Qual a melhor
aplicação da fortuna?
Cremos que entre os adeptos do Espiritismo
não existe dúvida: riqueza e pobreza são provas pelas quais o Espírito
necessita passar, tendo um objetivo mais alto, que é seu aperfeiçoamento
espiritual.
Deus concede-nos a prova da riqueza ou da
pobreza, para experimentar-nos de modos diferentes. A pobreza é, para os que a
sofrem, a prova da paciência e da resignação. A riqueza é, para os que a
usufruem, a prova da caridade e da abnegação.
É preciso que entendamos: a existência
corpórea é passageira e a morte do corpo priva o homem de todos os recursos
materiais de que eventualmente disponha no plano terráqueo. Pobres e ricos
voltam, pois, à vida espiritual em idênticas condições, o que mostra que a
posição social do rico ou do pobre não passa de expressão transitória.
Fixemo-nos hoje na prova que é considerada
mais perigosa para o sucesso do Espírito: a riqueza.
Que aplicações deve o homem rico dar à
fortuna de que desfruta?
Qual delas será, para ele, a melhor?
No cap. XVI d´O Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec apresenta-nos, a
propósito do assunto, duas ordens de ideias.
A primeira, proposta pelo Espírito de
Cheverus, pode ser assim resumida:
"Amai-vos uns aos outros", eis a
solução do problema. Essa frase guarda o segredo do bom emprego das riquezas.
Aquele que se acha animado do amor do próximo tem aí traçada sua linha de
proceder. Na caridade está, para a riqueza, o emprego que mais apraz a Deus.
Não a caridade fria e egoísta, que consiste em espalhar ao derredor o supérfluo
de uma existência dourada, mas, sim, a caridade plena de amor, que procura a
desgraça e a ergue, sem a humilhar.
Que o rico dê não apenas do que lhe sobra,
mas também um pouco do que lhe é necessário, porquanto o de que ele necessita é
ainda supérfluo. Mas que saiba dar com sabedoria, indo às origens do mal,
aliviando primeiro e, em seguida, verificando se o trabalho, os conselhos,
mesmo a afeição, não seriam mais eficazes do que a sua oferenda.
Que ele difunda em torno de si, com os
socorros materiais, o amor a Deus, o amor ao trabalho, o amor ao próximo,
sabendo dessa forma colocar sua riqueza sobre uma base que nunca lhe faltará e
que lhe trará grandes lucros: a das boas obras.
A segunda proposta, assinada pelo Espírito
de Fénelon, focaliza uma outra faceta acerca da utilização da fortuna.
Lembra-nos Fénelon que sendo o homem o
depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas severas
lhe serão pedidas do emprego que lhes haja dado no uso do seu livre-arbítrio.
O mau uso consiste em aplicar sua fortuna
exclusivamente na sua satisfação pessoal. O bom uso, ao contrário, verifica-se
sempre que dela resulte um bem qualquer para outrem. O merecimento de cada
Espírito está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo.
A beneficência é, sem dúvida, importante,
mas constitui apenas um dos modos de empregar-se a riqueza. A beneficência
alivia a miséria, aplaca a fome, preserva do frio e proporciona abrigo aos que
não o têm. Há, contudo, um dever igualmente imperioso e meritório, que é o de
prevenir a miséria. Essa é, sobretudo, a missão das grandes fortunas, missão a
ser cumprida mediante os trabalhos de todo gênero que com elas se podem
executar.
O trabalho desenvolve a inteligência e
exalça a dignidade do homem, facultando-lhe poder dizer que ganha com seu
trabalho o pão que come, enquanto a esmola geralmente humilha e degrada.
A riqueza concentrada em uma mão deve ser
qual fonte de água viva que espalha a fecundidade e o bem-estar ao seu
derredor.
Aos ricos que a empregarem segundo as vistas
do Senhor, Fénelon diz que serão eles os primeiros a dessedentar-se nessa fonte
benfazeja, porque já nesta existência fruirão os inefáveis gozos da alma, em
vez dos gozos materiais do egoísta, que produzem no coração o vazio. Seus nomes
serão benditos na Terra e, quando a deixarem, o soberano Senhor lhes dirá, como
na parábola dos talentos: “Bom e fiel servo, entra na alegria do teu Senhor”.
Nessa parábola, como sabemos, o servidor que
enterrou o dinheiro que lhe fora confiado é a representação dos avarentos, em
cujas mãos se conserva improdutiva a riqueza.
Jesus falou, é verdade, frequentes vezes,
sobre a importância da esmola; mas não nos esqueçamos de que naquele tempo e na
região em que ele vivia não se conheciam os trabalhos que as artes e a
indústria criaram depois e nas quais as riquezas podem ser aplicadas utilmente
para o bem geral.
A todos os que podem dar, pouco ou muito,
dir-se-á, pois: – Dê esmola quando for preciso, mas, tanto quanto possível,
procure convertê-la em salário, a fim de que aquele que a receba não se
envergonhe dela.
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