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sábado, 22 de julho de 2017

Contos e crônicas


O bilhete do Mané e as dicas de Machado

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Esta eu ouvi do meu concunhado Carvalho. Apenas troquei os nomes das personagens: Joaquim, também conhecido como Kincão, dono de uma mercearia que também vendia materiais de obras, era amigo de Manuel, ou Mané, homem de poucas letras, mas bem conceituado proprietário de um restaurante na cidade de Barreiras, BA, onde ambos mantinham seus negócios e residiam.
Certo dia, em que faltara algo em seu comércio, Manuel escreveu um bilhete a Joaquim, solicitando-lhe envio do produto em escassez.
Ao ler o bilhete, Joaquim estranhou: — Ué, o Mané está reformando seu restaurante? Pensou.
Entretanto, como o pedido era para atendimento urgente, chamou o motorista do caminhão de transporte da loja, pediu-lhe para colocar, no carro, cinco sacos de cal, com trinta quilos cada, e levá-los ao amigo rapidamente.
Uma hora depois, o próprio Manuel entrou nervoso no comércio de Joaquim e perguntou-lhe: 
Kincão, por que você não atendeu ao meu pedido e ainda me enviou cinco sacos de cal?
— Ora, Manuel, não foi o que você me pediu no bilhete?
— De jeito nenhum, pedi-lhe cinco sacos de sal e não de cal.
— Pois então, releia o que você escreveu: 
"Amigo Kincãu, mandi intregá nu meu restorante cinco saco de cal".
Ao que o Mané respondeu:
— Mas, amigo, só pur causu qui faltô uma cobrinha embaixo do “c” ocê num intendeu? 
E “corrigiu” cal para "çal".


*

Consultando Machado sobre como escrever bem, ele disse-me que, antes de mais nada, é preciso ler muito, os mais diversos gêneros textuais: artigos, crônicas, contos, romances, piadas, comerciais, artes, composições musicais, poemas, relatórios, resumos, resenhas, e-mails, WhatsApps...
— Que tal você sugerir-nos que fazer ou não em nossos textos, amado guru? pedi-lhe.
Ele, então, disse-me que escrever e falar bem é abrir a porta do sucesso. Entretanto, a fala é menos rigorosa do que a escrita, em relação à norma padrão de qualquer idioma. Por isso, disse, ao escrever, precisamos observar cinco requisitos básicos: clareza, concisão, coerência, correção e originalidade. E passou-me estas dicas que, segundo ele, não abordam tudo, mas o essencial numa redação:
A clareza é irmã da concisão. Não use palavras rebuscadas, utilize frases curtas. Seja objetivo, evite adjetivação exagerada. Cada período deve possuir apenas uma ideia central. Fuja da generalização no que escrever.
A coerência é irmã da lógica. É preciso haver nexo entre os termos e frases do período escrito, sem o que podemos contradizer-nos. Para o nexo, é necessário o uso correto dos conectivos: pronomes, conjunções, preposições, numerais, artigos...
A correção gramatical requer considerável conhecimento linguístico e também muita atenção no que se pensa e no que, de fato, está escrito. Para isso, é preciso revisar diversas vezes o que escrever, antes de submeter seu texto a outro leitor, ou então ter um bom revisor, como é seu amigo A.O.
Em textos que exigem o predomínio da norma culta, deve evitar-se o uso de gírias, palavras estrangeiras ou vulgares. Caso seja indispensável sua presença, elas devem ser destacadas; com itálico, no caso de estrangeirismos, ou com aspas, nos demais casos.
Você pode redizer ou reescrever qualquer coisa, todavia o modo como o faz é que estabelece a diferença. Isso é que eu chamo originalidade. 
Assim concluiu o Bruxo do Cosme Velho: Por vezes, um pouco de ironia, na literatura, faz um bem enorme...
E eu continuo lendo, escrevendo e aprendendo...






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