aludindo
ao socorro espiritual que o magnetizador espírita recebe para que possa
auxiliar uma pessoa enferma, Mesmer (Espírito) escreveu em 18/12/1863, na
Sociedade Espírita de Paris:
"Esse socorro que (Deus) envia são
os bons Espíritos que vêm penetrar o médium de seu fluido benéfico, que é
transmitido ao doente." (...) "Também é por isto que o magnetismo
empregado pelos médiuns curadores é tão potente e produz essas curas
qualificadas de miraculosas, e que são devidas simplesmente à natureza do
fluido derramado sobre o médium; ao
passo que o magnetizador ordinário se esgota, por vezes em vão, a fazer passes,
o médium curador infiltra um fluido regenerador pela simples imposição das
mãos, graças ao concurso dos bons Espíritos".
(Revista Espírita de janeiro de 1864, Edicel, pág. 7.)
Aludindo
ao tema, Allan Kardec escreveu:
"Se a mediunidade curadora pura é
privilégio das almas de escol, a possibilidade de suavizar certos sofrimentos,
mesmo de curar, ainda que não instantaneamente, umas tantas moléstias, a todos
é dada, sem que haja necessidade de ser
magnetizador. O
conhecimento dos processos magnéticos é útil em casos complicados, mas não indispensável.
Como a todos é dado apelar aos bons Espíritos, orar e querer o bem, muitas
vezes basta impor as mãos sobre a dor para a acalmar; é o que pode fazer
qualquer um, se trouxer a fé, o fervor, a vontade e a confiança em Deus. É de notar que a maior parte dos médiuns curadores
inconscientes, os que não se dão conta de sua faculdade, e que por vezes são
encontrados nas mais humildes posições e em gente privada de qualquer
instrução, recomendam a prece e se entreajudam orando. Apenas sua ignorância lhes faz crer na influência
desta ou daquela fórmula." (Revista Espírita de
setembro de 1865, Edicel, pág. 254.)
Em 8
de março de 1940, na primeira vez em que um livro psicografado por Chico Xavier
tratou do tema, Emmanuel concluiu sua obra intitulada O Consolador,
publicada em 1941 pela FEB, na qual respondeu a duas perguntas objetivas a
propósito do passe e sua aplicação:
98 – Nos processos de cura, como deveremos compreender o passe?
“Assim como a transfusão de sangue
representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de
energias psíquicas, com a diferença de que os recursos orgânicos são retirados
de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório
ilimitado das forças espirituais.”
99 – Como deve ser recebido e dado o passe?
“O passe poderá obedecer à fórmula que
forneça maior porcentagem de confiança, não só a quem o dá, como a quem o
recebe. Devemos esclarecer, todavia, que o
passe é a transmissão de uma força psíquica e espiritual, dispensando qualquer
contacto físico na sua aplicação.”
Foi,
portanto, com base nas orientações acima reproduzidas que José Herculano Pires,
o autor espírita de maior renome no meio espírita brasileiro, escreveu:
"O passe espírita é simplesmente a
imposição das mãos, usada e ensinada por Jesus, como se vê nos Evangelhos.
Origina-se das práticas de cura do Cristianismo Primitivo. Sua fonte humana e
divina são as mãos de Jesus. O passe
espírita não comporta as encenações e gesticulações em que hoje o envolveram
alguns teóricos improvisados, geralmente ligados a antigas correntes
espiritualistas de origem mágica ou feiticista. Todo o poder e toda a eficácia
do passe espírita dependem do espírito e não da matéria, da assistência
espiritual do médium passista e não dele mesmo.
Os passes padronizados e classificados derivam de teorias e práticas
mesméricas, magnéticas e hipnóticas de um passado há muito superado. Os Espíritos realmente elevados não aprovam nem
ensinam essas coisas, mas apenas a prece e a imposição das mãos. Toda a beleza espiritual do passe espírita, que
provém da fé racional no poder espiritual, desaparece ante as ginásticas
pretensiosas e ridículas gesticulações.” (Obsessão, o passe, a doutrinação,
editora Paideia, págs. 35 a 37.)
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