Teoria da significância
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
No
direito, existe uma norma baseada na “teoria da insignificância”. Pois falar-vos-ei
hoje, caros leitores, do novo princípio criado por mim: a “teoria da
significância”.
Há
pessoas que se arrogam o direito de ser “palmatória do mundo”; suas palavras, e
não sei se ações, são pautadas pelo “politicamente correto”. São tão “corretas”
quanto pretensiosas. Não enxergam o próprio umbigo, mas, como os fariseus da
época de Jesus, colocam fardos pesados nos ombros alheios, aos quais nem ao
menos com um dedo ousam tocar, como Ele disse.
Tais
pessoas, autointituladas éticas, como demonstração de seu espírito humanitário,
disparam frases de efeito em relação ao que entendem por correto. Uma delas,
que admiro muito, após sua palestra, assistida ao vivo por centenas de pessoas, filmada e
disponibilizada ao público na internet, afirmou isto: “Uma senhora perguntou-me
se eu não levara meus livros para vendê-los após minha palestra. Disse-lhe que
não era comerciante. Ela respondeu-me que não exigia nota fiscal. Então
indaguei-lhe se ouvira meu discurso”.
Esse
douto cidadão falara antes sobre nossas pequenas faltas, que nos levam à
prática dos grandes crimes, quando somos movidos pela ambição e encontramos
oportunidade de praticá-los. Isso realmente é contagiante, quando ouvimos de
alguém que, em público, cativa pelos altos conhecimentos e elevados conceitos
morais. No entanto, restam algumas dúvidas. Sua palestra foi gratuita? Se foi
cobrada, a instituição que promoveu a cobrança pagou os tributos ao governo?
Naturalmente, ele terá assinado recibo sobre seus justos proventos, caso fora
remunerado. Guardou-os cuidadosamente para declaração anual de rendimentos à
Receita Federal?
Ah,
sim, os livros. É fato que não os levou consigo, porém ele os anunciou. Pode
isso? Esses anúncios estão isentos de taxas? E seu lançamento? Estava conforme
as normas legais? O evento cultural foi financiado pela Lei Rouanet, criada
para incentivar os pequenos agentes culturais? Se sim, a aplicação da lei ao
caso específico foi justa? E, assim por diante, chegaremos à conclusão de que
honestidade não é coisa tão fácil, na prática, como o é no discurso.
Quando
fui consultor do quadro efetivo da Câmara Legislativa do Distrito Federal,
trabalhei com profundo conhecedor de economia. Ele era o principal
administrador da Casa. Vez por outra, ouvia-o dizer que, na política, impera a
demagogia. Em toda a parte...
Quando
ouço os discursos peripatéticos de alguns políticos, em prol da melhoria da
educação, da saúde e da segurança pública, imagino que, se todos os políticos
brasileiros abrissem mão da metade de seus proventos (e, ainda assim, viveriam
nababescamente), já daria para resolver os problemas citados acima em nossa
nação continental. Seria o “sacrifício” de alguns milhares de privilegiados em
prol de milhões de vilipendiados em seus direitos.
Atualmente,
no Brasil, calcula-se em mais de treze milhões o número de pessoas
desempregadas. Então, pergunto: o que é feito dos tributos altíssimos cobrados
do nosso povo? E dos bilhões desviados pela corrupção endêmica iniciada nos
pequenos municípios, por falta de fiscalização eficiente?
Então,
amigo leitor, por uma questão de humanidade real, não se pode considerar crime
a atividade de pessoas simples, que nada mais possuem do que sua criatividade e
esforço próprio para adquirir seus meios de sobrevivência. É o caso desses
vendedores ambulantes que vendem nos bares, nos semáforos, nos parques e
noutros locais públicos doces, frutas e objetos de utilidade doméstica sem
prejuízo considerável para o comércio local.
Isso
não é desonestidade, tampouco roubo. É questão de sobrevivência.
É
nisso que está minha teoria: a da significância. Ela considera justo obter
meios básicos de subsistência, por milhares de cidadãos, ignorados por nossos
governantes, na defesa da própria vida, direito fundamental exarado na Lex
Magna brasileira.
Quando
os governos combaterem a corrupção que se inicia nos pequenos municípios,
exigindo prestação de conta de cada centavo do erário destinado a um serviço ou
bem público; quando cada gestor for responsabilizado por obra inacabada em sua
administração, como, aliás, observamos na cidade goiana esburacada, que
visitamos semanalmente, certamente não haverá mais necessidade de tanta gente
humilde trabalhar nessas condições.
Nesse
dia, nossas crianças e jovens terão excelentes escolas públicas e particulares.
Nossos professores terão formação e salários condizentes com sua profissão. Os
hospitais públicos estarão à altura dos particulares. Os cidadãos poderão sair
de seus lares com a certeza de voltarem vivos. Nossas pequenas cidades serão
asfaltadas, saneadas e não “sacaneadas”. Nossos eletricistas, pedreiros,
marceneiros, pintores de paredes, auxiliares dos lares serão tratados e
remunerados dignamente; e não mais estaremos reféns de ninguém, pois não mais
haverá miséria em nosso país.
Isso,
por enquanto, ainda é uma utopia. Mas se cada cidadão e cidadã influenciador
das massas optar por deixar de lado sua ambição pelo poder, sua demagogia e se
unir em prol de um Brasil ético, com certeza, em breve a famosa “Lei de Gérson”
deixará de existir em nosso país.
Com
o grande avanço dos meios de comunicação, chegou a hora do povo cobrar de seus
prefeitos e vereadores, deputados e senadores o cumprimento das suas promessas
de campanha.
Significante
é, pois, exigir-se de nossos políticos ações efetivas para o atendimento aos
direitos e garantias fundamentais do cidadão, previstos no artigo 5º da Constituição brasileira, tais como “a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”.
Significante
é o direito popular de lutar dignamente pelo cumprimento do que, até então, tem
sido letra morta em nossa Carta Magna: direito à habitação, ao trabalho,
à saúde, ao estudo, à cultura, ao lazer...
Significante
é preservar os costumes da família brasileira, pautados pelas normas cristãs e
éticas.
Significante
é aplicar e prestar conta, honestamente, de cada centavo do erário na
realização de políticas públicas, saneamento básico, segurança, educação de
qualidade etc.
Significante
é combater diuturnamente a corrupção endêmica e epidêmica em nosso país, tanto
quanto as doenças mortais.
E...
fora com os demagogos!
Isso
também é significante.
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