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quinta-feira, 22 de março de 2018




As penas eternas na visão espírita

Este é o módulo 72 de uma série que esperamos sirva aos neófitos como iniciação ao estudo da doutrina espírita. Cada módulo compõe-se de duas partes: 1) questões para debate; 2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto sugerido para leitura. 

Questões para debate

1. A doutrina das penas eternas, constante da teologia católica, é admitida pelo Espiritismo?
2. Qual é a principal crítica que podemos fazer, com base nas lições de Jesus, à doutrina das penas eternas?
3. De que ordem de ideias surgiu a doutrina da eternidade das penas consubstanciada na teologia católica?
4. Qual é a causa da infelicidade que acomete grande parte dos seres humanos?
5. Há no Universo lugares reservados para o inferno?

Texto para leitura

As penas eternas desmentiriam a bondade de Deus
1. As tradições dos diferentes povos registram a crença, muitas vezes intuitiva, de castigos para os maus e recompensas para os bons, na vida de além-túmulo. Com efeito, diante da imortalidade da alma, a razão e o sentimento de justiça nos levam a compreender que deve ser dado tratamento diferenciado aos homens pela Justiça Divina, de conformidade com a natureza das obras que executaram no mundo.
2. A tese da eternidade das penas reservadas àqueles que infringem as leis do bem e do amor, tanto quanto a existência do inferno, não resistem, contudo, a uma análise objetiva. O raciocínio lógico conduz-nos à seguinte premissa: Se o Espírito sofre em função do mal que praticou, sua infelicidade deve ser proporcional à falta cometida. 
3. Cumpre considerar também que a condenação perpétua não se coaduna com a ideia cristã da sublimidade da justiça e da misericórdia divinas. Jesus deu testemunho da Bondade e do Amor de Deus, ao afirmar que o Pai celeste não quer que pereça um só de seus filhos.
4. A razão nos leva à consideração de que Deus é, como ensina o Espiritismo, um ser infinito em suas perfeições, pois é filosoficamente impossível conceber o Criador de outra maneira, visto que, se Ele não apresentasse infinita perfeição, poderíamos conceber outro ser que lhe fosse superior. Sendo, portanto, infinitamente sábio, justo e misericordioso, não podemos crer que tenha Ele criado pessoas para serem eternamente desgraçadas em virtude de uma falta ou de um erro passageiro, derivado evidentemente da própria imperfeição do homem.

Jesus revelou que Deus é um Pai misericordioso
5. A doutrina das penas eternas consubstanciada na teologia católica surgiu das ideias primitivas que conceberam a existência de um Criador irritável e mal-humorado – um Deus irado e vingativo, a quem o homem atribuiu características puramente humanas.
6. O fogo eterno é uma figura de que o homem se utilizou para materializar a ideia do inferno, de modo a ressaltar a crueldade da pena, no pressuposto de que o fogo é o suplício mais atroz e produz o tormento mais efetivo. Essas ideias serviram, em certo período da história da Humanidade, para controlar as paixões de criaturas ainda imperfeitas, mas não servem ao homem da atualidade, que nelas não consegue vislumbrar sentido lógico.
7. Jesus valeu-se das figuras do inferno e do fogo eterno para pôr-se ao alcance da compreensão dos homens de sua época. As imagens fortes que utilizou eram, então, necessárias para impressionar a imaginação de indivíduos que pouco entendiam das coisas do Espírito e cuja realidade estava mais próxima da matéria e dos fenômenos que lhes impressionavam os sentidos físicos. Mas foi Jesus também quem, em outras oportunidades, enfatizou a ideia de que Deus é Pai misericordioso e bom e que, das ovelhas que o Pai lhe confiou, nenhuma se perderia.
8. A Justiça Divina, ensina o Espiritismo, manifesta-se na vida dos seres não para impor punições, mas com o objetivo maior de redirecionamento da pessoa para o bem. Deus criou os Espíritos para que progridam continuamente em conhecimento e amor. Essa evolução se produz através de inumeráveis experiências no plano físico e no plano espiritual, e a dor é o estímulo de que a Providência se vale para despertar os que só conhecem tal linguagem, com vistas a impulsionar o progresso. 

Não há no Universo lugares reservados para o inferno
9. A infelicidade é, portanto, consequência natural da imperfeição do Espírito e existe em virtude de suas necessidades evolutivas. O sofrimento não é eterno, porque o mal também não o é. À medida que a criatura progride em amor e sabedoria, o sofrimento se atenua, e dia virá em que a consciência mais denegrida experimentará, no íntimo, a luz radiosa da alvorada do amor de Jesus.
10. Felicidade e infelicidade são, desse modo, proporcionais às realizações e conquistas efetivas registradas pela criatura humana em suas experiências evolutivas. A consciência harmonizada com a Vontade Divina reflete o Amor Sublime e objetiva o bem. A paz interior e a felicidade em sua plenitude são mera decorrência disso.
11. O homem em desequilíbrio interior, ao se voltar para o mal, incorre nos mecanismos da Justiça Divina, que, por meio da dor ou do sofrimento, o estimula ao reajuste e à reparação dos seus erros. Do homem depende, pois, a duração do seu sofrimento. Quanto mais cedo se utilizar do seu livre-arbítrio para progredir, mais cedo se libertará do jugo da dor.
12. No Universo não há lugares reservados para o inferno, pois a dor, independentemente do lugar em que se manifeste, opera a renovação do homem. Há, porém, lugares de penitência no plano invisível, em que o sofrimento se apresenta sob diversas formas e intensidade. Mas esses lugares não se assemelham ao inferno em sua tradicional acepção, visto que se constituem em agrupamentos provisórios, que se extinguirão com a evolução dos seres que os frequentam.

Respostas às questões propostas

1. A doutrina das penas eternas, constante da teologia católica, é admitida pelo Espiritismo?
Não. A tese da eternidade das penas reservadas àqueles que infringem as leis do bem e do amor, tanto quanto a existência do inferno, não resistem a uma análise objetiva. O raciocínio lógico conduz-nos à seguinte premissa: Se o Espírito sofre em função do mal que praticou, sua infelicidade deve ser proporcional à falta cometida. 
2. Qual é a principal crítica que podemos fazer, com base nas lições de Jesus, à doutrina das penas eternas?
A principal objeção à doutrina das penas eternas fundamenta-se no fato de que Jesus enfatizou a ideia de que Deus é Pai misericordioso e bom e que, das ovelhas que o Pai lhe confiou, nenhuma se perderia. Ao dar seu testemunho inequívoco da Bondade e do Amor de Deus, Jesus dizia que o Pai celeste não quer que pereça um só de seus filhos. A condenação perpétua não se coaduna, pois, com a ideia cristã da sublimidade da justiça e da misericórdia divinas.
3. De que ordem de ideias surgiu a doutrina da eternidade das penas consubstanciada na teologia católica?
A doutrina das penas eternas surgiu das ideias primitivas que conceberam a existência de um Criador irritável e mal-humorado – um Deus irado e vingativo, a quem o homem atribuiu características puramente humanas.
4. Qual é a causa da infelicidade que acomete grande parte dos seres humanos?
A infelicidade é a consequência natural da imperfeição do Espírito e existe em virtude de suas necessidades evolutivas. O sofrimento não é eterno, porque o mal também não o é. À medida que a criatura progride em amor e sabedoria, o sofrimento se atenua, e dia virá em que a consciência mais denegrida experimentará, no íntimo, a luz radiosa da alvorada do amor de Jesus.
5. Há no Universo lugares reservados para o inferno?
Não. No Universo não há lugares reservados para o inferno, pois a dor, independentemente do lugar em que se manifeste, opera a renovação do homem. Há, sim, lugares de penitência no plano invisível, em que o sofrimento se apresenta sob diversas formas e intensidade. Mas esses lugares não se assemelham ao inferno em sua tradicional acepção, visto que se constituem em agrupamentos provisórios, que se extinguirão com a evolução dos seres que os frequentam.


Bibliografia:
O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, Parte 1, itens 2, 7, 10, 21 e 33.
O Evangelho segundo Mateus, 5:44-48 e 18:14. 
O Evangelho segundo João, 6:39 e 10:16.
O Consolador, de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, questão 244.


Nota:
Eis os links que remetem aos 3 últimos textos:





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