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sábado, 3 de dezembro de 2016

Contos e crônicas



Tragédia e impermanência

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Nos momentos de tragédia, quando muitas pessoas sucumbem a um grave acidente o mundo fica perplexo e se pergunta: Por quê?  A vida, porém, de mais de 6 bilhões de humanos impermanentes na Terra, que se julgam permanentes, continua. E, dentre estes, surgem mesmo os que fazem chacota com a situação dos que vêm para o lado de cá.
Se as vítimas são cantores, dizem que vieram cantar no coral de São Pedro; se são pedreiros, terão vindo construir catedrais para os anjos; se escritores, ocupar-se-ão de obras literárias relacionadas aos sexos dos anjos; se jogadores desencarnam, os que ficam no corpo físico são capazes até mesmo de formar alguns times com os atletas do passado para disputarem partidas memoráveis, no céu, com os novos companheiros recém-ingressos no campo dos pés juntos.
Ressalta-se de todas essas manifestações, até mesmo otimistas, mas pouco crédulas, entre os que se consideram “vivos”, que a grande maioria dos que assim agem não crê, efetivamente, no que dizem e acreditam mesmo é que essas vítimas se perderam no nada.
Nunca mais! A religião é o “ópio do povo”, serve apenas para dar uma esperança absurda. Morreu, acabou...
Do lado de cá, outros cerca de 20 bilhões aguardam o momento de sua transmutação. Alguns em curtíssimo tempo, após seu retorno; outros em algumas décadas; outros mais depois de séculos ou mesmo milênios...Todos, entretanto, voltarão mais cedo ou mais tarde, salvo aqueles que já não estão subjugados pelas paixões humanas.
As experiências evolutivas, entretanto, também sofrem mutações. Do lado de cá, o ex-jogador tanto pode integrar a seleção dos sonhos, quanto o pesadelo das batalhas cruéis, quando optou por agredir, em vez de competir; o ex-cantor pode deparar-se com a afasia, em virtude das drogas que consumiu; mas o pedreiro responsável pode ser o grande engenheiro ou arquiteto de um mundo melhor, desde que seja dócil às orientações dos técnicos do Além.
Ou seja, para os bons, a morte do corpo é sempre uma viagem espiritual que nada tem a ver com os horrores da decomposição cadavérica ou o choque das grandes tragédias humanas. Para no menos bons, uma oportunidade de aprender, refletir, aprender e recomeçar...
A vida é um eterno recomeço e um permanente aprendizado.
Por que será que grandes ditadores, criminosos do presente ou do passado, antes de passarem para o lado de cá buscam o socorro das religiões, em especial a consulta espiritual aos “pais da Igreja”? É a consciência, esse implacável “dedo de Deus”, que lhes cobra, incessantemente, por seu irmão, como a Voz Divina que Caim ouvia, após assassinar seu irmão Abel: “Caim, Caim, que fizeste de teu irmão?”
Todavia, perguntará a leitora, e essas vítimas inocentes, o que fizeram para passar por prova tão rude? Por que motivo sofreram separação tão brutal?
Ao que lhe respondo: Não há morte, cara leitora. Apenas a “veste física” é entregue aos vermes. A alma é imortal. Creia nisso, você não morrerá jamais. O que morre são as ilusões do mundo, que aqui ficam. No plano espiritual, a vida estua abundante, e o refrão de que “quem não deve não teme” se aplica como a luva dos melhores goleiros nas cidades do Além.
“Mas e os que ficam? Os órfãos, as viúvas ou viúvos dessas pessoas: jornalistas com promessa de futuro brilhante, dirigentes probos, jogadores alegres e amigos, o que será da saudade, do sentimento de profundo pesar de todos aqueles que, direta ou indiretamente, se vinculavam a eles?” Tudo passa, neste mundo, mas tudo retorna, o que lhe parece uma eterna separação não passa de um até breve. Os que ficam, assim como os que vão, continuam aprendendo e na companhia de quem nunca nos abandona: nosso Pai Eterno, na feliz expressão de Jesus: Deus.
Quem sabe se em poucos anos todos não estaremos juntos, novamente, dizendo: “Vai, Chape, vai, campeão!"?
É a roda da vida, incessante e surpreendente! Você pode até não acreditar, amigo leitor, mas, como diz meu amigo André Luiz, aqui do meu lado:
“[...] Uma existência é um ato.
Um corpo, uma veste.
Um serviço, uma experiência.
Um triunfo, uma aquisição.
Uma morte, um sopro renovador.
[...] Ai, por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito!”
E eu repito, com esse amigo espiritual, suas palavras iniciais da obra Nosso Lar que expressam uma pálida ideia do que seja o mundo espiritual:
“Que o Senhor nos abençoe”, assim como a todos esses nossos irmãos, viajores da eternidade, que ora são recebidos de braços abertos no deslumbrante e permanente campo do espírito.
Paz a todos nós! aos que aqui estamos e aos que ainda jazem sob o guante da veste temporária.






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