Causos da caserna
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amigo leitor, acabo de ler uma piada de
caserna na Seleções Reader’s Digest
de outubro, narrada por Nélson Goud. Segundo ele, certo dia em que praticava
tiro com fuzil, ao ser colocado a duzentos metros do alvo, errou a pontaria,
embora todos os seus tiros houvessem passado rente ao alvo. Ainda assim, o
sargento instrutor do treinamento o aprovou e justificou desse modo sua
aprovação: “Você sufocaria qualquer um com toda a poeira que levantou”.
Em minha época de militar do Exército,
em Realengo, RJ, certo dia, realizávamos treinamento de tiro em alvos colocados
acima de um morro. Chegada minha vez, após disparar seis tiros de fuzil e errar
todos, ouvi do oficial responsável pelo treinamento o seguinte: “Você errou
todos os tiros, mas, se houvesse alguém atrás do morro, agora estaria morto”.
Sou dessas pessoas que, por vezes,
trocam o dia pela noite, e isso causou-me uma série de embaraços na vida
militar. Um dia em que nossa companhia acampou, fazia muito calor. Logo após o
almoço, vi um dos caminhões da companhia estacionado um pouco afastado da tropa
e, por estar com muito sono, subi em sua carroçaria, deitei-me e adormeci.
Quando acordei, sacudi uma cobra morta que, por brincadeira, alguém colocou
sobre minhas pernas.
Se a intenção fora assustar-me, o tiro
saiu pela culatra, pois logo vi que o ofídio estava morto e, calmamente, desci
do caminhão e retornei às minhas atividades. Até hoje, desconheço o autor do
“trote”... Os militares são muito brincalhões.
Eu, porém, embora tenha feito o
primeiro curso, no Exército, na área de comunicações e conhecesse muito bem os
regulamentos militares, resolvi mudar de qualificação militar (QM) original
para a de saúde, que naquele ano oferecia essa possibilidade, por excesso de
vagas nesta última QM.
Ao ser transferido para o 19º Batalhão
de Caçadores, em Salvador, BA, percebi, insatisfeito, que os militares de saúde
dessa unidade concorriam à escala de serviço de guarda. No primeiro dia em que
fui escalado para comandar a guarda, o capitão comandante de minha companhia
entrava pelo portão do quartel, e eu não perdi tempo, com a guarda em forma,
dei-lhe ordem de apresentar arma para o capitão.
A partir desse dia, todos os militares
da área de saúde do quartel passaram a concorrer à escala exclusiva do serviço
de saúde. O motivo foi simplesmente que meu comando não deveria ter sido de
“apresentar armas” e sim de “ombro armas”, pois só se apresenta armas, nos
quartéis, para coronéis ou superiores hierárquicos destes.
Percebi que nesta encarnação não nasci
para “ser militar”, mas para “estar militar”, em virtude de meu código genético
não ser compatível com o despertar de madrugada, sem que passasse o dia inteiro
sonolento. Nos últimos doze anos de caserna, meu ritmo biológico ainda ficara
mais comprometido, durante o dia. Acontece que, ao chegar do quartel, tomava
banho, jantava e ia dar aula de português em alguns colégios de Brasília, o que
fiz durante vinte e dois anos, até que problemas auditivos me impedissem de
continuar esse trabalho.
Então, deixo aqui minha sugestão aos
militares: verifiquem o ritmo biológico de seus soldados, antes de julgarem que
estes são indisciplinados, pois há muitas pessoas que produzem melhor à noite,
ou após uma soneca. Era o meu caso.
De qualquer forma, permitir a um ser
humano sonolento que durma um pouco, caso precise, para melhor desempenhar suas
tarefas profissionais, é sábia atitude das empresas modernas.
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