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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Contos e crônicas



Os três pássaros

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

No mesmo horário, três pássaros pousam no galho mais aberto da laranjeira.
Às vezes, esse galho está florido, outras vezes mais sequinho e em outras apenas com folhas. Entretanto, os mesmos três pássaros pousam no mesmo galho. Isso se repete há tempo.
Um dos pássaros possui penas mais escuras que outro e o terceiro é um pouquinho menor que os dois, mas se compreendem e se conhecem demais, a sintonia beira à unidade. Ficam de três a cinco minutos na calma da laranjeira, eu sempre os observo. E se olham com a naturalidade de que os três são como se fossem um.
Após os minutos preciosos, eu os perco de vista, pois voam para a liberdade que já conquistaram, a mesma liberdade que os humanos tanto desejam. No entanto, já percebi que quando chove, eles ficam alguns minutos a menos. E são lindos e são livres. Também percebi que não perdem tempo com insignificantes acontecimentos, eles aprenderam a valorizar a vida. Já os observo há muito tempo.
Mas hoje ainda não os vi. Está uma agradável manhã; o céu, azul; o vento, fresco como sempre no início do outono. Outros pássaros já vi, no entanto, ainda os três não passaram por aqui. Talvez encontraram outro galho de laranjeira em outro lugar, em outro quintal. As flores pareciam estar mais perfumadas ainda, mas os três pássaros não vieram hoje. Os seres buscam sempre novo caminho, novos ares. Encostei a leve cortina, já estavam muito atrasados. Quem sabe amanhã.
Alguns dias se passaram sem que os três pássaros viessem à laranjeira. Certamente, conquistaram outros galhos. Mas como de costume carinhoso, no mesmo horário, ia até a janela. Há coisas que se tornam uma parte que completa o nosso todo. Ao encostar a leve cortina branca, os pássaros pousaram no galho, porém, eram apenas dois desta vez. Quem sabe o terceiro estivesse um pouquinho atrasado, mas os minutos se passaram e os dois foram para o ar da liberdade. Aguardei mais um pouco. O galho da laranjeira estava apenas com suas flores.
Ajeitei a cortina querendo muito saber sobre o paradeiro do terceiro pássaro.
E os novos dias vinham com a visita somente dos dois que continuaram com a alegria do primeiro dia que os vi, os três. Após tantos dias vendo os dois, hoje, após a sua ida, encostei com mais delicadeza a cortina branca e leve da janela de frente à laranjeira. E a compreensão se deu em mim como as lágrimas tranquilas e doces no meu rosto. Embora nossos amores não estejam aqui ao nosso lado, sempre estarão no nosso sentimento que transcende tempo e espaço e pousam nos ponteiros da eternidade.
Após tantos meses na solidão dos meus dias pela ausência física de quem amo, abri a janela e senti a calma alegria, o sopro do vento que beija carinhosamente a face, o cheiro das flores de laranjeira, ouvi a voz próxima me desejando um bom-dia, senti o doce sabor de uma nutritiva comida, bebi a água adocicada e fresca que me matou a sede e começo a compreender um cisco de fagulha que é a dimensão da vida, maior presente concedido a um coração.


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