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sábado, 16 de fevereiro de 2019




Vale a pena conhecer o futuro?

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

 “Vinde, vós que desejais crer. Os Espíritos celestes acorrem a vos anunciar grandes coisas.” – Santo Agostinho (KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 27, it. 23.)

No último domingo, 10 de fevereiro de 2019, corri mais uma vez no Parque da Cidade, em Brasília. Dessa vez, estava acompanhado de um grande amigo.
Ao término da corrida, convidei-o a tomar água de coco e nos sentamos em frente ao quiosque do local conhecido outrora como Pedalinho, para conversarmos e bebermos o precioso líquido repositor de sais minerais e potássio em nosso organismo. Ele, então, disse-me que, há alguns meses, consultou um astrólogo para ver se este era capaz de revelar-lhe seu passado e seu futuro. Isso seria feito com base na leitura de seu “mapa astral”.
— O profissional, disse-me o amigo Cunegundes, não só me revelou muita coisa ocorrida em meu passado, como também desvendou-me o futuro. Fiquei tão perplexo com o que me disse sobre ocorrências das quais eu já nem lembrava, e outras acontecidas, de fato, que não mais duvidei dos astros e do astrólogo. Ante meus olhos perplexos, o profissional anteviu meu futuro brilhante.  Ficarei rico! muito rico! riquíssimo! Conhecerei o mundo e nada me faltará, pois o Senhor é meu Pastor...
— E que você conversou com o tal astrólogo, meu amigo, antes do desvendar de seu planejamento reencarnatório brilhante? Perguntei-lhe.
— Apenas lhe disse meu nome...
— Não acredito. Você deve ter marcado a consulta com antecedência... Hoje em dia, basta colocar o nome de alguém no Google e...
— Não seja cético, Jó, tudo o que me foi falado pelo astrólogo aconteceu em nosso primeiro encontro.
— Pois, meu caro, como sei que você é estudioso do Espiritismo, respondi-lhe, vou preveni-lo de que, se você reler as obras de Allan Kardec sobre revelações, acontecimentos futuros, deparar-se-á com diversos alertas do codificador e dos Espíritos superiores sobre o perigo de nossa credulidade em tais previsões.
— Deixe de ser bobo, meu caro, já li O Livro dos Médiuns dez vezes, e nada há ali contra as revelações sobre nosso futuro.
— Pois bem, Cunegundes, não conheço tanto quanto você essa obra, mas como estou certo de que Kardec nos alerta sobre o assunto nas obras espíritas que publicou, vou pesquisar... Se for verdade o que você me diz, também vou consultar esse astrólogo... Talvez eu também fique  rico... e nunca procurei saber disso. O que sei é que “pra ter fon-fon, trabalhei, trabalhei”, como diria o falecido cantor Wilson Simonal num de seus sucessos musicais. E continuo pobre, mas feliz...
— Com os conhecimentos que tenho, meu pobre amigo Jó, posso  garantir-lhe que o futuro me pertence... Quanto a você, creio que lhe cabe o ditado: “Quem nasceu para minhoca nunca chega a gavião”. Adeus!
— Adeus, meu sábio amigo! Responder-lhe-ei na próxima crônica.
    Horas depois, reli, n’O Livro dos Espíritos, questão 868, a pergunta de Kardec  se o futuro pode ser revelado ao homem. Como resposta, li a informação de que “Em princípio, o futuro lhe é oculto e somente em casos raros e excepcionais Deus permite que seja revelado”.
Já na questão 869, li o seguinte: “Com que objetivo o futuro é oculto ao homem?”
Resposta: “Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma liberdade, porque seria dominado pela ideia de que, se uma coisa tem que acontecer, não adianta ocupar-se dela, ou então tentaria impedia que acontecesse. Deus não quis que assim fosse, a fim de que cada um concorra para a realização das coisas, até daquelas a que desejaria opor-se. Assim é que, muitas vezes e sem desconfiares, tu mesmo preparas os acontecimentos que sobrevirão no curso da tua vida.”
Não satisfeito com essa informação, consultei também O Livro dos Médiuns. Eis o que li, no seu capítulo 26, item 289, número 7, da segunda parte da obra, quando Kardec questiona se os Espíritos podem revelar-nos o futuro:
“Se o homem conhecesse o futuro, não cuidaria do presente. Esse é um ponto sobre o qual sempre insistis, com vistas à obtenção de uma resposta precisa. Trata-se de grande erro, pois a manifestação dos Espíritos não é um meio de adivinhação. Se fizerdes questão absoluta de uma resposta, ela vos será dada por um Espírito leviano, conforme temos dito a todo instante.”
Ainda não me dei por contente e consultei Obras Póstumas, também de Kardec, e li as orientações e advertências contidas no capítulo Segunda vista, subtítulo Conhecimento do futuro. Previsões. Uma frase merece reflexão ali: “O vidente, aquele que de fato merece esse nome, o vidente sério, e não o charlatão que simula essa faculdade, o vidente verdadeiro, em suma, não diz o que o vulgo denomina buena-dicha; ele apenas prevê as consequências do presente; nada mais e já é muito”.
Como fiquei satisfeito com o que li, dada a importância do assunto que, afinal, trata de nosso porvir, recomendo ao queridíssimo amigo Cunegundes a leitura completa das informações em: 1) O Livro dos Espíritos, livro terceiro, subtítulo: Conhecimento do futuro, questões 868 a 872; 2) O Livro dos Médiuns, segunda parte, capítulo 26, questão 289, números 7 a 12, além de todo o capítulo citado acima de Obras Póstumas.
Por certo, se consultar outras obras editadas pelo sábio Allan Kardec, novas luzes surgirão sobre o assunto, que se encerra, a nosso modesto modo de ver, em Obras Póstumas. Eu, entretanto, desde cedo, estudando a Doutrina Espírita, Consolador Prometido por Jesus, aprendi sobre esse assunto que a garantia de um futuro feliz para todo o ser humano está em muito trabalho e boas companhias espirituais e encarnadas. Tudo o mais é ilusão e decepção no futuro.





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