O bilhete
do Mané e as dicas de Machado
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Esta
eu ouvi do meu concunhado Carvalho. Apenas troquei os nomes das personagens: Joaquim,
também conhecido como Kincão, dono de
uma mercearia que também vendia materiais de obras, era amigo de
Manuel, ou Mané, homem de poucas
letras, mas bem conceituado proprietário de um restaurante na cidade
de Barreiras, BA, onde ambos mantinham seus negócios e residiam.
Certo
dia, em que faltara algo em seu comércio, Manuel escreveu um bilhete
a Joaquim, solicitando-lhe envio do produto em escassez.
Ao
ler o bilhete, Joaquim estranhou: — Ué, o Mané
está reformando seu restaurante? Pensou.
Entretanto,
como o pedido era para atendimento urgente, chamou o motorista do
caminhão de transporte da loja, pediu-lhe para colocar, no carro,
cinco sacos de cal, com trinta quilos cada, e levá-los ao amigo
rapidamente.
Uma
hora depois, o próprio Manuel entrou nervoso no comércio de Joaquim e
perguntou-lhe:
—
Kincão, por que você não atendeu ao meu
pedido e ainda me enviou cinco sacos de cal?
—
Ora, Manuel, não foi o que você me pediu no bilhete?
—
De jeito nenhum, pedi-lhe cinco sacos de sal e não de cal.
—
Pois então, releia o que você escreveu:
"Amigo
Kincãu, mandi intregá nu meu restorante cinco saco de cal".
Ao
que o Mané respondeu:
—
Mas, amigo, só pur causu qui faltô uma cobrinha embaixo do “c” ocê num
intendeu?
E
“corrigiu” cal para "çal".
*
Consultando
Machado sobre como escrever bem, ele disse-me que, antes de mais nada, é
preciso ler muito, os mais diversos gêneros textuais: artigos, crônicas,
contos, romances, piadas, comerciais, artes, composições musicais, poemas,
relatórios, resumos, resenhas, e-mails, WhatsApps...
—
Que tal você sugerir-nos que fazer ou não em nossos textos, amado guru?
pedi-lhe.
Ele,
então, disse-me que escrever e falar bem é abrir a porta do sucesso.
Entretanto, a fala é menos rigorosa do que a escrita, em relação à norma
padrão de qualquer idioma. Por isso, disse, ao escrever, precisamos
observar cinco requisitos básicos: clareza, concisão, coerência, correção e
originalidade. E passou-me estas dicas que, segundo ele, não abordam
tudo, mas o essencial numa redação:
A
clareza é irmã da concisão. Não use palavras rebuscadas, utilize frases curtas.
Seja objetivo, evite adjetivação exagerada. Cada período deve possuir apenas
uma ideia central. Fuja da generalização no que escrever.
A
coerência é irmã da lógica. É preciso haver nexo entre os termos e frases do
período escrito, sem o que
podemos contradizer-nos. Para o nexo, é necessário o
uso correto dos conectivos: pronomes, conjunções, preposições, numerais,
artigos...
A
correção gramatical requer considerável conhecimento linguístico e também muita
atenção no que se pensa e no que, de fato, está escrito. Para isso, é preciso
revisar diversas vezes o que escrever, antes de submeter seu texto a outro
leitor, ou então ter um bom revisor, como é seu amigo A.O.
Em
textos que exigem o predomínio da norma culta, deve evitar-se o uso de gírias,
palavras estrangeiras ou vulgares. Caso seja indispensável sua presença, elas
devem ser destacadas; com itálico, no caso de estrangeirismos, ou com
aspas, nos demais casos.
Você
pode redizer ou reescrever qualquer coisa, todavia o modo como o faz é
que estabelece a diferença. Isso é que eu chamo originalidade.
Assim
concluiu o Bruxo do Cosme Velho: Por
vezes, um pouco de ironia, na literatura, faz um bem enorme...
E
eu continuo lendo, escrevendo e aprendendo...
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