Estrela
de Natal
CÍNTHIA
CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
A tarde de 24 de dezembro, na casa do senhor e
senhora Fontes, transcorria normalmente como tantas outras nesta mesma data. A
senhora, mais à tardezinha, prepararia o jantar. O casal não tivera filhos —
não por não desejar —, pois a senhora Fontes era frágil demais e seu corpo não
suportara a experiência da gravidez. Portanto não aguardavam filhos nem netos e
os parentes moravam a muitos quilômetros cruzando o oceano, numa simples cidade
de Portugal. Mas como dizia a senhora ao esposo, “somos tão felizes, meu bem”.
O casal passava dos 50 anos. O senhor era
responsável por uma grande empresa alimentícia e sua esposa tinha uma preciosa
habilidade — herdara de sua mãe — com os bordados finos que já possuíam
endereços certos para a entrega e durante todo o ano havia encomendas sempre a
mais do que ela podia se compromissar.
Naquela tarde, a senhora Fontes sentiu vontade de
preparar algo gostoso para o jantar, embora não tivesse o costume de fazer uma
ceia, mas aquele dia ela se sentiu animada para uma comida um pouco mais
especial. E já sabia até qual seria o “menu”, uma comida que sua mãe costumava
fazer quando a senhora era criança.
O senhor Fontes ficou na sala assistindo a algum
filme enquanto a esposa comentara sobre o jantar e logo foi à cozinha. A comida
seria o típico bacalhau cozido. E como havia todos os ingredientes em casa, a
mulher começou o preparo. A senhora pensou também em uma sobremesa que só
poderia ser a tradicional rabanada. E o preparo continuava.
Era visível a alegria com que a senhora Fontes se
movimentava na cozinha, até ela mesma observou e estranhou isso, então preferiu
se conter, porém a alegria retornava naturalmente. De repente, a senhora
imaginou que algum parente poderia cruzar o mar para visitá-la e estava com uma
surpresa sensação feliz. Só lhe restava continuar.
Passando das sete da noite, a ceia — um pouco antes
— estava pronta e essa ideia da visita — para o seu coração — se fortalecia.
A esposa foi ao banheiro, ajeitou o cabelo e a
roupa e dirigiu-se à sala chamando, carinhosamente, o esposo para o jantar. A
sua alegria era visível.
Os dois, abraçados, e com o amor dos anos vividos,
foram à copa e sentaram-se à bela e farta mesa.
O marido se encantou com a ternura de todo aquele
gesto. Fizeram uma oração de agradecimento e começaram a saborear a deliciosa
comida e o momento feliz.
Senhor Fontes não cansava de elogiar a esposa nem
de dizer-lhe quanto a amava. E seguiu-se um harmonioso jantar.
O bacalhau estava saborosíssimo e depois vieram as
rabanadas. Muito surpreso, o marido havia adorado aquela véspera de Natal, pois
há muito tempo não faziam assim; esses últimos anos foram apenas noites comuns,
talvez por sentirem muita falta dos abraços familiares e não os terem.
E as rabanadas também estavam muito deliciosas.
Durante o jantar, o casal riu, conversou, relembrou tantos momentos e era
nítido o amor entre eles, mas, bem no fundo dos olhos da senhora Fontes, havia
um espaço que desejava ser preenchido.
Os dois nem se haviam dado conta, no entanto
estavam à mesa há quase duas horas. E também um suave licor já haviam bebido.
A senhora Fontes sorriu e falou ao marido que era
hora de levantarem-se e ajeitarem a mesa e a louça, pois ainda assistiriam a um
programa sobre as noites natalinas de Portugal, quem sabe veriam algum parente.
Nesse momento, a campainha tocou. A senhora olhou
assustada ao senhor Fontes que também estranhou, mas sorriu para tranquilizá-la
e fez sinal que iria atender. Ela permaneceu onde estava e seguiu, com o olhar,
o marido que chegou à porta e verificou pelo olho mágico e não viu ninguém.
Demorou mais uns segundos e não viu nada por perto, mas resolveu, assim mesmo,
abrir a porta.
Olhou e viu apenas a movimentação dos parentes
chegando às casas dos vizinhos. Porém um chorinho de criança surgiu. O senhor
olhou, assustado, e acendeu a luz da varanda e embaixo de uma das flores havia
uma caixinha de papelão e dentro, um bebê recém-nascido enrolado em alguns
trapinhos.
— Maria, Maria... — ele chamou a esposa.
— O que foi, José? — ela respondeu perguntando e
aproximando-se.
— Olhe, Maria... o que está nesta caixinha.
A senhora Fontes aproximou-se da caixinha e seus
olhos ficaram brilhosos de emoção. Pegou, com cuidado, o bebê em seus braços e,
preso aos poucos panos que embrulhavam o pequenino, havia um bilhete com a
caligrafia tremida e muito singela das seguintes palavras:
“Preciso de uma mãe e um pai, assim como Jesus
precisou de Maria e José em Sua vida.”
O casal leu junto o bilhete e olhou-se com a maior
emoção sentida e lágrimas vivas.
A senhora Maria Fontes aninhou o bebê aos seus
braços e o senhor José Fontes amparou a esposa com o pequeno e entraram na
casa. Antes de fechar a porta, o senhor José olhou para o céu e agradeceu:
“Obrigado, meu Deus, pelo presente aguardado durante toda a nossa vida.
Obrigado”. E encostou a porta. A casa se iluminou com a grande dádiva recebida.
E lá fora o céu estava claro pelas tantas estrelas
brilhantes.
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