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sábado, 10 de novembro de 2018





Que procuras?

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

— Boa noite, amigo, já estamos em seu lar para a entrevista de hoje.
— Boa noite, Emmanuel, boa noite, Machado. Alegro-me muito em vê-los. Passo a palavra ao Bruxo do Cosme Velho para iniciar a nova entrevista...
— Obrigado, Jó. Então, sem mais delonga, vamos ao que interessa. Gostaria de sua opinião, Emmanuel, sobre esta pergunta do Cristo: “Que buscais?” (João, 1: 38)
— Amigos, a vida tem por base imensurável quantidade de experiências. Em cada nova existência individual, aprende-se mais um pouco. Nada está estagnado. Observa o vegetal, aparentemente estático, quando o vento não lhe agita os galhos e as folhas. Sobre o solo que Jó pisa, imensa quantidade de seres microscópios se agitam. Aliás, mesmo na ponta de seu dedo, ou no ar que nosso irmão respira, a vida se manifesta invisível ao seu olhar... Todos os seres buscam a bênção e a misericórdia do Pai que está em toda parte. Onde o nada? Em lugar algum...
— Entretanto, Emmanuel, entre uma e outra leitura filosófica que fiz, após reencarnar no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, uma dúvida permanecia em minha mente sempre em busca do miúdo para dele fazer um grande e inefável acontecimento literário. Se Deus é bom, onisciente e onipotente, como defendia, um século antes do meu,  Rousseau, eu não sabia refutar Voltaire, que negava um destes atributos à Divindade, com base apenas na fé: segundo este, Deus não podia ser bom, onisciente e onipotente ao mesmo tempo, porque ante uma tragédia como a que ocorrera em Portugal, quando morreram, em terremoto, mais de cinquenta mil pessoas, uma dessas qualidades ficaria prejudicada.
Para Voltaire, se Deus fosse bom e onisciente, não seria onipotente, pois, se tudo pudesse, poderia evitar a catástrofe portuguesa, mas deixou que ela ocorresse. Se fosse onisciente e onipotente, não seria bom, pois tudo sabendo e tudo podendo, deixou que 50 mil dos seus filhos morressem sem qualquer chance de sobrevivência. E se fosse bom e onipotente, não seria onisciente, pois não saberia que, somente ali, em Portugal, tantas vidas, inocentes e pecadoras, seriam sacrificadas juntas. Onde estava o Pai, quando esse e outros desastres ecológicos ocorreram, desde que Ele criou o mundo?
— Machado, esse pensamento só seria racional sem a chave da vida trazida pelo Espiritismo. Essa chave está na reencarnação. Sem ela, as desigualdades sociais do mundo ficariam sem explicação racional. Quando Jesus se refere às bem-aventuranças para os aflitos, estava referindo-se às compensações na vida futura.  Deus não age por capricho, permitindo a alguns uma vida sem preocupações e a outros a fatalidade das tragédias. Todas as vicissitudes, todos os sofrimentos inevitáveis por que o Espírito imortal passa na existência física têm uma causa justa.
Coube aos Espíritos, sob a direção de Jesus, explicar-nos, racionalmente, aquilo que a crença na unicidade da existência não tinha condições de explicar. Somente remontando às causas pregressas das provas e expiações humanas, o que nos é concedido pela certeza da reencarnação, podemos evitar um raciocínio deturpado, que nega qualquer dos atributos Divinos e nos deixa entregues à revolta e a todo tipo de consequências baseadas em nossos atos contrários à lei do amor, única lei que nos libertará do mal e dos seus resultados nefastos.
— E foi por saber disso que Jesus perguntou aos que o seguiam o que eles buscavam, nobre Emmanuel?
— Sim, Jó, a lei de ação e reação explica o porquê de uns serem atendidos, imediatamente, no que pedem, e outros não...
— Mas então como explicar a seguinte afirmação de Jesus, narrada por Marcos, 11:24: “Por isso vos digo: tudo quanto suplicardes e pedirdes, crede que já o recebestes, e assim será pra vós”?
— Isso está na Bíblia de Jerusalém, que é mais clara, nesse ponto, que as demais bíblias traduzidas. Ora, se já recebemos algo que não temos, é porque, certamente, o que agora não temos, já obtivemos em outra ocasião, que pode ter sido existência anterior. Por outro lado, se seremos atendidos no que agora pedimos, certamente precisaremos ter crédito para que, no momento oportuno, a Bondade Divina nos conceda o bem do qual formos credores.
— Agora entendi o significado do provérbio: “Ajuda-te que o Céu te ajudará”.
— É isso, amigo Jó. A singela pergunta do Senhor não se restringe apenas aos que o seguiam. Aplica-se igualmente a todos os seus novos seguidores, estejam ou não nos templos do mundo. Em especial ao servidor espírita, cabem diversos compromissos ante a Boa-Nova renascente na Terra.
— Quais são esses compromissos, bondoso Emmanuel?
— Sintetizo-os na repetição destas frases finais:
A cada criatura que desperta em mais altos níveis da fé raciocinada, soa a interpelação do Senhor como sendo convite às obras em que se afirme a caridade real. Assim, escuta no íntimo, em cada lance das próprias atividades, a austera palavra do Condutor Divino, convocando-te à coerência entre o ideal e o esforço, entre a promessa e a realização.
Analisa o que fazes. Observa o que dizes. Medita em torno de tuas aspirações mais ocultas. Que resposta forneces à indagação do Senhor?
Quem segue o Cristo, vive-lhe o apostolado.
Serve, coopera e caminha avante, sem temor ou vacilação, lembrando-te de que o Verbo da Verdade incide sobre nós, a cada dia, perguntando incessantemente: Que buscais?
Quando voltei a cabeça, já não vi mais meus amigos. Agora busco suas palavras e exemplos de vida.

Referências:
BÍBLIA de Jerusalém. 3. imp. São Paulo: Paulus, 2004.
XAVIER, Francisco Cândido. O Evangelho de Emmanuel: comentários ao evangelho segundo João.  Coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva. 1. ed. Brasília: FEB, 2015, p. 34 e 35.

O Evangelho segundo o Espiritismo em tradução no português atual

Conforme informamos no último número, damos continuidade à tradução livre, sem fins comerciais, em terceira pessoa, de L’Évangile selon le SpiritismeO Evangelho segundo o Espiritismo, 3. ed., rev., corr. e modif. Paris, 1866.
Parafraseando Allan Kardec, que os bons Espíritos nos auxiliem a concluir este trabalho, se essa for a Vontade de Deus.

Para os homens em particular, esta é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida privada ou pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na justiça mais rigorosa; é, finalmente, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade que está por vir, uma ponta do véu sobre a vida futura que foi levantado. É essa parte que faz o objeto exclusivo deste livro.
Todos admiram a moral evangélica; cada um proclama sua sublimidade e necessidade, mas muitos o fazem confiados no que ouviram falar dele ou por fé em algumas máximas que se tornaram proverbiais; no entanto, poucos a conhecem completamente, menos ainda entendem e sabem deduzir suas consequências. A razão é, em grande parte, por causa da dificuldade de ler o Evangelho, que é ininteligível para número de pessoas. A forma alegórica, o misticismo intencional da linguagem, fazem com que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como leem as preces sem entendê-las, ou seja, sem proveito.
Os preceitos da moral,  difundidos aqui e ali, se confundem com a massa de outras narrativas e passam despercebidos. Desse modo, é impossível fazer um estudo e meditação à parte desses preceitos.
É certo que já foram escritos tratados da moral evangélica, mas seu estilo literário moderno tira-lhes a simplicidade que lhes dá encanto e autenticidade. Ocorre o mesmo com as máximas destacadas, reduzidas à sua expressão proverbial mais simples; são, então, apenas aforismos que perdem parte de seu valor e interesse, pela ausência dos acessórios e pelas circunstâncias em que foram enunciados.
Para remediar esses inconvenientes, reunimos nesta obra os artigos que podem constituir, propriamente falando, um código de moral universal, sem distinção de culto; nas citações mantivemos tudo o que era útil para o desenvolvimento do pensamento, apenas excluindo o que era estranho ao assunto. Temos escrupulosamente respeitado a tradução original de Sacy, bem como a divisão do versículo. Mas, em vez de nos atermos a uma ordem cronológica impossível e sem qualquer vantagem real em tal assunto, as máximas foram agrupadas e classificadas metodicamente de acordo com sua natureza, de modo que sejam deduzidas tanto quanto possível uma da outra. A indicação dos números de ordem dos capítulos e versículos permite recorrer-se à classificação vulgar, se for considerado apropriado.
Este seria apenas um trabalho material de utilidade secundária somente. O essencial seria colocá-lo ao alcance de todos, pela explicação das passagens obscuras e o desenvolvimento de todas as consequências, com o objetivo de aplicá-lo às diferentes posições da vida. É isso que tentamos fazer com a ajuda dos bons Espíritos que nos assistem.







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