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sábado, 23 de julho de 2016

Contos e crônicas



A lei divina e os escândalos humanos

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amiga leitora, se considerarmos apenas os últimos dez mil anos da presença do ser humano na Terra, constataremos uma triste realidade: nenhum animal tem destruído tanto o meio ambiente e os demais seres vivos do que nós. Os outros animais também matam, mas por instinto de sobrevivência, enquanto o homem extermina com três objetivos: por “necessidade”, por prazer e por ignorância.
Por “necessidade”, matamos para nos alimentar das criaturas de Deus, que enxergamos como meros acepipes deliciosos em nossas mesas, tais como os bovinos, os caprinos, os suínos e os galináceos. Mate um cachorro ou um gato, ainda que seja para comer sua carne e verá se você não vai parar na cadeia. Mas se é um boi ou um cabrito... quanta diferença. Talvez por isso, um cidadão que estava ministro, no Brasil, tenha dito que “cachorro também é gente”. 
No entanto, os demais mamíferos sofrem tanto quanto nós, os gatos e os cachorros. O gado, quando vai para o matadouro, chora de dar dó... Veja, também, o desespero de um galináceo, cuja cabeça foi decepada... o corpo acéfalo continua correndo em desespero, até cair morto, segundos depois, longe da cabeça... A cena é chocante, porém, muitas pessoas acham graça... Afinal, a cabeça não é delas...
Mas então vem a pergunta que não quer calar: em que sentido o cachorro e o gato são superiores aos demais animais? Já há estudo comprovando ser o porco mais inteligente que o cão e qualquer outro dos citados animais.
Perguntamos, então, aos amigos dos cães e gatos se, porventura, esses sofrem mais do que os demais mamíferos assassinados e depois vorazmente comidos por nós.
Só que não...
Por prazer, mata-se quando se pretende divertir, na caça ou mesmo pesca e, ainda, principalmente, pelo desejo de lucro financeiro...
O lado negro do prazer é o de um psicopata divertir-se ao assassinar o próprio gênero humano, mesmo sabendo que também morrerá. Mas essa é apenas mais uma história de insanidade.
Quando o ser humano optou por se agregar, há milênios, ele já havia percebido que, em grupo, suas possibilidades de sobrevivência seriam muito maiores. E também sentiu, assim, sua superioridade sobre os indivíduos mais fracos como gostosa sensação de poder.
Surgiam, então, os pródromos do Estado.
Nos primórdios da Humanidade, a questão racial não era problema, pois toda a espécie humana teria surgido na África. Com as emigrações para os continentes europeus e asiáticos, tanto a raça como o poderio bélico levaram alguns povos a dominar e a escravizar outros, como ocorreu com os egípcios que, durante vários séculos, fizeram dos hebreus seus escravos. Então, a questão não era a cor da pele, pois os egípcios, ao contrário dos seus servos hebreus, eram negros.
Muitos séculos após, eram os negros as vítimas dos brancos...
Todavia, as guerras de conquista não levavam em conta a tez do conquistado e sim sua inferioridade militar. A crueldade e poder do Estado associaram-se ao poder econômico, e as leis humanas sempre favoreceram os poderosos.
Ainda hoje, temos vários tipos de servidão: a sexual, a econômica, a ideológica (política e religiosa), além da racial e outras lembradas pela leitora, cuja memória é melhor do que a minha.
Os fenômenos naturais, entretanto, escapavam ao poder humano, pois tanto poderiam destruir o exército mais poderoso quanto o mais fraco. Então, o homem imaginou que, acima dele, havia deuses muito mais poderosos, a quem precisava servir, para não ser destruído. Nascia, assim, animismo, o totemismo, depois, os deuses gregos e, por fim, com Moisés, veio a revelação de um só Deus.
Com a noção do Deus único a seres imperfeitos, esses consideraram, como os pagãos, adoradores de vários deuses, que seu Senhor era um deus guerreiro, vingativo e exclusivo do povo hebreu. Desse modo, todas as maldades praticadas pelos seus inimigos eram respondidas com crueldade igual ou pior, embora Moisés tenha recebido, mediunicamente, a “pedra dos Dez Mandamentos de Deus” que não fazia distinção alguma entre todos os seres, fossem eles humanos ou animais, no direito de viver.
Em suma, em sua ignorância, embora um dos dez mandamentos diga para não matar e outro aconselha a amar o próximo como a si mesmo, o ser humano, ainda na infância espiritual, continua revidando a violência pela violência, como o fazem os animais, com a diferença de que estes últimos agem assim por seu instinto de sobrevivência e nós, diferentemente, com o objetivo principal de conquistar poder e bens materiais. Os bens espirituais, para muitos, é apenas mais um pretexto para alcançar aqueles.
Esse mesmo Deus incompreendido pela Humanidade enviou-nos seu maior emissário, Jesus Cristo, para nos provar, primeiro, que a morte do corpo físico não extingue o espírito que o habita; segundo, que somente o amor e não a violência nos fará felizes; e terceiro, que a vida real é a do espírito imortal, responsável por todas as suas ações, sendo recompensado com o bem ou com o mal, conforme o que fizer e onde esteja. Por isso, dizia-nos Ele: ama o teu próximo como a ti mesmo. Não ajuntes tesouros na Terra, mas no Céu...
Infelizmente, por ainda não entender isso, parte diminuta da Humanidade, é certo, vem provocando o caos entre seus irmãos, tentando impor suas ideologias pela força. Nunca o conseguirão...
Outros, com base em noções equivocadas de que somente pela vingança resolverão suas diferenças com os seus inimigos, matam e morrem inutilmente, pois suas atitudes não alcançarão jamais o objetivo de mudar o que rechaçam com violência.
Pura ignorância, pois só Deus pode dar ou tirar a vida.
O ódio torna-nos irracionais. Como exemplo, temos o caso do cidadão americano negro que, antes de ser morto, matou três policiais, desejando fazer justiça pelas próprias mãos, ao tomar conhecimento da morte de algumas pessoas negras por policiais brancos. Nenhum dos três agentes assassinados por ele tinha algo a ver com a morte dos seus irmãos de raça. E, por ironia disso tudo, um deles era também negro, cidadão e pai de família exemplar.
Tudo isso nos faz lembrar estas palavras de Jesus: “É necessário que haja escândalos, mas ai daquele que os provoca”. Enquanto não aprendermos que “violência gera violência” e que o amor é lei universal, de cujo afastamento sofreremos graves danos, seremos os responsáveis por nossa própria infelicidade.





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