Os sacrifícios conforme a visão espírita
Numa roda de amigos, alguém suscitou o tema
sacrifícios e sua relação com o período da chamada Quaresma, que católicos e ortodoxos
conhecem muito bem.
Para os não afeitos à liturgia da Igreja, lembramos
que a Quaresma faz parte do ano litúrgico e compreende os 40 dias que vão da
quarta-feira de cinzas até o domingo de Páscoa, período esse que deve ser
destinado, por católicos e ortodoxos, à penitência. É aí, então, que dentro da
penitência surge a ideia de realização de sacrifícios.
O vocábulo sacrifício tem, conforme a etimologia,
o sentido de se “fazer alguma coisa sagrada”. Em seu sentido primitivo e
unicamente religioso, representa uma oferenda que se faz à Divindade por meio
de rituais. A oferenda pode ser representada por uma pessoa, por um animal ou
ainda por produtos de origem vegetal ou outros objetos.
O propósito declarado do sacrifício varia muito
entre as diferentes culturas. Por extensão, pode ele ser considerado como uma
renúncia ou privação voluntária de alguma coisa, como a privação dos gozos
inúteis, que a doutrina espírita considera ato meritório, porque desprende da
matéria o homem e eleva sua alma.
Resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao
gozo das coisas inúteis, tirar do que temos para dar aos que carecem do
bastante, fazer o bem aos nossos semelhantes – eis algumas práticas que
apresentam grande mérito dentro do rol das chamadas privações voluntárias.
A realização de sacrifícios religiosos está
geralmente relacionada com as mortificações e as penitências. O verbo mortificar
é sinônimo de afligir, atormentar, castigar, macerar o próprio corpo com
penitências. A mortificação ocorreria devido ao arrependimento ou à dor
resultante do pecado cometido.
Em função do arrependimento, certas autoridades
religiosas impõem uma pena ao arrependido para remissão de seus pecados, pena
essa representada por jejuns, orações, macerações do corpo e outras tantas
mortificações inerentes às manifestações de culto externo.
Em seu livro Elucidações
Evangélicas, Sayão examina o assunto “penitência” e diz que essa prática é,
segundo algumas religiões, necessária ao pecador que não deseja agravar sua
culpa e tornar-se, por conseguinte, passível de maiores castigos.
A penitência, tal como a entendia Jesus, não
consiste, porém, na reclusão em claustros, nos cilícios e em outras tribulações
materiais. Ela consiste no arrependimento sincero e profundo e no propósito
firme em que a criatura se coloca de não tornar a cometer as faltas que a
arrastaram à mísera condição humana e esforçar-se por repará-las.
O Espírito penitente – afirma Sayão – “absorve-se
todo na oração e na vigilância que Jesus recomendava e que formam uma espécie
de antemural às ondas de paixões que nos lançam no abismo do infortúnio”.
No intuito de obter favores ou mesmo agradar a Deus
ou aos Bons Espíritos, algumas pessoas executam determinadas ações ou se impõem
certas privações a que chamam de promessa. Ora, as promessas já tiveram sua
época e já vai distante o tempo das supersticiosas imposições da teocracia. Ao
seu reinado sucedeu o império da inteligência e da razão, únicos fundamentos
inabaláveis da fé esclarecida e ativa. Sacrifícios, mortificações e promessas
são, portanto, manifestações materiais do culto externo, praticadas por pessoas
ainda distantes das verdades espirituais.
Falando sobre a mortificação e seu mérito,
aconselham os Espíritos superiores: “Procurai saber a que ela aproveita”. “Se
somente serve para quem a pratica e a impede de fazer o bem, é egoísmo, seja
qual for o pretexto com que entendam de colori-la. Privar-se a si mesmo e
trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a caridade
cristã.” (O Livro dos Espíritos,
721.)
Debilitar o corpo com privações inúteis e
macerações sem objetivo, torturar e martirizar voluntariamente o corpo material
são atos que, evidentemente, contrariam a lei de Deus, porquanto enfraquecer o
veículo corpóreo sem necessidade é verdadeiro suicídio.
Sobre o tema sugerimos aos interessados que
consultem, também, as questões 669 a 673 d´O
Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: http://goo.gl/OJCK2W, e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele
nos propicia.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário