Em casa
Emmanuel
Ninguém foge à lei da reencarnação.
Ontem, atraiçoamos a confiança de um companheiro,
induzindo-o à derrocada moral. Hoje, guardamo-lo na condição do parente
difícil, que nos pede sacrifício incessante.
Ontem, abandonamos a jovem que nos amava, inclinando-a ao
mergulho na lagoa do vício. Hoje, temo-la de volta por filha incompreensiva,
necessitada do nosso amor.
Ontem, colocamos o orgulho e a vaidade no peito de um
irmão que nos seguia os exemplos menos felizes. Hoje, partilhamos com ele, à
feição de esposo despótico ou de filho problema, o cálice amargo da redenção.
Ontem, esquecemos compromissos veneráveis, arrastando
alguém ao suicídio. Hoje, reencontramos esse mesmo alguém na pessoa de um
filhinho, portador de moléstia irreversível, tutelando-lhe à custa de lágrimas,
o trabalho de reajuste.
Ontem, abandonamos a companheira inexperiente, a míngua
de todo auxílio, situando-a nas garras da delinquência. Hoje, achamo-la ao
nosso lado, na presença da esposa conturbada e doente, a exigir-nos a
permanência, no curso infatigável da tolerância.
Ontem, dilaceramos a alma sensível de pais afetuosos e
devotados, sangrando-lhe o espírito, a punhaladas de ingratidão. Hoje, moramos
no espinheiro, em forma de lar, carregando fardos de angústia, a fim de
aprender a plantar carinho e fidelidade.
À frente de toda dificuldade e de toda prova, abençoa
sempre e faze o melhor que possas. Ajuda os que te partilham a experiência, ora
pelos que te perseguem, sorri para os que te ferem e desculpa todos aqueles que
te injuriam.
A humildade é chave de nossa libertação. E, sejam quais
sejam os teus obstáculos na família, é preciso reconhecer que toda construção
moral do Reino de Deus, perante o mundo, começa nos alicerces invisíveis da
luta em casa.
Do livro Mãe,
antologia mediúnica constituída de mensagens e poemas psicografados pelo médium
Francisco Cândido Xavier.
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