Além do sono
Calderaro (Espírito)
De passagem por
nosso templo, rogo vênia para ocupar-lhes a atenção com alguns apontamentos
ligeiros, em torno de nossas tarefas habituais.
Dia e noite, no
tempo, simbolizam existência e morte na vida.
Não há morte
libertadora sem existência edificante.
Não há noite
proveitosa sem dia correto.
Vocês não ignoram
que a atividade espiritual da alma encarnada estende-se além do sono físico; no
entanto, a invigilância e a irresponsabilidade, à frente de nossos
compromissos, geram em nosso prejuízo, quando na Terra, as alucinações
hipnóticas, toda vez que nos confiamos ao repouso.
É natural que o dia
mal vivido exija a noite mal assimilada.
O espírito menos
desperto para o serviço que lhe cabe, certamente encontrará, quando
desembaraçado da matéria densa, trabalho imperioso de reparação a executar. Por
esse motivo, grande maioria de companheiros encarnados gasta as horas de sono
exclusivamente em esforço compulsório de reajuste.
Mas, se o aprendiz
do bem atende à solução dos deveres que a vigília lhe impõe, torna-se, como é
justo, além do veículo físico, precioso auxiliar nas realizações da Esfera
Superior.
Convidamos, assim, a
vocês, tanto quanto a outros amigos a quem nossas palavras possam chegar, à
tarefa preparatória do descanso noturno, através do dia retamente aproveitado,
a fim de que a noite constitua uma província de reencontro das nossas almas, em
valiosa conjugação de energias, não somente a benefício de nossa experiência
particular, mas também a favor dos nossos irmãos que sofrem.
Muitas atividades
podem ser desdobradas com a colaboração ativa de quantos ainda se prendem ao
instrumento carnal, principalmente na obra de socorro aos enfermos que
enxameiam por toda parte.
Vocês não
desconhecem que quase todas as moléstias rotineiras são doenças da ideia,
centralizadas em coagulações de impulsos mentais, e somente ideias renovadoras
representam remédio decisivo.
Por ocasião do sono,
é possível a ministração de amparo direto e indireto às vítimas dos labirintos
de culpa e das obsessões deploráveis, por intermédio da transfusão de fluidos e
de raios magnéticos, de emanações vitais e de sugestões salvadoras que, na maior
parte dos casos, somente os encarnados, com a assistência da Vida Superior,
podem doar a outros encarnados. E benfeitores da Espiritualidade vivem a
postos, aguardando os enfermeiros de boa vontade, samaritanos da caridade
espontânea, que, superando inibições e obstáculos, se transformam em
cooperadores diligentes na extensão do bem. Se vocês desejam partilhar
semelhante concurso, dediquem alguns momentos à oração, cada noite, antes do
mergulho no refazimento corpóreo. Contudo, não basta a prece formulada só por
só. É indispensável que a oração tenha bases de eficiência no dia bem
aproveitado, com abstenção da irritabilidade, esforço em prol da compreensão
fraterna, deveres irrepreensivelmente atendidos, bons pensamentos, respeito ao
santuário do corpo, solidariedade e entendimento para com todos os irmãos do
caminho, e, sobretudo, com a calma que não chegue à ociosidade, com a
diligência que não atinja a demasiada preocupação, com a bondade que não se
torne exagero afetivo e com a retidão que não seja aspereza contundente.
Em suma, não
prescindimos do equilíbrio que converta a oração da noite numa força de
introdução à espiritualidade enobrecida, porque, através da meditação e da
prece, o homem começa a criar a consciência nova que o habilita a atuar dignamente
fora do corpo adormecido.
Consagrem-se à
iniciação a que nos referimos e estaremos mais juntos.
É natural não venham
a colher resultados, de imediato, nas faixas mnemônicas da recordação, mas,
pouco a pouco, nossos recursos associados crescerão, oferecendo-nos mais alto
sentido de integração com a vida verdadeira e possibilitando-nos o avanço
progressivo no rumo de mais amplas dimensões nos domínios do Universo.
Aqui deixamos
assinalada nossa lembrança que encerra igualmente um apelo ao nosso trabalho
mais intensivo na aplicação prática ao ideal que abraçamos, porque a alma que
se devota à reflexão e ao serviço, ao discernimento e ao estudo, vence as
inibições do sono fisiológico e, desde a Terra, vive por antecipação na sublime
imortalidade.
Do livro Instruções Psicofônicas, obra mediúnica de autoria de Francisco
Cândido Xavier. A mensagem acima foi recebida psicofonicamente na noite de
17/2/1955. Calderaro é o instrutor espiritual mencionado por André Luiz no
livro No Mundo Maior.
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