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domingo, 1 de março de 2020


A violência que nos assusta e seu antídoto

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR

Passa ano, entra ano e, no entanto, não se modifica o estado de verdadeira guerra que se verifica na cidade do Rio de Janeiro entre policiais e traficantes, com todas as suas funestas consequências que não poupam ninguém, sejam adultos, sejam crianças.
Haverá um antídoto para tal estado de coisas?
Claro que para tudo existirá sempre um antídoto. Uns têm efeito imediato, outros só produzem resultado a longo prazo.
No caso do comércio de drogas proibidas, causa central dos distúrbios que jamais cessam no Rio, dois são os aspectos a considerar.
De um lado estão os que adquirem o produto, movidos por uma compulsão em que é evidente não apenas determinada enfermidade catalogável nos manuais de medicina, mas também uma influenciação de natureza espiritual.
Aplica-se à dependência química o que Herculano Pires e outros autores, como André Luiz e Cornélio Pires, escreveram a respeito do alcoolismo. O alcoólatra não consome sozinho, como pensa, o álcool que o destruirá. No uso das drogas ilícitas dá-se o mesmo. O vampirismo espiritual é um fato conhecido e esmiuçado pelos estudiosos do Espiritismo.
É preciso, pois, tratar os dependentes químicos da mesma forma como procuramos tratar os enfermos em geral, associando, porém, nesse tratamento, aos medicamentos convencionais, a chamada medicina espiritual, conjugada com os recursos educativos.
Emmanuel escreveu certa vez que somente a educação conseguirá mudar a face do mundo em que vivemos. É por isso que existe a infância, esse período indispensável à reeducação dos seres que, tendo já vivido por aqui, estão de volta ao cenário terrestre.
Do outro lado estão os que vivem do tráfico e o entendem como um negócio, embora tenham consciência de que se trata de uma atividade ilegal que, além de ilegal, causa prejuízos reais à saúde e à vida das pessoas.
Muitos entendem, ingenuamente, que a liberação das drogas acabaria com o tráfico e, por extensão, com a violência a ele associada.
Ocorre que liberar o comércio das drogas ilícitas seria o mesmo que eliminar a vigilância das autoridades sanitárias com relação aos medicamentos. Ora, quando um remédio é vendido numa farmácia, todos esperamos que sua composição e seus efeitos sejam do conhecimento da autoridade que o liberou. Se ele for nocivo à saúde, certamente não obterá permissão para ser oferecido à população.
Ora, os efeitos danosos das drogas ilícitas são por demais conhecidos, e é por isso, precisamente por isso, que não podem ser comercializadas.
Faz-se necessária, portanto, quanto aos que se valem do tráfico, a necessária repressão. Eles não podem prevalecer-se da fragilidade dos que lutam contra a dependência química para fazer disso uma fonte de renda, fonte essa condenável sob todos os aspectos pelos quais se considere a questão.
No tocante à educação, lembremos que a verdadeira educação tem por fim levar o indivíduo à perfeição; mas essa caminhada rumo à perfeição requer o concurso daquilo que Emmanuel chamou de duas asas: o sentimento e a sabedoria.
Escreveu Emmanuel:

“O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita. No círculo acanhado do orbe terrestre, ambos são classificados como adiantamento moral e adiantamento intelectual, mas, como estamos examinando os valores propriamente do mundo, em particular, devemos reconhecer que ambos são imprescindíveis ao progresso, sendo justo, porém, considerar a superioridade do primeiro sobre o segundo, porquanto a parte intelectual sem a moral pode oferecer numerosas perspectivas de queda, na repetição das experiências, enquanto que o avanço moral jamais será excessivo, representando o núcleo mais importante das energias evolutivas”. (O Consolador, questão n. 204.)

A educação assim considerada nos ensinará a conviver com o próximo, aceitando-o tal qual é, com seus defeitos e imperfeições, sem a pretensão de corrigi-lo, porque o verdadeiro cristão inspira seu semelhante com bondade para que ele mesmo desperte e mude de conduta de moto próprio.
Diz Joanna de Ângelis que, ao descer das regiões felizes ao vale das aflições para nos ajudar, Jesus mostrou-nos como devem agir os que se dizem cristãos. E evocando o exemplo do Cristo, a mentora de Divaldo P. Franco recomenda:

“Atesta a tua confiança no Senhor e a excelência da tua fé mediante a convivência com os irmãos mais inditosos que tu mesmo.
Sê-lhes a lâmpada acesa a clarificar-lhes a marcha.
Nada esperes dos outros. Sê tu quem ajuda, desculpa, compreende. Se eles te enganam ou te traem, se te censuram ou te exigem o que te não dão, ama-os mais, sofre-os mais, porquanto são mais carecentes de socorro e amor do que supões.
Se conseguires conviver pacificamente com os amigos difíceis e fazê-los companheiros, terás logrado êxito, porquanto Jesus em teu coração estará sempre refletido no trato, no intercâmbio social com os que te buscam e com os quais ascendes na direção de Deus.” (Leis Morais da Vida, cap. 31)

Se os que tentam livrar-se da dependência química tiverem o apoio citado por Joanna, em lugar da condenação e do desprezo alheio, é evidente que poderão, sim, reerguer-se e voltar a ter uma vida normal, do que existem inúmeros exemplos na sociedade terrena.



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