Trabalho,
solidariedade e tolerância
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
—
Amigo Jó, quando fui sacristão na igreja da Lampadosa, no Rio de Janeiro, o padre
dava-me uma sacola e, no final da missa, após comovente prece em prol dos
pobres deserdados da sorte, eu recolhia, num saco, os óbolos das pessoas que
frequentavam as missas dos domingos. Nem de longe passava pela cabeça de
qualquer dos beatos a possibilidade de alguém entrar ali e assaltar todo o
mundo. O medo das penas do inferno e o respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo
eram enormes. É, amigo Jó, os tempos estão chegados...
—
Concordo, Bruxo. Há poucos dias, um amigo disse-me que fora à igreja assistir à
missa hebdomadária do último domingo. Pois bem, em plena missa, entraram dois
jovens armados. A primeira coisa que fizeram foi tomar a sacola do sacristão e
exigir que todos os presentes colocassem dentro dela seus relógios, carteiras e
celulares.
—
Isso acontece, meu caro Jó, devido ao crescimento incomensurável das ideias
materialistas, não somente no Brasil, como também no mundo afora. Muitas
pessoas preferem
beneficiar-se dos vários programas sociais promovidos pelo Estado, a trabalhar.
Outras
não se contentam com isso e acham mais fácil roubar, nem que, para isso,
precisem matar... Ora, onde todos vivem das benesses do Governo ou dos bens
alheios não há produção.
—
Isso mesmo, Machado. É muito justo lutar pelos nossos direitos, mas, antes
disso, precisamos cumprir com nossas obrigações. Segundo Cortella, o
importante, na vida, “não é ser famoso, nem acumular coisas e propriedades, em
uma obsessão consumista”. Bom mesmo “é ser importante para alguém, ou seja,
fazer falta para alguém”[1]
—
Segundo esse autor, Jó, sendo muito curta a vida, precisamos aproveitá-la na
convivência, e exercitarmos o amor, a fraternidade e a solidariedade. O que me
fazia feliz, além de ler e escrever, eram os encontros memoráveis que tinha com
meus amigos e amigas. Eram os jogos de xadrez no clube Beethoven, eram os
saraus literários dos quais participava. Tudo isso, aliado à ternura e bondade
de Carolina, com quem reparti os melhores momentos de minha última existência,
fez de mim um homem muito feliz.
Entretanto,
desde o século XIX eu já havia percebido que, sem família e sem Deus, nenhuma
sociedade sobrevive muito tempo.
Para
vivermos bem, não é preciso ter muita coisa. Basta ter o suficiente para boa relação
com todos, sem ser pesado a ninguém. Sugiro-lhe buscar no conhecimento, aliado
à ética, e no trabalho digno os recursos a serem utilizados sem desperdício,
mas também sem usura.
—
Concordo plenamente com isso, Machado. Cortella[2]
também nos lembra que somos o que fazemos, o que fica de nós nos nossos
relacionamentos com outrem. De que nos vale a teoria sem a prática, não é
mesmo? Nada de consumismo obsessivo, de ambições pelo poder ou riqueza. Devemos
viver de tal modo que, quando não mais estivermos no corpo físico, muita gente
sinta a nossa falta. Para isso, não é preciso ficar famoso ou rico.
—
E que você considera importante para que sua reencarnação atual deixe as marcas
de sua personalidade, sem ser mascarado, amigo Jó?
—
Aprendi com Jaques Delors, da UNESCO, em seu relatório da Comissão
Internacional sobre a Educação, desde o século XX, que a boa educação se baseia
em quatro pilares: 1) aprender a aprender; 2) aprender a fazer; 3) aprender a
conviver; e 4) aprender a ser.
Quem
aprende a aprender precisa ter, antes de tudo o mais, muita humildade e
exercitar a leitura crítica.
Quem
aprende a fazer não se limita a repassar a outrem teorias, por mais brilhantes
que sejam, mas também a pô-las em prática diariamente
Quem
aprende a conviver percebe que é na convivência que exercitamos a paciência, a
tolerância com os que têm ideias diferentes das nossas, por mais que as
julguemos ingênuas. Assim, trabalhamos o amor e a fraternidade. Por fim,
observando atentamente a impressão causada no outro, aprende a conhecer-se pelo
exercício da autocrítica.
Quem
aprende a ser já percorreu as etapas anteriores e, agora, está plenamente
capacitado a entender o objetivo da vida: servir para vir a ser cada vez melhor
e mais feliz.
—
Muito bem, Jó, nada tenho a acrescentar. Apenas lhe recomendo aproveitar bem o
tempo no exercício desse importante objetivo: servir. Mas se nada tenho a
acrescentar, Emmanuel sempre tem algo mais a nos dizer.
—
Boa noite, amigos. É com grande alegria que, no momento do repouso corporal,
possamos falar como Machado: Nada mais temos a dizer que não já tenhamos dito.
Entretanto, relembro o comentário que fiz ao lema proposto por Allan Kardec:
Trabalho,
Solidariedade e Tolerância
O
trabalho edifica.
A
solidariedade aperfeiçoa.
A
tolerância eleva.
Trabalhando,
melhoramos a nós mesmos.
Solidarizando-nos,
enriqueceremos o mundo.
Tolerando-nos,
engrandeceremos a vida
Para
trabalhar com êxito, é necessário obedecer à Lei.
Para
solidarizar-nos com proveito, é indispensável compreender o bem e cultivá-lo.
Para
tolerar-nos, em sentido construtivo, é imprescindível amar.
Em
vista disso, o Mestre Divino, há quase dois milênios, afirmou para o mundo:
“Meu Pai trabalha, até hoje, e eu trabalho também.
Estarei
convosco até o fim dos séculos.
Amai-vos,
uns aos outros, como eu vos amei”.
Trabalhemos,
então, construindo.
Solidarizemo-nos,
beneficiando.
Toleremo-nos,
amando sempre.[3]
[1]
CORTELLA, Mário Sérgio. Viver em paz para
morrer em paz. São Paulo: Planeta, 2017.
[2]
Id., p. 12
[3]
XAVIER, Francisco Cândido. Luz no Caminho.
Pelo Espírito Emmanuel. Ed. IDEAL.
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