A incrível história de Josias e Jair
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Josias foi criado no interior de Goiás. Membro
de prole com dez irmãos, era o do meio dentre os filhos de Cirila e Joaquim,
que possuíam um sítio de 30 mil metros quadrados em Luziânia, GO. Na época, a
única escola primária da região distava 20 km do sítio de seus pais e não havia
facilidade de transporte pela estrada de terra até o colégio. Então, era comum
que os parentes mais velhos ensinassem aos mais novos a cartilha e o alfabeto,
para que estes possuíssem rudimentos do conhecimento, até que pudessem
frequentar a escola...
Desse modo, uma prima mais velha de Josias foi
encarregada de “educá-lo”, mas cumpriu sua missão com tal zelo que já na
terceira aula o menino de seis anos foi dispensado para ajudar o pai na roça. A
prima, que se chamava Charlott, usava uma régua de madeira, com 50cm de
comprimento e, toda vez que o menino se confundia e esquecia o nome de uma
letra ou a tabuada de multiplicar por seis, metia-lhe uma reguada na cabeça.
A criança, então, foi tida como caso perdido
para os estudos, mas era excelente auxiliar do pai nos serviços de roça e
ordenha de vacas. Quando cresceu, assumiu o posto de vaqueiro, no que era
insuperável. Não lhe faltava boa alimentação e roupas que já não cabiam mais nos
cinco irmãos mais velhos. Às vezes, mamãe Cirila precisava remendá-las com
fazendas de outras cores de roupas, mas todos achavam muita graça nisso.
E a vida na roça continuava... continuava...
continuava...
Josias cresceu e com isto também aumentou sua fama
de defensor do meio ambiente, além de ter aprendido com seus pais a não falar
palavrões e zelar para que seus irmãos também não os dissessem, em especial, os
mais novos, pois a hierarquia de idade era bastante rígida na família. Ele
também era admirado pela força, inclusive do caráter, e beleza física.
Certo dia, o vizinho emprestou-lhe duas juntas
de bois, que eram utilizados para transportar frutos dos sítios e fazendas
locais, na condição de realizar um desses serviços para o Sr. Joaquim, o pai de
Josias, e depois emprestá-las a outro vizinho, para o mesmo serviço. Josias
cumpriu o prometido e realizou o serviço para sua família, numa segunda-feira;
no dia seguinte, levou as juntas para o outro vizinho servir-se delas, com a
recomendação de este devolvê-las ao seu dono até a sexta-feira daquela semana.
Aconteceu, porém, que, uma semana depois, o
dono das juntas reclamou com Josias sobre o não cumprimento do trato. Este não
pensou duas vezes, foi ao sítio do outro vizinho, desatrelou as duas juntas de
bois do carro deste e devolveu-as ao seu proprietário...
Ao perceber isso, o vizinho que retinha os
bois, além do tempo razoável, como fora combinado, aborreceu-se com Josias e
não mais lhe dirigiu palavra.
Duas semanas depois, um dos filhos desse
vizinho, de apenas oito anos, afogou-se no rio local. Josias foi uma das
primeiras pessoas a saber da notícia. Então, não pensou duas vezes, atirou-se
na água com as roupas do corpo e salvou a criança.
Nem é preciso dizer que o pai do garoto se
tornou seu melhor amigo e compadre.
Outro caso envolvendo Josias deu-se com um
sobrinho, que lhe era vizinho. Entre suas casas, havia um pequeno pomar. Certo
dia, seu sobrinho Lair atirava pedras em um passarinho, imóvel sobre um galho
de uma mangueira. Tentou uma, duas, três vezes sem sucesso; até que, na quarta
tentativa, derrubou a avezinha, que caiu morta no solo. Da janela de sua casa,
Josias observava a arte do sobrinho de doze anos e lhe disse o seguinte: —
Lair, você é mesmo ruim de pontaria... Só acertou a pobre avezinha porque ela
já estava morrendo... Mas, Lair, por que matar passarinhos? Os animais também,
como nós, são criaturas de Deus.
Lair ficou tão envergonhado do que fez que
nunca mais maltratou qualquer animal.
Tempos após, Lair tropeçou numa pedra e disse
um monte de palavrões e pragas. A menor delas foi: “maldita pedra”. Vendo a
cena, o tio socorreu-o e recomendou-lhe:
— Lair, não diga palavras tão feias por ter
tropeçado numa pedra. Ela nada tem com isso e nem sua dor vai diminuir, pelo
contrário, ainda vai ser maior. Aprenda com a lição da pedra; da próxima vez,
preste atenção por onde anda e você não mais se machucará.
Assim era Josias, protetor intransigente da
Natureza. Essas e outras ações dele, que não media esforços em socorrer
qualquer pessoa necessitada de seu auxílio, o fizeram ser conhecido como
defensor da Natureza.
Josias casou-se, teve oito filhos, mas adoeceu
e desencarnou aos cinquenta anos. Do plano espiritual, sempre buscava auxiliar
a família que deixara órfã. Por ser espírita, sentia-se sobretudo atraído pela
família de uma das filhas, também espírita, que realizava o culto do evangelho
no lar em dia certo da semana. Durante anos, o Espírito Josias se fazia
presente e era visto pelo marido da filha, o qual, sendo vidente e audiente, “conversava”
com ele.
Até que, certo dia, Josias avisou ao casal de
que estaria se desligando dessas visitas por ter sido convocado a frequentar um
curso preparatório, haja vista sua necessidade de regressar à Terra, em novo
corpo, para novos aprendizados, após passar cinquenta anos no Plano Espiritual.
Dez anos após, um dos filhos casados dessa
família tinha dois filhos, que estavam matriculados nos cursos primário e
maternal de uma escola católica. Um deles, Marcos, tinha seis anos, e o outro,
Jair, três. O mais velho era um pouco, digamos assim, relaxado em questões de
limpeza e arrumação da casa. Ao se alimentar, deixava brinquedos, roupas e
resíduos de comida espalhados pela casa inteira, que a empregada doméstica,
pacientemente, limpava. O mais novo, por iniciativa própria, embora com metade
da idade, chamava a atenção do irmão por sua falta de cuidados e demonstrava
insatisfação com a desarrumação da casa, que, dentro do possível a uma criança
de sua idade, tentava arrumar... Certo dia, a doméstica faltou ao serviço e a
mãe o surpreendeu lavando as louças sujas que estavam sobre a pia da cozinha.
Em outra ocasião, após brincar com o irmão e o
primo de dois anos, na casa dos avós, ao se despedirem, ante a indiferença das
mães em guardarem os brinquedos espalhados pelo quarto onde se divertiram, Jair
tomou a iniciativa de guardar todos os brinquedos espalhados pelo quarto, o que
deixou as mães sem graça e logo estas se puseram a ajudá-lo.
Finalmente, ao ir pegá-lo e ao seu irmão no
colégio católico onde estavam matriculados, seu pai observou, na saída, um
pedaço de cartolina recortado e dependurado no pescoço do Jair onde se lia:
DEFENSOR DA NATUREZA.
Na ida dos três para o carro, o irmão mais
velho pediu ao pai para este lhes comprar pipoca. O pai atendeu-o, colocou
ambos os filhos no carro e recomendou-lhes:
— Não quero ver um só grão de pipoca no banco
ou no chão do carro...
Ao também entrar no automóvel, o pai ouviu o
filho menor, com a voz grave, dizer para o maior: — Marcos, você não ouviu o
que disse o papai? Pegue a pipoca que você deixou cair!
Há tantos outros casos coincidentes nas
histórias de Josias e Jair que, se fôssemos relatá-los todos, creio que nem
ainda os livros do mundo inteiro os comportariam (paráfrase do evangelista
João, 21:25).
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