A volta de Machado à FEB do Rio
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Nem acredita o leitor onde estive na
semana passada. Pois é, estive na sede histórica da Federação Espírita
Brasileira (FEB), que foi fundada em 10 de dezembro de 1911, na Avenida Passos,
nº 30, no Rio de Janeiro.
No século XIX, ainda não foi ali que
estive, mas sim em seu antigo endereço, na Rua da Carioca nº 120, sobrado onde
também residia seu fundador, o português Augusto Elias da Silva. Esse fato foi
relatado em minha crônica de 5 de outubro de 1885, na Gazeta de Notícias.
Após assistir à conversa de alguns
diretores da Casa sobre atividades de assistência social da FEB, acompanhei-os,
ao lado de Jó, até o restaurante da Rua Buenos Aires, onde todos almoçamos. Em seguida, caminhamos pela
Rua Gonçalves Ledo, entramos por uma travessa dessa rua e alcançamos o Teatro
João Caetano.
Caminhando mais um pouco, chegamos ao
Real Gabinete Português de Leitura, local de minhas antigas pesquisas e no qual
presidi quatro sessões da Academia Brasileira de Letras. Ao fundo do salão,
belo busto de Camões. Ao lado do vate português, grande espada, que eu trocaria
por bela caneta descansando após a escrita deste seu famoso soneto:
Alma
minha gentil, que te partiste
tão
cedo desta vida, descontente,
repousa
lá no Céu eternamente,
e
viva eu cá na Terra sempre triste.
Se
lá no assento etéreo, onde subiste,
memória
desta vida se consente,
não
te esqueças daquele amor ardente
que
já nos olhos meus tão puro viste.
E se
vires que pode merecer-te
alguma
cousa a dor que me ficou
da
mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga
a Deus, que teus anos encurtou,
que
tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão
cedo de meus olhos te levou.1
De retorno à FEB, passeamos um pouco
pelo comércio da Rua da Alfândega, acotovelados por milhares de pedestres.
Nesse local, à frente das lojas que ladeiam a rua, seus concorrentes, os
camelôs, vendiam todo tipo de mercadoria, desde frutas diversas e tropicais,
como cajaranas e bananas a chaveiros, roupas e calçados variados.
Mas o que mais me impressionou, no
centro do Rio, foi a quantidade de mendigos. Um deles, deitado ao lado do
teatro João Caetano, lembrou-me famosa peça teatral de Chico Buarque e Paulo
Pontes: Gota d’Água.
Deixo aqui meu louvor à Federação
Espírita Brasileira que, bem perto dali, realiza um trabalho social que remonta
a mais de um século, com base em famosa frase de Allan Kardec: “Fora da
caridade, não há salvação”.
[1]
PIVA, Luís. Organização e comentários.
Luís de Camões: antologia.
Brasília: Thesaurus, 1983, p. 63.
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