Caridade, o mais longo poema de Parnaso de Além-Túmulo
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Caía a noite em paz. Crepúsculo. Horas
quedas.
Horas de solidão. Pelas planícies
ledas,
A asa ruflando inquieta, os meigos
passarinhos
Recolhiam-se à pressa, em busca dos
seus ninhos.
Assim começa Caridade. O mais longo poema do Espírito Guerra Junqueiro, em Parnaso de Além-Túmulo, livro
psicografado por Chico Xavier. Parnaso,
em sua primeira edição, continha poemas ditados por quatorze poetas
desencarnados ao jovem, que na época estava com 21 anos. Tempos depois, subiu
para 56 o número de poetas do Além... Quatro vezes mais do que em 1932, quando
a obra já chamara a atenção de críticos e dos renomados escritores Monteiro
Lobato e Humberto de Campos.
A obra que possuo está em sua 19ª ed. e
quarta reimpressão. Essa edição de 737 páginas, embora publicada em 2016,
comemora os cem anos de renascimento de Chico. Mas o médium mineiro, caso ainda
estivesse entre nós, teria completado um século em 2010. Tenho outra publicação
da mesma obra que já estava em sua 16ª edição em 2002, data da desencarnação de
Francisco Cândido aos 92 anos. Essas 35 edições e suas reimpressões foram publicadas
pela Federação Espírita Brasileira.
As poesias são analisadas e comentadas
por Elias Barbosa, o que enriquece muito os textos líricos dessa antologia.
Entre poetas pouco conhecidos, destacam-se brasileiros e portugueses do quilate
literário de Castro Alves, Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimarães, Alberto de
Oliveira, Augusto dos Anjos, Auta de Sousa, Olavo Bilac, Antero de Quental etc.
O poema Caridade, ao qual me refiro, ocupa oito páginas do livro atual e
contém 260 versos de doze sílabas métricas, também chamados alexandrinos.
Curiosamente, Caridade possui o
número de versos alexandrinos
equivalente à quantidade de poemas contidos na obra.
Somente sobre essa poesia, daria para se
escrever um livro, se a fôssemos analisar em todos os seus aspectos rítmicos,
em suas rimas, estrofes, vocabulário e conteúdo.
O Espírito Guerra Junqueiro foi poeta
português nascido em 1850 e desencarnado em 1923. Pela psicografia de Chico
Xavier, legou-nos seis poemas nessa obra: O
padre João; Caridade; Romaria; Eterna vítima; A um padre; e Um quadro da quaresma.
Todos esses poemas são longos, mas
nenhum se compara, em tamanho, com Caridade.
Esse poema, de acordo com a edição de 2002, que comemorou 70 anos da primeira
edição, possui 13 estrofes de versos
alexandrinos: a primeira com 30 versos, a segunda com 4, a terceira com 8,
a quarta, quinta e sexta com 26 versos em cada estrofe, a sétima estrofe com 12
versos, a oitava com 38, a nona com 60, a décima com 18 e, da 11ª à 13ª, cada
estrofe contém quatro versos.
Na edição comemorativa atual, publicada
em 2016, a segunda estrofe de quatro versos foi agrupada, por equívoco, à
primeira que, desse modo, ficou com 34 versos. Na próxima edição, esperamos
corrigir essa falha.
O conteúdo do poema, resumidamente
falando, aborda o diálogo do poeta com a Caridade,
entidade que se apresenta em visão ao vate português. O sublime Espírito Caridade diz agir como ensinava
Jesus. Compadece-se dos maus e os socorre, tanto quanto aos bons. Sua mensagem
contrasta com a indiferença e o egoísmo humanos citados pelo poeta. Por fim, o
autor espiritual enaltece a grandiosidade do amor expresso pela Caridade, que termina dizendo-lhe:
“Minha missão é amar os vermes e os países!...”
Extasiado, conclui o poeta:
Muito tempo passara e a noite inda era
escura.
Noite de neve atroz, noite de
desventura!
Foi-se a linda visão, dissipando as
neblinas,
Repartindo o seu pão de carícias
divinas.
Tudo voltou à paz silenciosa e calma...
O inverno e o pesar; e aos olhos da
minh’alma,
O mundo famulento, a Terra, parecia
O planeta da sombra e a mansão da
agonia.
Para entender por que o poema termina
assim, convido o leitor e a leitora curiosos a lerem toda essa obra-prima da
poesia mediúnica no livro citado.
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