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sábado, 30 de novembro de 2019




Por um real...

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Quando Allan Kardec faz a pergunta 799 d’O Livro dos Espíritos  sobre o modo como o Espiritismo pode contribuir para o progresso, obtém como resposta que isso ocorrerá com a destruição do materialismo, uma das chagas sociais. No fim da resposta, lemos esta frase: “Destruindo os preconceitos de seitas, castas e cores, o Espiritismo ensina aos homens  a grande solidariedade que há de os unir como irmãos”.
O Espiritismo bem estudado e bem compreendido, já dizia Kardec, é o maior inimigo do materialismo. Ciência de observação e de experimentação, a Doutrina Espírita vem comprovando, há mais de 160 anos, a sobrevivência e a imortalidade da alma após a morte do corpo físico e outras verdades confirmadas por diversos pesquisadores, anunciadas pelos profetas e pelo Cristo.
Independentemente da crença nas revelações mediúnicas do Espiritismo, suas informações sobre as consequências do bom ou mau uso do livre-arbítrio vêm sendo confirmadas no dia a dia. Um exemplo atual do que afirmamos é o caso do assassínio da jovem chamada Neia no alvorecer do sábado, 16 de novembro de 2019.
A jovem, segundo informação de sua irmã, embora tendo residência fixa, optou por morar em rua de Niterói. Às 5h20 do dia fatídico, teve fome e vendo um jovem passar, aproximou-se dele e pediu-lhe um real para comprar um pão.
Sentindo-se incomodado, o rapaz a mandou afastar-se. Como Neia insistisse, ele sacou sua arma e disparou dois tiros contra a vítima indefesa (foto ao lado). Alguns motoristas, mesmo com o aceno de outra jovem que a amparara e lhes pedira socorro, desesperada, não se comoveram com a cena e seguiram em frente, sem compaixão...
Um dos comentários, dentre outros, que demonstram profundo descaso com a vida alheia, na matéria publicada foi o seguinte:
— Sei que é errado o que ele fez, mas às vezes a gente fica de saco cheio com esses moradores de rua.
Comentário da irmã de Neia:
— Matou minha irmã como se fosse um bicho. Ela apenas queria um real para comprar um pão.
Embora sabendo que nada acontece conosco se isso não estiver em nossas provas ou expiações, Jesus foi bem claro quando nos alertou: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalosmas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mateus 18:7).
Neia libertou-se, temporariamente, de seu novo corpo físico. Certamente, não lhe faltará amparo espiritual, mas seu assassino, além de já ter sido alcançado pela justiça humana, não deixará de responder perante a própria consciência pelo crime cometido. Os indiferentes à sua sorte também não ficarão impunes pela falta de compaixão a um ser humano cruelmente assassinado.
O Espiritismo mostra-nos que o mal jamais encontra compensação. Quem extermina o corpo alheio, além de se sujeitar à justiça terrena, ganha um “encosto espiritual”, quase sempre, que não o abandona tão cedo, além da voz da própria consciência, a cobrar-lhe, implacavelmente: “— Caim, Caim, que fizeste do teu irmão!? Terás que sofrer o mesmo que ele, para que possas resgatar tua dívida perante a Lei de Deus, que estabelece, como norma geral: Tudo que desejares que teu próximo te faça, faze-o também a ele, pois esta é a lei e os profetas” (Mateus, 7:12).
Por outro lado, em Mateus, 10:26, alerta-nos o Cristo: “[...] nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se”. Se desejamos ser felizes, apenas pela prática da caridade, que começa pela compaixão com nosso próximo, podemos livrar-nos das consequências negativas de nossa falta de amor.
Somente o custo dos projetis de chumbo disparados contra a infeliz, com certeza, é bem mais do que o real que ela pedia para comprar um pão. Agora, seu assassino, tão cedo, não terá sossego, além de arcar com as custas advocatícias e a perda da liberdade.
Conhecesse ele o Espiritismo e praticasse sua doutrina, que expande a moral do Cristo e comprova os prejuízos do materialismo, e agora, em vez de estar preso e respondendo por um crime, teria como crédito a gratidão de alguém por tão pouco: um mísero real.






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