Tragédia e impermanência
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Nos momentos de tragédia, quando muitas
pessoas sucumbem a um grave acidente o mundo fica perplexo e se pergunta: Por
quê? A vida, porém, de mais de 6 bilhões
de humanos impermanentes na Terra, que se julgam permanentes, continua. E,
dentre estes, surgem mesmo os que fazem chacota com a situação dos que vêm para
o lado de cá.
Se as vítimas são cantores, dizem que
vieram cantar no coral de São Pedro; se são pedreiros, terão vindo construir
catedrais para os anjos; se escritores, ocupar-se-ão de obras literárias
relacionadas aos sexos dos anjos; se jogadores desencarnam, os que ficam no
corpo físico são capazes até mesmo de formar alguns times com os atletas do
passado para disputarem partidas memoráveis, no céu, com os novos companheiros
recém-ingressos no campo dos pés juntos.
Ressalta-se de todas essas manifestações,
até mesmo otimistas, mas pouco crédulas, entre os que se consideram “vivos”,
que a grande maioria dos que assim agem não crê, efetivamente, no que dizem e
acreditam mesmo é que essas vítimas se perderam no nada.
Nunca mais! A religião é o “ópio do povo”,
serve apenas para dar uma esperança absurda. Morreu, acabou...
Do lado de cá, outros cerca de 20 bilhões
aguardam o momento de sua transmutação. Alguns em curtíssimo tempo, após seu
retorno; outros em algumas décadas; outros mais depois de séculos ou mesmo
milênios...Todos, entretanto, voltarão mais cedo ou mais tarde, salvo aqueles
que já não estão subjugados pelas paixões humanas.
As experiências evolutivas, entretanto,
também sofrem mutações. Do lado de cá, o ex-jogador tanto pode integrar a
seleção dos sonhos, quanto o pesadelo das batalhas cruéis, quando optou por
agredir, em vez de competir; o ex-cantor pode deparar-se com a afasia, em
virtude das drogas que consumiu; mas o pedreiro responsável pode ser o grande
engenheiro ou arquiteto de um mundo melhor, desde que seja dócil às orientações
dos técnicos do Além.
Ou seja, para os bons, a morte do corpo é
sempre uma viagem espiritual que nada tem a ver com os horrores da decomposição
cadavérica ou o choque das grandes tragédias humanas. Para no menos bons, uma
oportunidade de aprender, refletir, aprender e recomeçar...
A vida é um eterno recomeço e um permanente
aprendizado.
Por que será que grandes ditadores,
criminosos do presente ou do passado, antes de passarem para o lado de cá
buscam o socorro das religiões, em especial a consulta espiritual aos “pais da
Igreja”? É a consciência, esse implacável “dedo de Deus”, que lhes cobra,
incessantemente, por seu irmão, como a Voz Divina que Caim ouvia, após
assassinar seu irmão Abel: “Caim, Caim, que fizeste de teu irmão?”
Todavia, perguntará a leitora, e essas
vítimas inocentes, o que fizeram para passar por prova tão rude? Por que motivo
sofreram separação tão brutal?
Ao que lhe respondo: Não há morte, cara
leitora. Apenas a “veste física” é entregue aos vermes. A alma é imortal. Creia
nisso, você não morrerá jamais. O que morre são as ilusões do mundo, que aqui
ficam. No plano espiritual, a vida estua abundante, e o refrão de que “quem não
deve não teme” se aplica como a luva dos melhores goleiros nas cidades do Além.
“Mas e os que ficam? Os órfãos, as viúvas
ou viúvos dessas pessoas: jornalistas com promessa de futuro brilhante,
dirigentes probos, jogadores alegres e amigos, o que será da saudade, do
sentimento de profundo pesar de todos aqueles que, direta ou indiretamente, se
vinculavam a eles?” Tudo passa, neste mundo, mas tudo retorna, o que lhe parece
uma eterna separação não passa de um até breve. Os que ficam, assim como os que
vão, continuam aprendendo e na companhia de quem nunca nos abandona: nosso Pai
Eterno, na feliz expressão de Jesus: Deus.
Quem sabe se em poucos anos todos não
estaremos juntos, novamente, dizendo: “Vai, Chape, vai, campeão!"?
É a roda da vida, incessante e
surpreendente! Você pode até não acreditar, amigo leitor, mas, como diz meu
amigo André Luiz, aqui do meu lado:
“[...] Uma existência é um ato.
Um corpo, uma veste.
Um serviço, uma experiência.
Um triunfo, uma aquisição.
Uma morte, um sopro renovador.
[...] Ai, por toda parte, os cultos em
doutrina e os analfabetos do espírito!”
E eu repito, com esse amigo espiritual,
suas palavras iniciais da obra Nosso Lar
que expressam uma pálida ideia do que seja o mundo espiritual:
“Que o Senhor nos abençoe”, assim como a
todos esses nossos irmãos, viajores da eternidade, que ora são recebidos de braços
abertos no deslumbrante e permanente campo do espírito.
Paz a todos nós! aos que aqui estamos e aos
que ainda jazem sob o guante da veste temporária.
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