A Crise da Morte
Ernesto Bozzano
Parte 8 e final
Concluímos o estudo do clássico A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano,
conforme tradução de Guillon Ribeiro publicada em 1926 pela editora da Federação
Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo tenha servido para o
leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
O texto de hoje, como os anteriores, compõe-se de duas partes:
1) questões preliminares;
2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às
questões apresentadas encontram-se no final do texto indicado para leitura.
Questões preliminares
A. Quem é Celfra e que informações
transmitiu?
B. Que diz Bozzano sobre a condição
dos Espíritos puros?
C. Quais são os doze detalhes
fundamentais pertinentes à crise da morte, referidos por Bozzano em suas
conclusões?
D. Quantos e quais são os detalhes
secundários colhidos por Bozzano nas comunicações transcendentais examinadas?
Texto para leitura
120. Décimo sétimo caso – Vimos, fundados em fatos, que os Espíritos desencarnados
entram numa primeira fase de existência espiritual, que constitui uma
reprodução espiritualizada do meio e da existência terrestres. Mas trata-se de
uma fase transitória, se bem que de muito longa duração. Como será, então, a
existência espiritual propriamente dita? Que significa passar ao estado de
"puros Espíritos"? (P. 158)
121. Evidentemente, são raríssimas as
mensagens transcendentais emanadas de Inteligências espirituais existentes no
estado de "puros Espíritos". O que existe são alguns apanhados de
revelações provenientes de Inteligências desse porte, como as da personalidade
mediúnica "Imperator", que ditou a Stainton Moses os famosos Ensinos
Espiritualistas, e as ditadas por "Celfra" a Frederico Haines, na
preciosa brochura intitulada: Thus saith
Celphra. (PP. 158 e 159)
122. A personalidade mediúnica
"Celfra" é, na verdade, o Espírito de um monge da Nicomédia, que
viveu no século III da Era cristã. (P. 159)
123. Eis, em resumo, os
esclarecimentos ditados pelo Espírito de Celfra: a) existem esferas espirituais
de transição, em que os Espíritos guardam a forma humana e se veem num meio
análogo ao terrestre; b) o peso do Espírito recém-chegado ao mundo espiritual
provém das condições de pecado em que toda gente aí chega; c) enquanto a alma
do recém-vindo estiver ligada, de alguma sorte, ao mundo dos vivos, o Espírito
não pode deixar de existir numa condição quase terrena; d) após a morte do
corpo físico, nas altas esferas espirituais a faculdade de pensar experimenta
uma transformação e uma expansão prodigiosas; e) a identidade do Espírito lhe é
conferida por um atributo que não podemos ainda conceber. (PP. 159 a 161)
124. Comentando as informações de
Celfra, Bozzano menciona outra revelação transcendental dada por uma
personalidade mediúnica elevada, publicada em 1918 na revista Light, na qual, dissertando sobre as
condições de sua existência espiritual, a entidade diz: "Somos um centro
de irradiação que possui a identidade". (P. 162)
125. Concluindo a análise dessas
informações, Bozzano assevera: "Segundo o que expusemos, parece que, na
condição de puro Espírito, toda entidade se despoja da ‘forma’, tornando-se um
‘centro consciente de irradiação psíquica’, em que ainda existe a identidade,
mas sob um aspecto para nós inconcebível e qualificativamente diferente da
identidade pessoal terrestre, muito embora toda individualidade pessoal
terrestre possa vir a encontrar-se nessa condição muito elevada de existência,
porque o ‘o estado radiante do ser abrange o Passado, o Presente e o Futuro’ –
como o afirma ‘Celfra’. Em outros termos: Dada uma condição do ser, emancipado
da matéria, da forma e da relatividade do espaço, resulta daí que as ‘vibrações
psíquicas’, irradiando sem cessar de todo ‘centro espiritual individual’,
invadem instantaneamente o Universo inteiro, conferindo a onipresença e a
onisciência à fonte consciente e inesgotável, donde elas promanam". (P.
162)
126. Conclusões - O autor reafirma, no final da obra, que ela é o
primeiro ensaio analítico destinado a demonstrar o valor intrínseco,
positivamente científico, do ramo da Metapsíquica, injustamente desprezado, que
estuda o tema das "revelações transcendentais". (P. 163)
127. Para atingir o fim proposto,
era-lhe primeiramente indispensável demonstrar que as "revelações transcendentais",
longe de se contradizerem mutuamente, concordam entre si e se confirmam umas às
outras. Em segundo lugar, era preciso demonstrar que essas concordâncias não
podem ser atribuídas nem a coincidências fortuitas, nem a reminiscências
subconscientes de conhecimentos adquiridos pelos médiuns. (P. 163)
128. Observados tais critérios, eis,
resumidamente, os doze detalhes fundamentais, a cujo respeito se acham de
acordo, salvo uma ou outra exceção, os Espíritos comunicantes:
1 - Os Espíritos se encontram novamente,
na vida espiritual, com a forma humana.
2 - Todos eles, após a morte, ignoram
durante algum tempo que estão mortos.
3 - Eles passam, no curso da crise
pré-agônica, ou pouco depois, pela prova da reminiscência dos acontecimentos da
existência ora encerrada.
4 - Todos eles são acolhidos no mundo
espiritual pelos Espíritos das pessoas de suas famílias ou de seus amigos
mortos.
5 - Quase todos passam, após a morte,
por uma fase mais ou menos longa de "sono reparador".
6 - Todos se acham num meio espiritual
radioso e maravilhoso (no caso de mortos moralmente normais) e num meio
tenebroso e opressivo (no caso de mortos moralmente depravados).
7 - Todos reconhecem que o meio
espiritual é um novo mundo objetivo, real, análogo ao meio terrestre
espiritualizado.
8 - Eles aprendem que isso se deve ao
fato de que, no mundo espiritual, o pensamento constitui uma força criadora,
por meio da qual o Espírito existente no "plano astral" pode
reproduzir em torno de si o meio de suas recordações.
9 - Todos ficam sabendo que a
transmissão do pensamento é a forma da linguagem espiritual, embora certos
Espíritos recém-chegados se iludam e julguem conversar por meio da palavra.
10 - Eles verificam que, graças à
faculdade da visão espiritual, se acham em estado de perceber os objetos de um
lado e outro, pelo seu interior e através deles.
11 - Todos eles aprendem que podem
transferir-se temporariamente de um lugar para outro, ainda que muito distante,
por efeito apenas de um ato da vontade, podendo também passear no meio
espiritual ou voejar a alguma distância do solo.
12 - Os Espíritos dos mortos gravitam
fatalmente e automaticamente para a esfera espiritual que lhes convém, por
virtude da "lei de afinidade". (PP. 164 a 166)
129. Além dos doze detalhes
fundamentais acima enumerados, Bozzano relacionou oito detalhes secundários
colhidos nas revelações transcendentais examinadas:
1 - Os defuntos dizem que os Espíritos
dos mortos a quem nos ligamos em vida intervêm para acolher e guiar os
recém-desencarnados, antes que se inicie o "sono reparador".
2 - Os Espíritos, ao observarem seus
cadáveres no leito de morte, geralmente falam de um "corpo etéreo"
que se condensa acima do "corpo somático", fato que é confirmado
pelos videntes.
3 - Eles dizem que, assim como não
existem pessoas absolutamente idênticas no mundo dos vivos, o mesmo se dá no
mundo espiritual, de modo que as condições verificadas no trespasse não são
exatamente as mesmas para todos.
4 - Embora os Espíritos tenham a
faculdade de criar mais ou menos bem, pela força do pensamento, o que lhes seja
necessário, quando se trata de obras complexas e importantes a tarefa é
confiada a grupos de Espíritos que nisso se especializaram.
5 - Quando dominados por paixões
humanas, os Espíritos se conservam ligados ao meio onde viveram, por um lapso
de tempo mais ou menos longo. Não podendo, assim, gozar do benefício do sono
reparador, esses Espíritos persistem na ilusão de se julgarem vivos e
tornam-se, muitas vezes, Espíritos "assombradores" ou
"perseguidores".
6 - No mundo espiritual, os Espíritos
inferiores não podem perceber os que lhes são superiores, devido à diversidade
das tonalidades vibratórias de seus "corpos etéreos".
7 - As dilacerantes crises de dor, que
frequentemente se produzem junto dos leitos de morte, são penosas para os
Espíritos dos defuntos e os impedem de entrar em relação com as pessoas que
lhes são caras, retendo-os no meio terrestre.
8 - Os Espíritos afirmam, por fim,
que, quando se encontram sós e tomados de perplexidades de toda sorte, percebem
uma voz que lhes chega de longe e os aconselha sobre o que fazer: trata-se da
voz vinda de Espíritos amigos que, percebendo de modo telepático os seus
pensamentos, apressam-se em lhes transmitir conselhos. (PP. 167 a 169)
130. Bozzano lembra, no final da obra,
que as concordâncias cumulativas acerca de numerosos detalhes são inexplicáveis
por qualquer teoria, exceto por aquela segundo a qual são os próprios Espíritos
dos mortos que vêm até nós relatar experiências realmente vivenciadas e, por
isso, verídicas. (P. 169)
131. Ele discute, por fim, a hipótese
de serem tais concordâncias fruto de "coincidências fortuitas" ou de
"reminiscências subconscientes de conhecimentos adquiridos pelos
médiuns". (PP. 170 a 172)
132. Refutando ambas as hipóteses,
Bozzano lembra que no início do Espiritismo todos os médiuns traziam em si os
condicionamentos culturais da Religião dominante, que sempre falou em paraíso,
purgatório e inferno, fatores que não aparecem nas descrições das moradas
espirituais, mesmo as dos primeiros anos de movimento espírita. (P. 172)
133. O valor teórico inerente à
circunstância de serem ditas revelações, desde o ano de 1853, contrárias às
opiniões dos próprios médiuns não escapou à mentalidade investigadora do Dr.
Gustave Geley, que viu nisso "uma prova a favor da doutrina que as soube
verificar e explicar tão completamente". (PP. 173 e 174)
134. O autor lembra finalmente que, ao
referir-se a "revelações transcendentais", forçoso é que elas
realmente o sejam. Para isso, antes de incluir, numa classificação científica,
coleções de revelações dessa espécie, é preciso se lhes examine severamente o
conteúdo, submetendo-as ao sistema da análise comparada e da convergência das
provas. (P. 174)
135. Conforme ele explicara
anteriormente, entre as provas que contribuem para assinalar à mensagem origem
estranha ao médium, cumpre se registrem os episódios de identificação pessoal
do defunto que se comunica e, sobretudo, os detalhes cuja veracidade se pode
comprovar e que, muitas vezes, se encontram intercalados nas descrições da
existência espiritual, detalhes que, nesse sentido, assumem excepcional eloquência.
(P. 174)
136. Como esses critérios de
investigação científica foram aplicados ao material científico que ele
examinou, forçoso será convir em que esta obra serve para demonstrar que o
valor científico das "revelações transcendentais" não mais deve ser
posto em dúvida. (P. 176)
Respostas às questões preliminares
A. Quem é Celfra e que informações transmitiu?
A personalidade mediúnica "Celfra" é, na
verdade, o Espírito de um monge da Nicomédia, que viveu no século III da Era
cristã. Eis, em resumo, os esclarecimentos ditados por Celfra: a) existem
esferas espirituais de transição, em que os Espíritos guardam a forma humana e
se veem num meio análogo ao terrestre; b) o peso do Espírito recém-chegado ao
mundo espiritual provém das condições de pecado em que toda gente aí chega; c)
enquanto a alma do recém-vindo estiver ligada, de alguma sorte, ao mundo dos
vivos, o Espírito não pode deixar de existir numa condição quase terrena; d)
após a morte do corpo físico, nas altas esferas espirituais a faculdade de
pensar experimenta uma transformação e uma expansão prodigiosas; e) a
identidade do Espírito lhe é conferida por um atributo que não podemos ainda
conceber. (A Crise da Morte, pp. 159
a 161.)
B. Que diz Bozzano sobre a condição dos Espíritos puros?
Bozzano entende que, na condição de puro Espírito,
toda entidade se despoja da ‘forma’, tornando-se um ‘centro consciente de
irradiação psíquica’, em que ainda existe a identidade, mas sob um aspecto para
nós inconcebível e qualificativamente diferente da identidade pessoal
terrestre. (Obra citada, pág. 162.)
C. Quais são os doze detalhes fundamentais pertinentes à crise da
morte, referidos por Bozzano em suas conclusões?
Eis, resumidamente, os doze detalhes fundamentais,
referidos pelo autor do livro: 1 - Os Espíritos se encontram novamente, na vida
espiritual, com a forma humana. 2 - Todos eles, após a morte, ignoram durante
algum tempo que estão mortos. 3 - Eles passam, no curso da crise pré-agônica,
ou pouco depois, pela prova da reminiscência dos acontecimentos da existência
ora encerrada. 4 - Todos eles são acolhidos no mundo espiritual pelos Espíritos
das pessoas de suas famílias ou de seus amigos mortos. 5 - Quase todos passam,
após a morte, por uma fase mais ou menos longa de "sono reparador". 6
- Todos se acham num meio espiritual radioso e maravilhoso (no caso de mortos
moralmente normais) e num meio tenebroso e opressivo (no caso de mortos
moralmente depravados). 7 - Todos reconhecem que o meio espiritual é um novo
mundo objetivo, real, análogo ao meio terrestre espiritualizado. 8 - Eles
aprendem que isso se deve ao fato de que, no mundo espiritual, o pensamento
constitui uma força criadora, por meio da qual o Espírito existente no
"plano astral" pode reproduzir em torno de si o meio de suas
recordações. 9 - Todos ficam sabendo que a transmissão do pensamento é a forma
da linguagem espiritual, embora certos Espíritos recém-chegados se iludam e
julguem conversar por meio da palavra. 10 - Eles verificam que, graças à
faculdade da visão espiritual, se acham em estado de perceber os objetos de um
lado e outro, pelo seu interior e através deles. 11 - Todos eles aprendem que
podem transferir-se temporariamente de um lugar para outro, ainda que muito
distante, por efeito apenas de um ato da vontade, podendo também passear no
meio espiritual ou voejar a alguma distância do solo. 12 - Os Espíritos dos
mortos gravitam fatalmente e automaticamente para a esfera espiritual que lhes
convém, por virtude da "lei de afinidade". (Obra citada, pp. 163 a
166.)
D. Quantos e quais são os detalhes secundários colhidos por Bozzano nas
comunicações transcendentais examinadas?
Além dos doze detalhes fundamentais acima
referidos, Bozzano relacionou oito detalhes secundários colhidos nas revelações
transcendentais examinadas, a saber: 1 - Os defuntos dizem que os Espíritos dos
mortos a quem nos ligamos em vida intervêm para acolher e guiar os
recém-desencarnados, antes que se inicie o "sono reparador". 2 - Os
Espíritos, ao observarem seus cadáveres no leito de morte, geralmente falam de
um "corpo etéreo" que se condensa acima do "corpo
somático", fato que é confirmado pelos videntes. 3 - Eles dizem que, assim
como não existem pessoas absolutamente idênticas no mundo dos vivos, o mesmo se
dá no mundo espiritual, de modo que as condições verificadas no trespasse não
são exatamente as mesmas para todos. 4 - Embora os Espíritos tenham a faculdade
de criar mais ou menos bem, pela força do pensamento, o que lhes seja
necessário, quando se trata de obras complexas e importantes a tarefa é
confiada a grupos de Espíritos que nisso se especializaram. 5 - Quando
dominados por paixões humanas, os Espíritos se conservam ligados ao meio onde
viveram, por um lapso de tempo mais ou menos longo. Não podendo, assim, gozar
do benefício do sono reparador, esses Espíritos persistem na ilusão de se
julgarem vivos e tornam-se, muitas vezes, Espíritos "assombradores"
ou "perseguidores". 6 - No mundo espiritual, os Espíritos inferiores
não podem perceber os que lhes são superiores, devido à diversidade das
tonalidades vibratórias de seus "corpos etéreos". 7 - As dilacerantes
crises de dor, que frequentemente se produzem junto dos leitos de morte, são
penosas para os Espíritos dos defuntos e os impedem de entrar em relação com as
pessoas que lhes são caras, retendo-os no meio terrestre. 8 - Os Espíritos
afirmam, por fim, que, quando se encontram sós e tomados de perplexidades de
toda sorte, percebem uma voz que lhes chega de longe e os aconselha sobre o que
fazer: trata-se da voz vinda de Espíritos amigos que, percebendo de modo
telepático os seus pensamentos, apressam-se em lhes transmitir conselhos. (Obra
citada, pp. 167 a 170.)
Nota:
Links que remetem aos 3 textos anteriores:
Parte 5 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/07/iniciacao-aos-classicos-espiritas_28.html
Parte 6 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/08/iniciacao-aos-classicos-espiritas.html
Parte 7 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/08/iniciacao-aos-classicos-espiritas_11.html
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