O que nos faz melhores?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR
Autoproclamado
Estado Islâmico, o grupo que aterrorizou parte da população no Iraque e na
Síria não constituiu, obviamente, uma boa propaganda do Islã e da doutrina
contida no Alcorão, fato que foi lembrado e lamentado com tristeza por líderes
muçulmanos de várias partes do mundo.
Com
efeito, sequestrar meninas e decapitar jornalistas não são procedimentos
condizentes com a religião fundada por Maomé e se somam aos argumentos dos que
pretendem que a violência é inerente ao islamismo, o que seguramente não é
verdade.
Ressurge,
a propósito do assunto, uma antiga questão relacionada à qualidade das
religiões e sua eficácia junto aos seus adeptos. E daí, a pergunta inevitável:
– Das religiões conhecidas qual é, afinal, a melhor?
O
assunto não é estranho à obra de Allan Kardec, que dele tratou de forma
objetiva no livro O que é o Espiritismo,
na passagem adiante reproduzida em que Kardec dialoga com um Padre:
Padre. – Pois bem! Que dizem os Espíritos
superiores a respeito da religião? Os bons nos devem aconselhar e guiar.
Suponhamos que eu não tenha religião alguma e queira escolher uma; se eu lhes
pedir para aconselharem-me se devo ser católico, protestante, anglicano, quaker, judeu, maometano ou mórmon, qual
será a resposta deles?
A. K. – Há dois pontos a considerar nas
religiões: os princípios gerais, comuns a todas, e os princípios particulares
de cada uma delas. Os primeiros são os de que falamos há pouco; estes são
proclamados por todos os Espíritos, qualquer que seja a sua classe. Quanto aos
segundos, os Espíritos vulgares, sem ser maus, podem ter preferências,
opiniões; podem preconizar esta ou aquela forma, animar certas práticas, seja
por convicção pessoal, seja porque conservaram as ideias da vida terrena, seja
por prudência, para não assustar as consciências timoratas. Acreditais, por
exemplo, que um Espírito esclarecido, fosse mesmo Fénelon, dirigindo-se a um
muçulmano, irá inabilmente dizer-lhe que Maomé é um impostor, e que ele será
condenado se não se fizer cristão? Não o fará, porque seria repelido.
Em geral, os Espíritos
superiores, se a isso não são solicitados por alguma consideração especial, não
se preocupam com essas questões de minúcia, eles se limitam a dizer: Deus é bom
e justo; não quer senão o bem; a melhor de todas as religiões é aquela que só
ensina o que é conforme à bondade e justiça de Deus; que dá de Deus a maior e a
mais sublime ideia e não O rebaixa emprestando-Lhe as fraquezas e as paixões da
humanidade; que torna os homens bons e virtuosos e lhes ensina a amarem-se
todos como irmãos; que condena todo mal feito ao próximo; que não autoriza a
injustiça sob qualquer forma ou pretexto que seja; que nada prescreve de
contrário às leis imutáveis da Natureza, porque Deus não se pode contradizer;
aquela cujos ministros dão o melhor exemplo de bondade, caridade e moralidade;
aquela que procura melhor combater o egoísmo e lisonjear menos o orgulho e a
vaidade dos homens; aquela, finalmente, em nome da qual se comete menos mal,
porque uma boa religião não pode servir de pretexto a nenhum mal; ela não lhe
deve deixar porta alguma aberta, nem diretamente, nem por interpretação. Vede,
julgai e escolhei. (O que é o Espiritismo,
Terceiro Diálogo, O Padre.)
As
ideias acima expostas pelo Codificador do Espiritismo são semelhantes, se não
idênticas, às que o Dalai Lama expressou em um interessante diálogo com o
conhecido teólogo Leonardo Boff, citado no livro Conselhos Espirituais, publicado por Verus Editora.
Segundo
Leonardo Boff, no intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os
povos, da qual ambos participavam, ele perguntou ao líder tibetano:
–
Santidade, qual é a melhor religião?
O
Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, olhou-o bem nos olhos e
afirmou:
—
A melhor religião é aquela que te faz melhor.
Em
face dessa assertiva tão clara, o teólogo perguntou:
—
O que me faz melhor?
O
Dalai Lama respondeu:
—
Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais
desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que
conseguir fazer isso de ti é a melhor religião...
Em
face de ideias tão sábias, como seria bom que elas chegassem aos líderes do
Estado Islâmico!
Certamente
Maomé – onde quer que se encontre – ficaria feliz se tal acontecesse, e mais
ainda se eles as ouvissem e adotassem.
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